COMUNICAÇÃO

CORONAVÍRUS – Live da Defensoria aborda as consequências da pandemia na vida das mulheres

11/05/2020 19:04 | Por Leilane Teixeira - estagiária, sob supervisão de Arthur Franco

Diálogo contou com presença de servidoras do Núcleo de Defesa das Mulheres da Defensoria baiana

É perceptível que a chegada do coronavírus tem trazido inúmeras mudanças na vida de todos, no entanto uma situação chama ainda mais atenção: “o abalo sentido pelos grupos mais vulneráveis, especialmente as mulheres, será maior, mais profundo, mais complexo e certamente mais duradouro”, conforme afirma as organizações Think Olga e Think Eva em relatório produzido sobre os principais impactos da crise gerada pela Covid-19 na vida das mulheres.

Para aprofundar as discussões em torno desse tema, a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, por meio do seu projeto #LiveDPEBahia no Instagram, convidou a assistente social Deise Cruz e a psicóloga Vanina Cruz, ambas servidoras e atuantes do Núcleo de Defesa das Mulheres (Nudem), grupo que faz parte da Especializada de Direitos Humanos da instituição. Entre os assuntos conversados estiveram problemas centrais, como saúde, trabalho e violência.

O bate-papo deu início com assistente social Deise Cruz, que falou sobre a importância de políticas públicas para mulheres nessa pandemia, enfatizando que a desigualdade de gênero na nossa sociedade é demarcada por uma questão estrutural e histórica que se intensifica no momento atual, além de comentar sobre o quadro epidemiológico atual, em que a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) aponta que mais de 56% das pessoas infectadas na Bahia com o novo coronavírus são do sexo feminino.

“As estatísticas baianas, brasileiras e a nível mundial, elas nos apontam que as mulheres estão nos espaços de maior vulnerabilidade de risco social nesse tempo da Covid-19. A gente pode lembrar também que são muitas delas que estão em linha de frente nos serviços sociais de saúde e enfrentamento a pandemia ou então em situação de vulnerabilidade social, já que são muitas mulheres atuam também no contexto informal, logo, demandam mais da necessidade de subsistência e articulações de políticas públicas”, apontou a assistente social.

Deise comentou ainda sobre violência doméstica e a demarcação racial como fator contribuinte para intensificação da vulnerabilidade social.  “Por essas e outras questões, é de extrema necessidade que as políticas públicas estejam fortalecidas e articuladas, sobretudo no momento atual”. Ela explicou ainda que as políticas essencialmente necessárias nesse momento são as advindas de assistência social, “que são conhecidas como políticas de promoção social e os acessos são feitos diretamente através dos CRAS e CREAS”, concluiu.

Atuação do Nudem

O Núcleo de Defesa das Mulheres já atua no processo de enfrentamento e ascensão das mulheres. No período de pandemia vem realizando os serviços de forma remota e intensificada. Deise informou que, além dos canais comuns de contato com a Defensoria, também são realizados atendimentos via chat do facebook da instituição, no qual é ofertado o atendimento psicossocial e logo após as demandas são encaminhadas para o atendimento jurídico para que sejam efetivadas as ações necessárias, como medidas de proteção e afins.

“Fazemos todo acompanhamento psicossocial do caso porque compreendemos a importância de que, além das ações imediatas jurídicas do atendimento, essa mulher tenha seus vínculos psicossociais fortalecidos. Fazemos também a articulação com as redes próximas que ela está inserida”, concluiu.

Saúde mental

Em um cenário de instabilidade econômica, social e política, é comum haver crises de ansiedade e pânico com as incertezas do futuro. Com o isolamento social, mulheres passam a enfrentar uma série de mudanças que impactam diretamente em seu equilíbrio emocional.

A psicológica e segunda convidada da live, Vanina Cruz, trouxe à tona o assunto sobre a saúde mental e falou das diversas facetas da violência. Ela explica que “nós somos violentadas de diversas formas. A violência não é apenas a física, mas há também as violências simbólicas, como a sobrecarga com as tarefas domésticas, cuidados com filhos e parentes, conciliação do trabalho, o risco iminente de desemprego, falta de recursos financeiros para sustentar a família, entre outras questões quem incluem, também, a própria violência física”, explicou a psicóloga.

Segundo Vanina, a pandemia potencializa todos estes sentimentos, coloca as mulheres em situação de solidão, desespero e falta de perspectiva, e isso se torna perceptível nos atendimentos prestados aos assistidos que procuram a Defensoria por meio do Nudem. “Em vários momentos a gente vai percebendo a diferença em como as mulheres nos procuram e como estão sendo afetadas nesse momento de isolamento social. Elas demonstram um maior medo, uma maior ansiedade e muitas vezes a falta de esperança. Por isso é importante mantermos essa rede de fortalecimentos para que a gente possa se ajudar de alguma forma”, concluiu.