COMUNICAÇÃO
CORONAVÍRUS – Live sobre atendimento psicossocial a idosos na Defensoria apresenta perfil de assistidos e traz orientações para o período de pandemia
Participantes também destacaram casos urgentes atendidos no período - medidas protetivas, questões de saúde e também a institucionalização de idosos (alocação em Instituições de Longa Permanência – ILPI)
Como proporcionar o atendimento psicossocial adequado às pessoas idosas assistidas pela Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA durante o período de pandemia? Este foi o tema da transmissão ao vivo, #LiveDPEBahia, realizada pela Instituição no instagram, nesta sexta-feira, 29. O diálogo revelou o perfil de assistidos do Núcleo de Atendimento Psicossocial – NAP da Especializada de Proteção aos idosos, quais mudanças têm ocorrido em termos de atendimento, e trouxe orientações também aos familiares para passar com mais tranquilidade por este período.
Participaram do bate-papo a assistente social Raísa Aquino e a psicóloga Naylana Paixão, ambas atuantes na DPE/BA em Salvador. Durante o período de pandemia, estão sendo atendidos casos urgentes, em principal no que tangem às medidas protetivas, quando há risco à vida; questões ligadas à saúde; e também a institucionalização de idosos, quando estes precisam ser alocados em uma Instituição de Longa Permanência – ILPI.
É possível buscar atendimento pelos telefones 129 e 0800 071 3121, na capital e no interior baiano; além do agendamento online no site da Defensoria, do aplicativo Defensoria Bahia disponível para sistemas operacionais Android, além do chat no Facebook.
Primeira convidada da transmissão ao vivo, a assistente social Raísa Aquino trouxe informações acerca do perfil social de assistidos, considerando dados registrados no Sistema Integrado de Gestão de Atendimento da Defensoria – Sigad. Tratam-se majoritariamente de mulheres, que se autoidentificam como pretas ou pardas, com renda entre R$ 500 e R$ 1000 e baixo nível de escolaridade.
Raísa Aquino destacou que a existência de um perfil social de assistidos não deve levar à homogeneização do envelhecimento; que é importante considerar a autonomia do idoso inclusive neste período de distanciamento social.
“O distanciamento deve ser defendido como maneira mais eficaz de combate à curva da Covid-19, mas precisamos adaptar os discursos existentes. O nosso idoso é ativo, aposentado, mas precisa trabalhar para manter a família. Então, ele se sente impelido a sair para o sustento. Esse é o nó da questão, como defender o isolamento a esse público, como a pessoa pode ter garantidos os mínimos sociais de forma que possa ficar em sua casa e evitar contaminação”, pontuou.
A assistente social também destacou que, durante o período de pandemia, há negligências sob a justificativa de distanciamento social – neste caso, é possível se fazer presente para idosos que precisam de cuidados, mas sempre respeitando o distanciamento e utilizando equipamentos de proteção, como luvas e máscaras. E há também uma tendência à ironização dos comportamentos daqueles que desejam sair de suas residências.
“É importante conversar e procurar saber o que o idoso entende por pandemia. Às vezes, passamos por cima das suas opiniões e preocupações, e só queremos cuidar. Eles são afastados das decisões e apenas dizemos ‘nesse momento, você não sai mais’. No entanto, as velhices são diferentes. Para os idosos mais autônomos, que estão acostumados a sair, precisamos oferecer um cuidado que não invada a sua intimidade”.
Raísa Aquino também teceu comentários sobre a importância da assistência social para proporcionar o atendimento completo aos assistidos e destacou a importância de assegurar os direitos pontuados no Estatuto do Idoso – direito á moradia, alimentação, trabalho, entretenimento, saúde. “Todos esses direitos são essenciais ara que a população idosa possa ter uma vida digna longe da violação”, finalizou.
Psicologia
A psicóloga Naylana Paixão foi a segunda convidada e destacou a importância da psicologia para colher todas as informações necessárias para o atendimento qualificado. O profissional deve estar atento aos impactos psicológicos da situação que se apresenta como problema (o motivo que levou à busca pela Defensoria), identificar se o idoso tem voz e poder de decisão, saber quais pessoas proporcionam suporte, se há um acesso à rede de atenção psicossocial.
Outra questão fundamental apontada por Naylana foi a necessidade de observar as relações familiares. Sobre esta questão, o sigilo e a privacidade estão entre os grandes desafios observados durante as visitas às residências dos idosos (realizada antes da pandemia).
“Também se configura como uma violência quando a gente não dá ao idoso o momento de falar e responder por si e é muito comum a família achar que está ajudando. O sigilo é bem delicado pois algumas configurações familiares não permitem que a gente tenha um espaço adequado para mantermos a conversa. Em alguns casos, nós pedimos para o familiar se retirar, em outros casos não, mas temos o cuidado de ouvir o idoso primeiramente, pois ele é o nosso assistido. E, de modo secundário, vamos colhendo informações com familiares, mas sempre estamos atentos a esses sinais que eles emitem”, explica.
Naylana Paixão também ressalta a heterogeneidade no envelhecimento, mas que há um perfil psicológico dos idosos e idosas assistidos. Também destaca a importância do cuidado para não desenvolver quadros depressivos ou transtornos de ansiedade.
“Devido à sobrecarga ou falta de condições sociais que permitam que os idosos tenham uma melhor saúde mental, muitos estão adoecidos física e psiquicamente. E aí nós temos a questão da falta de informação e de acessibilidade à rede de atenção psicossocial, que potencializa essas questões [de depressão e transtorno de ansiedade]”, explica.
O período de pandemia do novo Coronavírus também tem interferido no psicológico das pessoas idosas. A psicóloga sugere a criação de jogos lúdicos que visam fortalecer o diálogo entre os familiares – a exemplo de perguntas sobre história de vida – e pontua também que é importante garantir o máximo possível de autonomia e buscar inserir as pessoas na rotina familiar.
“É interessante criar uma rotina de modo que o idoso possa participar das atividades, essa dinâmica tem uma força muito importante em termos de psicológico. É importante também dialogar todo o tempo sobre o que ele está entendendo a respeito desse momento já que, às vezes, a gente falha por determinar o que precisa ser feito para manter o distanciamento social”, comenta Naylana Paixão.
Como pensamento final da transmissão, a psicóloga destaca a importância de produzir novos significados a respeito do olhar sobre o processo de envelhecimento.
“A palavra é de alerta para ressignificar o olhar sobre a população idosa. Ela tem direito à vida como qualquer outra faixa etária. Isso é preconizado no Estatuto do Idoso e nas políticas públicas, mas infelizmente tem tomado outra nuance. A gente precisa pensar no idoso, mas nem sempre como alguém que precisa ser cuidado. Muitos idosos inclusive estão cuidando dos seus familiares. Então, precisamos pensar nessa heterogeneidade da velhice”, finaliza.