COMUNICAÇÃO

Com oportunidade aberta pelo Projeto Cidadão Aprendiz, jovens vulneráveis voltam a “sonhar”

29/01/2020 16:44 | Por Júlio Reis - DRT/BA 3352

Projeto é um iniciativa que une esforços da Defensoria Pública da Bahia e várias instituições

Depois de ter abandonado sua casa por sofrer de maus tratos psicológicos e físicos e há dois anos vivendo na instituição de acolhimento Lar Pérola de Cristo no Subúrbio Ferroviário de Salvador, o jovem Daniel Romão*, de 17 anos, diz que voltou a sonhar.

Ele é um dos 30 jovens que integram o projeto Cidadão Aprendiz da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA em parceria com outras entidades. A iniciativa busca ofertar oportunidades de inclusão social para adolescentes em situação de vulnerabilidade.

O projeto oferece uma bolsa de estágio por dois anos para jovens neste perfil entre 14 a 21 anos. Neste período os seis primeiros meses são preenchidos por um curso de formação teórica oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – Senai, parceiro do projeto, e a partir daí os jovens atuam diretamente com atividades para as quais foram capacitados.

“Não tenho quem me ajude quando completar 18 anos e terei que deixar o abrigo quando isso ocorrer. Há um tempo atrás não me via aqui, achava que minha vida iria ser na rua. Hoje tenho um sonho que antes nem sabia que podia ter, e estou sonhando alto mesmo. Me sinto muito agradecido porque é uma oportunidade que está me ajudando bastante. Tinha um temperamento muito estourado, desde então venho aprendendo que a gente não precisa ser melhor amigo dos outros, mas precisa respeitar as pessoas em qualquer ambiente”, diz Daniel.

Com mais outros 29 colegas de turma, Daniel participava na tarde desta terça-feira, 28, de uma atividade que justamente buscava desenvolver a empatia necessária para o trabalho em equipe. Convidada pela Defensoria para tratar do tema, a bacharel em psicologia Hannah Lima apresentou uma dinâmica para fazer os jovens pensarem e debaterem a importância do respeito e da escuta.

“Conseguimos provocar a reflexão de como é estar no lugar do outro, de modo que puderam pensar sobre como as ações, que eles muitas vezes tomam no calor do momento, podem impactar nas emoções dos demais, seja um professor, um coordenador de trabalho, ou os próprios colegas. A ideia é melhorar a atenção, o trabalho conjunto e que os relacionamentos se desenvolvam de modo mais tranquilo, sem conflitos”, diz Hannah Lima.

A assistente social e servidora da Especializada dos Direitos da Criança e do Adolescente da Defensoria, Taiane Gomes, explica que além de selecionar os jovens participantes, muitos dos quais virão a ser estagiários da própria Instituição, a DPE/BA também monitora a fase de formação. Ela destaca que o caráter promotor de autonomia também é muito importante.

“É a primeira experiência profissional que estes jovens têm acesso, a partir deste contrato de aprendizagem. Muitos deles, os que estão para completar 18 anos, terão que deixar a casa de acolhimento e vão ter que viver sua própria vida, sem ter o amparo desses espaços ou da família. Isso contribui com a questão da autonomia e da autossustentação que é fundamental”, diz Taiane Gomes.

Para Clara Jasmin*, 14 anos, que desde bebê foi criada no Lar Irmã Benedita, o que está vivendo será inesquecível. “Estou muito feliz com poder participar deste projeto e deste curso. É a primeira oportunidade que consegui na vida. Tenho certeza que não vou desistir até porque estou me sentindo muito bem acolhida aqui. Virão outros trabalhos no futuro, mas esse será meu primeiro trabalho e nunca vou esquecer disso”, diz sorridente.

Cidadão Aprendiz
A Defensoria Pública do Estado da Bahia, juntamente com o Ministério Público Estadual, a Superintendência Regional do Trabalho na Bahia, o Ministério Público do Trabalho, a Procuradoria Regional do Trabalho da 5ª Região, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI/DR/BA, a Fundação da Criança e do Adolescente, a Fundação Cidade Mãe e o Município de Salvador, por meio das Secretarias de Educação, Saúde e Promoção Social e Combate à Pobreza, realizam o projeto Cidadão Aprendiz.

A iniciativa busca desenvolver ações que contribuam para a de formação teórica e prática para a profissionalização de jovens em diversas situações de vulnerabilidades e, se necessário, dos seus familiares, nos termos da Lei da Aprendizagem n° 10.097/2000, do Decreto Federal nº 9.579/2018, bem como o disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, que, em seus artigos 61 a 63º, estabelece o direito à profissionalização e a proteção ao trabalho dos adolescentes.

*nome fictício para preservar a identidade