A última edição do Cinedebate foi marcada pela intergeracionalidade dentro e fora das telas. No filme “Um Senhor Estagiário”, a história se desenrola a partir da diferença de idade entre os protagonistas quando Ben Whittaker (Robert De Niro), viúvo de 70 anos, busca reinserção no mercado de trabalho e consegue um estágio em uma loja online de moda, chefiada pela jovem Jules Ostin (Anne Hathaway). Já no bate-papo após a exibição do longa, em Salvador, foi destaque a troca intergeracional de conhecimentos entre o público formado majoritariamente por estagiários(as) de nível médio da DPE/BA e idosos(as) de centros de convivência.

O tema da vez foi em alusão ao Dia Internacional da Pessoa Idosa, comemorado em 1º de outubro. Segundo a coordenadora da Especializada da Pessoa Idosa, Laise de Carvalho, a atividade contribui para a formação de uma visão de mundo mais equilibrada e respeitosa sobre o processo de envelhecer. “Para a Defensoria Pública, no seu papel de promoção do acesso à justiça, nada melhor do que promover uma construção social da velhice livre de estigmas do idadismo”, declarou.

A coordenadora mediou a roda de conversa em Salvador, na Sala Walter da Silveira, na última sexta-feira (27), que contou com a participação da assistente social Maria Salete da Silva e do professor Marcus Vinicius Oliveira. A debatedora, que trabalha na área de saúde do(a) idoso(a) da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), aproveitou a oportunidade para chamar atenção para os diferentes tipos de velhice no intuito de desmistificar a homogeneidade dessa fase da vida.

“Por que para uns é de um jeito e para outros não? Porque a gente vive em um sistema capitalista onde quem move tudo é o dinheiro. Com a velhice, não é diferente”, refletiu, destacando especialmente a questão racial, que impede que muitas pessoas negras sequer cheguem à terceira idade em razão da violência a que são acometidas.

O debatedor, por sua vez, ressaltou o desconhecimento a respeito desse tipo de preconceito. “Todo mundo sabe o que é racismo, todo mundo sabe que é machismo, mas pouca gente pensa em um preconceito que seja relacionado à idade”, ponderou o membro do Grupo de Estudos da Linguagem no Envelhecimento e nas Patologias (Gelep). Ele também afirmou que esse tipo de discriminação não está desassociada das demais: “Uma pessoa que é negra e que é idosa, ela não vai sofrer preconceitos separados. Esses preconceitos se articulam”.

Sobre o valor dado ao trabalho na sociedade contemporânea, um dos focos do filme, a estagiária da Defensoria, Isabele Muniz, trouxe uma problematização a partir de um ensinamento de Ailton Krenak, escritor e liderança indígena. “Ailton Krenak vai dizer que as pessoas são valorizadas com base no que elas produzem. Então, caso o idoso não possa mais produzir, qual a valorização ele vai ter?”, questionou a adolescente.

Já Anete Santana, também estagiária da DPE/BA, comparou sua experiência aos 58 anos com aquela vivenciada pelo protagonista do longa. “O filme traz algo muito interessante que é o querer aprender. Ele já é aposentado, uma pessoa bastante experiente, mas ele quer sempre aprender mais. E eu sou desse tipo. Então, eu me identifico muito com isso e digo aos jovens: vão à luta, estudem”, declarou a estudante de nível técnico que, após anos afastada do mercado de trabalho para cuidar da filha, resgatou os estudos e a vida profissional.

Além delas, participaram do debate pessoa idosas do Centro Social Urbano da Liberdade e do Grupo de Idosos(as) da Guarda Municipal de Salvador. Na ocasião, também foram entregues as cartilhas da pessoa idosa e a relacionada ao combate ao idadismo, como forma de conscientização e educação em direitos.

NO INTERIOR

Além da capital baiana, Simões Filho, Barreiras, Guanambi e Teixeira de Freitas também apresentaram o filme e promoveram o debate na última sexta-feira (27). Confira as fotos na galeria abaixo: