COMUNICAÇÃO

Com José Eduardo Cardozo, “CineDebate” lota sala Walter da Silveira

12/10/2019 14:15 | Por Rafael Flores - DRT/BA 5159

Evento apresentou e debateu o documentário "Democracia em vertigem", que narra acontecimentos políticos brasileiros recentes.

O auditório da sala Walter da Silveira, em Salvador, ficou repleto de olhares atentos na tarde desta sexta-feira, 11. Com as 200 cadeiras disponíveis preenchidas, o espaço recebeu a terceira edição do projeto “CineDebate”, da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA.

“Democracia em vertigem” da cineasta Petra Costa e assinado pela Netflix foi o filme escolhido para o momento.  Contribuíram para o debate o defensor público geral, Rafson Ximenes, a ouvidora-geral, Sirlene Assis, e o ex-ministro da Justiça e advogado da ex-presidente Dilma Rousseff, no processo de impeachment, José Eduardo Cardozo.

Cardozo é uma das figuras presentes no documentário, que traz um recorte sobre os acontecimentos políticos brasileiros recentes, como os protestos de junho de 2013, a prisão do ex-presidente Lula, o impeachment de Dilma e a vitória do presidente Jair Bolsonaro.

Não foi a primeira vez que o ex-ministro assistiu ao referido filme, no entanto ele conta que sempre que o faz se vê “inserido em um teatro de horror”, principalmente por ter acreditado no processo de democratização do país pós-ditadura militar.

“A promulgação de 88 [da Consituição Federal de 1988] me deu uma sensação de vitória e de futuro, eu achava que não iriamos retroceder, que iríamos ter disputas sérias e severas entre aqueles que lutaram pelo direito da mulher, pela liberdade de expressão, contra a discriminação de negros, índios e aqueles que queriam a manutenção da opressão. Os embates seriam duros e eu sabia disso, mas não imaginei que questionariam os pilares que nós tínhamos conquistado após a ditadura. Nem nos piores sonhos”, afirma.

O advogado admite ainda certa ingenuidade ao tratar com a democracia, tão jovem em nosso país. “Democracia é algo que você tem que zelar permanentemente, é algo que você não pode cochilar, se não o cachimbo cai, é algo que vai exigir uma permanente vigilância, um diálogo permanente com o corpo social, às vezes deixamos adormecer, por que achamos que as coisas estão tranquilas debaixo de nós, ignoramos os movimentos, deixamos de dialogar com as pessoas”, conta.

Uma das cenas mais comentadas pelos debatedores foi a divisão da área da Esplanada dos Ministérios para alocar de um lado os defensores do impeachment e do outro os contrários a ele. “Momentos como este talvez a rachadura esteja mais evidente, mas o país sempre esteve dividido”, comenta o defensor-geral, Rafson Ximenes, ao discordar com a perspectiva adotada pela diretora do filme.

Em sua explanação, ele ainda aponta algumas falhas no sistema judiciário brasileiro, que atinge investigados de corrupção e, principalmente, os indivíduos hipossuficientes.

“Quando falam que determinado político é corrupto, a tendência é que acreditem que vale tudo para prendê-lo. O mesmo a gente enfrenta todo dia no trabalho dos defensores, quando alguém é acusado de tráfico de drogas, por que todo mundo acha que qualquer coisa é válida para acabar com o tráfico. Julgamentos em que a pessoa acusada já começa condenada é o que a gente enfrenta todo dia”, afirma.

Também apontando as congruências entre o que é apresentado no filme e a realidade de milhões de brasileiros, Sirlene Assis afirma que a democracia brasileira está pedindo socorro e quem mais sofre são as pessoas marginalizadas.

“O Brasil viveu um curto período de democracia, tivemos mais período de autoritarismo e de estado de recessão, onde um grupo historicamente manda na nossa nação. A casa grande não acabou, a casa grande se ressignificou ao longo da história, mudaram os atores e atrizes, mas o sistema continua o mesmo”, desabafa.

Ainda estiveram presentes as defensoras públicas Lívia Almeida e Eva Rodrigues, coordenadoras da Especializada em Direitos Humanos da DPE/BA e idealizadoras do projeto e o assessor de assuntos institucionais Álvaro Gomes.