COMUNICAÇÃO

Especializada promove 3º Seminário do Projeto Dialogando com os Conselhos Tutelares

08/09/2014 16:17 | Por

A Defensoria Pública da Bahia realizou na tarde da última quinta-feira, 28, o 3º seminário do Projeto Dialogando com os Conselhos Tutelares. Promovido pela Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, a iniciativa é tida como mais um instrumento que fomenta a capacitação dos conselheiros e gestores de instituições de acolhimento, a fim de reforçar a articulação da rede de proteção aos direitos da infância e juventude na Bahia.

Durante o evento foram realizados dois painéis. O primeiro, "Sensibilização", contou com as participações de Antônio Nery Filho, fundador do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas - CETAD; Alessandra Tranquilli, psicóloga do Núcleo de Clínicas do CETAD; e George Hamilton Gusmão Soares, médico psiquiatra do Núcleo de Clínicas e coordenador geral do CETAD.

O segundo painel, "Conhecendo a Rede de Saúde", recebeu a coordenadora da Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e outras drogas, Teresa Paula Costa.

O CETAD é um centro de referência criado em 1985 e promove ações que contemplem a atenção aos usuários de substâncias psicoativas (SPAs) e seus familiares, a prevenção e redução de riscos e danos, o estudo, a pesquisa e o ensino.

O diálogo começou com as falas da defensora pública Mariana Tourinho Rosa, subcoordenadora da Especializada da Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, e da defensora Gisele Aguiar. Na oportunidade, a subcoordenadora aproveitou para destacar o projeto. "Nossa proposta, que é de levar informação a esses representantes, se ampliou muito desde o primeiro seminário. Com essa capacitação eles podem conhecer mais da rede de apoio às crianças", explicou.

Alessandra Tranquilli começou a comunicação reforçando a necessidade de mais serviços. Para a psicóloga, que explanou sobre "Os usuários de drogas e a Rede de Atenção Psicossocial", deve existir um círculo de cuidados com a criança e o adolescente, como se fosse uma roda viva. "Precisamos de uma rede perfeita para poder dar continuidade a um trabalho que possa surtir efeito no presente e futuro. Não podemos atuar só no emergencial", conta Tranquilli, que apontou também as estratégias de vinculação aos adolescentes como um método favorável de assistência.

O segundo diálogo abordou os "Modos de uso e usuários de psicoativos na atualidade", com a fala do fundador do CETAD, Antônio Nery Filho. O professor tentou buscar na Pré-História o porquê de os humanos usarem drogas.

"No início, falar e pensar não foi algo rápido, em um tempo lógico. Só após um tempo o humano reconhece o nascer e morrer, a linha de vida. E, com essa descoberta, ao enxergar o mundo com olhos diferentes, ele tende a tentar suportar o suportável".

Nery acrescenta: "foi com a ingestão de determinado líquido onde haviam frutos fermentados que os homens pré-históricos conheceram um produto químico capaz de mudar a visão do mundo".

Tal regresso, no ponto de vista do professor, serve para ilustrar que as crianças e adolescentes entram nesse mundo para ter uma solução para os sofrimentos, que podem ser desde abuso, abandono ou violência. "A droga é vista como uma possibilidade. Não é a cocaína que cheira, o álcool que bebe. O humano se move ao produto".

Ainda de acordo com Nery, o ideal é enxergar a pessoa, e não a droga. "Ela é um produto de sofrimento, mas é no humano que devemos focar e assim mudar nosso olhar. Temos que trabalhar todo um plano terapêutico, que foque no agora e no depois", conclui.

Na terceira palestra, George Hamilton Gusmão Soares explicou sobre as "Intervenções Psiquiátricas na Clínica das Toxicomanias". Para o médico, há no mínimo três critérios que identificam um dependente, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Dentre eles, o desejo forte ou a compulsão, a dificuldade em controlar o consumo e a evidência de tolerância. Conforme Soares, quando ingerida, a substância causa uma "pane química" no cérebro.

É a privação na existência que determina a relação do jovem com as drogas. "Temos uma lógica no mercado de que tudo deve ser imediato. O uso da droga então entra nesta disputa como um assistente de recompensa", afirma.

Para ele, proibir as drogas não resolve. "Com a legalização, seria possível uma aproximação com o uso normal. O narcotráfico também iria sumir, e acabar com esse comércio ilegal. Mas é legalizar, não liberar geral", reforça.

O segundo e último painel serviu para destacar os serviços da Rede de Atenção que, segundo Teresa Paula Costa, é ineficaz. "Temos que tornar muitas coisas realidades, a princípio com os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Temos que inovar nas metodologias, atentando às urgências e emergências, à atenção básica em saúde, reabilitação psicossocial entre outros aspectos", explanou.

Mara Alves, conselheira no Conselho 17, na Boca do Rio, diz que o 3º seminário do projeto só acrescentou em sua experiência. "Temos mais acesso às informações abrangentes do nosso meio, servindo como uma verdadeira porta de entrada de conhecimento. Desses encontros saem pareceres importantes para nós", conclui.