COMUNICAÇÃO

Assistido em situação de rua sonha em concluir faculdade de Letras

31/10/2016 18:45 | Por Luciana Costa - DRT 4091/BA (texto e fotos)
O curso está com mensalidades atrasadas devido a dificuldades financeiras

A Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, através da Equipe Pop Rua, trabalha no resgate da cidadania e na garantia de direitos das pessoas em situação de rua e já atendeu mais de 11 mil pessoas nos 3 anos de atividade do Grupo. Entre elas, Gracivaldo Emanuel Santos Neves ou Val como é popularmente conhecido, 45 anos, um homem sorridente, mas de olhar triste. Natural de Salvador, pai de três filhos – de 26, 24 e 11 anos -, atualmente ganha a vida vendendo doces e canetas nos transportes públicos da cidade. Seria só mais uma história entre milhares se Val não tivesse visto sua vida se transformar completamente devido ao vício das drogas, perder tudo o que tinha e ir parar em situação de rua. Hoje, ele sonha em dar continuidade ao curso de Letras em uma instituição de ensino superior particular.

A defensora pública Fabiana Miranda, coordenadora da Equipe Pop Rua da Especializada de Direitos Humanos da DPE/BA, o conheceu através do atendimento e ficou comovida com o caso. "Surpreendeu-me o fato dele estar cursando graduação em Letras e ainda estar em situação de rua, em uma unidade de acolhimento", disse a defensora pública, avaliando que uma pessoa que está assim determinada a sair da situação de rua e que está fazendo um curso universitário, com todas as dificuldades que nem pode imaginar, deve ser apoiada por toda a rede de atenção à população de rua e por todos que ainda acreditam no ser humano.

O primeiro contato de Val com a cocaína aconteceu aos 12 anos e aos 26 conheceu o crack. "Foi a mesma coisa que montar em uma bicicleta sem freio e descer uma ladeira, sabendo que no sentido contrário vinha uma carreta", alertou. Por conta da compulsividade da droga gastou tudo que tinha, perdeu o emprego de bancário e acabou respondendo 14 processos na vara criminal.

Durante o tempo em que cumpria pena, escreveu a obra Verdades de um Mentiroso que reúne textos de diferentes momentos da sua vida: "Sempre gostei de escrever e quando estava preso por conta do sistema prisional ser muito ruim no Brasil, era uma forma de poder matar a ociosidade e viajar nos pensamentos". Ele credita o apoio recebido pela professora Ângela Sena, que conheceu no sistema prisional, fundamental para que concluísse a obra e desistisse da ideia de acabar com a própria vida devido ao sofrimento que passava.

Para Gracivaldo, a difusão da sua história pode ajudar outras pessoas que vivem a mesma situação que ele passou, mostrando que conseguirão dar uma reviravolta na vida. "Eu tinha uma frustração por não ter nível superior. Minha mãe, em uma das visitas que fez ao presídio, comentou comigo que tinha investido tanto em mim e eu não tinha ido pra frente. Minha família toda tem nível superior: mãe, irmãos, primos…e eu paro para pensar que poderia ter tido tudo isso", desabafou.

Cheio de sonhos, Gracivaldo ainda deseja um dia ter uma casa própria para morar com a esposa e a filha caçula que estão a 915 km de Salvador, na cidade de Prado. Atualmente, ele se encontra na Associação Pleno Cidadão – ASPEC.