COMUNICAÇÃO
Colegas de carreira prestam homenagem ao “Maior Tribuno do Júri”
Raul Palmeira deixou sua marca na assistência jurídica aos mais vulneráveis no Tribunal do Júri, onde atuou por 20 anos e acumulou mais de mil participações em júris.
A Defensoria Pública da Bahia-DPE/BA amanheceu de luto nesta quarta-feira, 15, devido à perda do defensor público Raul Palmeira, que dedicou mais de 30 anos de vida à prestação de assistência jurídica aos mais vulneráveis. Integrante da última classe da carreira, Raul deixou sua marca na DPE/BA pelas mais de mil atuações na vara do júri, que lhe renderam o título de “Maior Tribuno do Júri”.
Raul Palmeira era muito querido e admirado entre os colegas, com quem nutria uma forte relação de cooperação mútua. A notícia do falecimento pegou a todos de surpresa, mas mesmo diante da consternação e imobilidade do luto, não faltaram esforços para homenagear in memoriam aquele que foi formador e referência para muitos integrantes da carreira.
O defensor público geral, Rafson Ximenes, em texto publicado nas redes sociais, destacou a riqueza cultural do colega e sutileza na análise dos processos. “Conhecia medicina legal, conhecia as nuances processuais, conhecia a literatura, conhecia a história, conhecia a alma humana, estudou teatro. Sabia identificar nos processos de centenas de páginas aquela linha onde estava a informação ou a omissão que convenceria os jurados”, escreveu Ximenes.
Na mesma publicação, ele revelou que a criação do Júri Simulado se deu a partir de uma tentativa de suprir a lacuna que se criou em Raul depois que foi promovido à última classe da carreira e deixou de atuar no Tribunal do Júri. “Quando fui alertado desse incômodo que Raul sentia, pensei em um esboço de projeto de júris simulados de personagens e fatos históricos. Algo que fosse cativante para o público, mas trouxesse à tona reflexões sobre direito de defesa, estratégias jurídicas e sobre a história popular”, relatou.
A subdefensora geral, Firmiane Venâncio, definiu o amigo e colega de trabalho como “um defensor público superlativo” e ressaltou o caráter colaborativo do “Maior Tribuno do Júri”. “Tudo nele era intenso, tudo nele era de extrema dedicação e zelo. Fica um exemplo de fato de um mestre, daquele que soube conduzir muitos de nós no começo da carreira, que não teve medo e nem se esquivou de compartilhar o conhecimento que tinha e de fazer com que os outros brilhassem tanto quanto ele brilhava. É essa capacidade que fica como marca para todos nós”, afirmou.
Colega de trabalho e amigo pessoal de Palmeira, o diretor da Escola Superior da Defensoria (ESDEP), Clériston de Macêdo, afirmou ter sido “uma perda irreparável não só para a Defensoria e seus membros, mas, sobretudo, para os assistidos que ele defendeu tão bem juridicamente”, lamentou. Macedo sinalizou ainda que Raul foi referência para todas as gerações de defensores(as) públicos(as) em todo o país.
“Ele se dedicou muito para que o escritório da Defensoria Pública em Brasília fosse inaugurado. Acredito que esse tenha sido o coroamento da carreira que ele fez na Defensoria Pública da Bahia. De toda a dedicação que deu à instituição, fazê-la chegar ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal, certamente foi o momento de realização pessoal que ele cumpriu com muita dedicação”, ressaltou Macedo.
Ao relembrar sua relação com Raul, a defensora pública Soraia Ramos Lima afirmou que seu primeiro contato com ele se deu quando ainda era estudante do curso de Direito e estagiou na DPE/BA. Mesmo depois de ter ingressado na instituição, ela mantinha guardada as petições que tinha do então colega. Para Soraia, o momento da carreira profissional mais marcante que viveu com Palmeira aconteceu quando o substituiu no Tribunal do Júri e se tornou a primeira mulher a fazer uma defesa na vara.
“Aquilo me deu um medo, quase desespero, porque ia substituir o ‘Maior Tribuno do Júri’. Mas ele ficou do meu lado o tempo todo, me apoiou neste momento que foi muito importante para mim e me auxiliou em muitas outras coisas. Eu tinha conhecimento teórico, mas não prático. Ele foi um dos meus formadores como defensora pública na área do júri e criminal, como um todo”, lembrou a defensora pública.
Por meio das redes sociais, a corregedora-geral da DPE/BA, Liliana Cavalcante, externalizou a dor da perda do amigo e colega de trabalho. “Partiu deixando uma tristeza imensa no meu coração! Meu amigo Raul Palmeira, Dr. RAUL PALMEIRA, o Grande Tribuno da Defensoria Pública da Bahia, o mestre de uma geração, o melhor! E por este exemplo de profissional e colega, ele deve ser muito, muito homenageado! Ele era o melhor!”, salientou.
“Andar ao lado do mestre Raul pelo Fórum Criminal era um orgulho danado. Todos faziam questão de falar com ele”, escreveu o colega de atuação no júri, Maurício Saporito, defensor público que coordena a Área Penal do Núcleo de Integração.
Também através das redes, o defensor público e coordenador da Especializada Criminal e de Execução Penal, Pedro Casali, se manifestou. “Perdemos um homem de princípios, grande colega, uma expressão jurídica potente, referência histórica e um crítico da nossa realidade. Fará muitíssima falta. Parece que 2020 não acaba”, publicou o defensor público.
“Perdemos um grande defensor público, um enorme ser humano, um talento que abrilhantava ainda mais a sua carreira com incomparável oratória, sobretudo nos mais de mil júris que participou. Uma lenda do júri, respeitadíssimo em toda a Bahia e no Brasil, não apenas na Defensoria, mas também fora dela. Um ser humano extremamente inteligente, culto, acolhedor, sagaz, afetuoso. Um verdadeiro símbolo e orgulho da Defensoria Pública”, lamentou Igor Santos, presidente da Associação das Defensoras e Defensores Públicos do Estado da Bahia (ADEP-BA).
Homenagens externas
Autoridades externas à Defensoria da Bahia também lamentaram a perda e, em homenagem ao Maior Tribuno do Júri, foi feito um minuto de silêncio na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) e no Congresso Nacional Execução Penal, que acontece em João Pessoa, na Paraíba.
“Hoje é dia de pesar para a Defensoria Pública da Bahia e toda a Defensoria no país. O grande defensor público e tribuno de intensas batalhas Dr Raul Palmeira nos deixa órfãos de seu acervo histórico e sincero como profissional e pessoa. Sentimentos a @DefensoriaBahia e @adepbahia”, escreveu no twitter a presidenta da Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (ANADEP), Rivana Ricartes.
“Uma enorme perda para a Defensoria Pública da Bahia, para seus tutelados, sua família e para seus amigos. Grande Defensor Público que soube honrar sua classe. Cidadão íntegro, autêntico, corajoso e amigo. Cumpriu com honra e louvor sua missão. Descanse em paz, Raul Palmeira”, escreveu a deputada Fabíola Mansur.
“Na audiência pública [contra o encarceramento da juventude negra] homenageamos o defensor público Antônio Raul Borges Palmeira, 66 anos. Entrou para a eternidade no dia 14 e deixou eternizado um legado de defesa dos Direitos Humanos”, afirmou o deputado Hilton Coelho.
“Como cidadão, Ouvidor Geral e Defensor Popular pela ESDEP da Bahia, me uno nessa dor. Dr Raul Palmeira, PRESENTE: Ontem, hoje e sempre!”, lamentou o ouvidor externo da Defensoria Pública do Piauí, Djan Moreira.