COMUNICAÇÃO

ALAGOINHAS – Atividades de grupo reflexivo para homens com registro de violência contra mulheres são retomadas

29/04/2021 9:55 | Por Júlio Reis - DRT/BA 3352 | Foto: Robinson Estrásulas / Agencia RBS

Homens que integram o projeto participam voluntariamente e demonstram interesse em repensar comportamentos da masculinidade tóxica

Apesar de se considerar uma pessoa calma, Carlos Alberto, 55, cometeu um ato de violência doméstica depois de se exaltar numa discussão. Na ocasião, ele empurrou a porta contra a esposa que acabou atingida no rosto. Com a denúncia da companheira, passou cerca de seis meses distante dela após medidas protetivas que foram tomadas neste sentido.

Para repensar seus comportamentos e construir mudanças de atitude, ele é um dos oito homens que voluntariamente participam da retomada das atividades do Grupo Reflexivo para homens da Defensoria Pública do Estado da Bahia na cidade de Alagoinhas. O Grupo tem como objetivo prevenir ciclos de violências por meio da reflexão sobre a masculinidade tóxica com que se formaram.

“É um aprendizado para a vida. Para nos ajudar a não errar mais. Os profissionais do grupo nos ajudam com muitas informações e, além disso, ouvindo os depoimentos dos outros homens, muitos dos quais passaram por experiências mais difíceis, vou aprendendo mais sobre meu próprio autocontrole”, diz Carlos Alberto.

Colaborador convidado pela Defensoria para tomar parte nas atividades do Grupo, o psicólogo Natan Reis, que estuda o tema da masculinidade, destaca que uma das características que marcam o perfil dos homens com histórico destes atos de agressões é ausência de educação emocional e o machismo que impregna o ambiente em que cresceram.

“Eles partilham suas histórias no grupo e isso se torna um mecanismo pedagógico. Colabora com a quebra de silêncio cultural entre os homens, que não falam sobre sofrimentos e vulnerabilidades.  O grupo abre um espaço de não julgamento, de comunicação franca e não violenta, estimulando a auto-observação e considerações para vias de transformação”, explica Natan Reis.

Retomada das atividades

Defensora pública com atuação perante à 2ª Vara Criminal de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e Execução de Medidas Protetivas de Urgência de Alagoinhas, Jamara Saldanha explica que a rede de proteção a mulher fortalecida, no município, conta também com a Delegacia e Centro de Assistência para elas. Por outro lado, nenhuma rede oferecia suporte para processos de conscientização dos homens sobre a masculinidade tóxica.

Com a maior parte dos homens na faixa dos 30 a 50 anos e respondendo por processos deste tipo, mas sem histórico de outras violências, o projeto do Grupo Reflexivo para Homens era presencial e contava com mais de 30 homens participando das dinâmicas e rodas de conversa.

Com a pandemia da covid-19, o projeto esteve suspenso em razão das medidas sanitárias de isolamento. Com ótimos resultados com os homens que participaram do primeiro momento do projeto, entre 2019/2020, não voltando a reincidir, a comunidade vinha demandando o retorno das atividades do Grupo e a primeira reunião de retomada ocorreu no dia 22 de abril por meios virtuais.

“A atuação da Defensoria não visa apenas atender no processo criminal nos crimes de violência doméstica. A sanção criminal não é suficiente. É preciso ofertar a estes homens educação em direitos como forma de conscientizá-los sobre masculinidade tóxica,  mostrando aos mesmos os impactos de suas ações na vida das mulheres, de suas famílias e na sociedade que está inserido, pontuando a importância da responsabilização. É preciso conscientizar para evitar a reincidência. Há que se dar todo o suporte para as mulheres, sem deixar de lado a atenção aos homens, pois assim o resultado é mais produtivo”, avaliou Jamara Saldanha.

A defensora pública Nathalia Castelucchi, aponta que o grupo reflexivo para homens mostra-se uma solução educativa multidisciplinar que contempla os três eixos do enfrentamento à violência doméstica e familiar previstos na Lei Maria da Penha: proteção à vítima, prevenção à violência e responsabilização dos autores.

“A resposta punitiva à conduta dos autores de violência tem se mostrado insuficiente. É necessária uma política que intervenha no conflito e levem em consideração as várias intersecções que englobam as respostas a este grave problema. É um projeto bastante promissor e que já mostrou bons resultados em outros locais em que foi implementado”, observa Nathalia Castelucchi.

Na retomada das atividades participaram ainda das conversas o defensor público e coordenador da 13ª Regional da DPE/BA com sede na cidade, Danilo Rodrigues, a defensora pública Renata Gomes e o servidor e assistente social, Antonio Dantas que mediou todo o encontro. Todos os homens do Grupo receberão certificado de participação nas atividades que serão anexados aos processos criminais que respondem para posterior análise da Justiça.