COMUNICAÇÃO

Seminário traz relatos de vida e atuação de movimentos sociais em prol de moradores de rua

18/10/2011 16:51 | Por

No início da tarde da segunda-feira (17), o Seminário Defensoria Pública e População em Situação de Rua trouxe a pesquisadora, Renata Veras, coordenadora do Núcleo de Pesquisa do Instituto Humanidades de Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia, e o representante do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Carlos Alberto Ricardo Jr. Para abordar a temática Conhecendo a população em situação de rua: contextualização sociodemográfica e econômica. Pesquisas foram apresentadas pelos especialistas tratando do perfil e da situação em que hoje se encontram cerca de quatro mil homens, mulheres e crianças que vivem nas ruas da cidade. Ainda no Painel III, coordenadores do Movimento Social organizado em proteção desta população, em nível nacional, regional e estadual, abordaram suas atuações junto ao governo e a sociedade civil.

"Não estamos aqui de joelhos, diante de vocês implorando nada, mas exigindo o que é nosso por direito. Temos direito a uma situação digna, a saúde, ao trabalho. Somos o que a sociedade descarta e rejeita, se envergonha. O que tem nas ruas? Pessoas com deficiência, idosos, dependentes químicos, desempregados, mulheres vitimas de violência doméstica, com transtorno mental, egressos desse sistema penitenciário falido e crianças e adolescentes que os Conselhos não conseguem dar conta".

O depoimento da coordenadora regional (Nordeste) do Movimento da População em Situação de Rua, Maria Lúcia Barbosa, emocionou muitos dos presentes no Seminário. Lúcia relatou sua trajetória de vida ao falar da atuação do Movimento em Salvador e como tem se organizado nos últimos anos. "Nosso Movimento é voltado para a inclusão da população de rua nas políticas públicas. Queremos acesso à saúde, segurança, trabalho. Somos seres humanos e as ruas acolhem o que a sociedade rejeita. São pessoas que ainda assim continuam sobrevivendo. Ninguém está na rua por vontade própria e esperamos apenas que as portas estejam abertas. Este é o objetivo deste movimento", frisou Lúcia Soares.

O representante do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Carlos Alberto Ricardo Jr. trouxe dados assertivos quanto ao perfil desta população. Pesquisa realizada no centro de Salvador, abrangendo o Comércio, Baixa dos Sapateiros e o Centro Histórico, revela que 57% destas pessoas são negras, em sua maioria de homens e que, contrariando o mito da motivação de estarem nas ruas pelo uso do álcool e de outras drogas, mais de 50% estão em situação de rua por conta de brigas familiares e mais de 60% tem filhos. "É preciso pensar em estratégias e metodologias específicas para trazer essas pessoas até os nossos programas, pois a grande dificuldade é que elas acessem essas ações. O Bolsa Família, por exemplo, é acessado somente por 2,2% dessa população, em Salvador, em sua grande parte porque falta documento, endereço, e também por não acreditarem na eficácia do atendimento", pontuou.

Para o coordenador nacional do Movimento da População em Situação de Rua, Anderson Lopes Miranda, uma política pública deve ser feita da sociedade para o governo. "Deve ser respeitada a questão de gênero do indivíduo e a necessidade de cada um, que é diferente. Quando se traz uma visibilidade dessa população, o preconceito é maior. Precisamos que os nossos defensores rompam com a segurança das casas de acesso, pois às vezes não conseguimos entrar por conta do preconceito, já que muitos estão sem vestimentas adequadas", disse Anderson Lopes.

Esta é a realidade enfrentada, por exemplo, por Marcos Alves dos Santos (40), que tem dois filhos e está nas ruas há três anos, quando uma enchente destruiu seu lar, em uma comunidade no centro da cidade. "O que mais quero é conseguir um trabalho pra resgatar minha família. Estar aqui nesse evento me dá esperança de saber onde posso buscar ajuda. Morar na rua é muito cruel e o pior de tudo é a violência. Recebemos pedradas, somos acordados com jatos de água e ninguém nos respeita, não entende porque estamos lá", relatou Marcos Alves.