COMUNICAÇÃO
Cuíca, o poeta mais temido da Bahia, será julgado 54 anos após a sua morte
A quinta edição do Júri Simulado ocorrerá no dia 6 de dezembro, no Teatro Dona Canô, em Santo Amaro
Amado por uns e odiado por outros. Grande agitador social na capital baiana, José Gomes, ou como era mais conhecido, Cuíca de Santo Amaro, foi batizado por Jorge Amado como Trovador da Bahia. Morador da Baixa de Quintas, em Salvador, no começo do século 20, e frequentador assíduo das cidades do Recôncavo, o poeta mais temido da Bahia, será julgado por suas denúncias através de versos 54 anos após a sua morte no Júri Simulado promovido pela Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA. Considerado controverso e irreverente o trovador-repórter irá a julgamento no dia 6 de dezembro, às 8h30, no Teatro Dona Canô, em Santo Amaro.
O comunicador, que tinha acesso a fatos secretos e os transformavam em cordéis que eram gritados pelas ruas de Salvador, era figurinha conhecida no Elevador Lacerda, Mercado Modelo e Sete Portas. O público parava para apreciar sua narrativa-poética e polêmica dos casos da capital e do interior que se transformavam em versos que relatavam quase tudo que ocorria nas mansões, botecos, nas ruas, becos e vielas.
Com um faro aguçado, ele descobria fatos que até então eram guardados a sete chaves. Em seus livretos, vendidos a dois cruzeiros, o “repórter do povo”, colocava a boca no mundo divulgando crimes, mortes, escândalos políticos e sexuais. Ao obter informações perigosas, ele anunciava a notícia, adiantando alguns detalhes, e esperava para ver a reação dos interessados. Se fosse procurado em tempo hábil, vendia toda a edição para uma só pessoa. Caso contrário, saia pelas ruas mercando os versos. A vendagem era certa.
Comparado ao Boca de Inferno – Gregório de Matos, com a única diferença de que ele não era um grande conhecedor da gramática normativa, Cuíca de Santo Amaro deixou um legado picante e irônico da vida baiana, versos como vísceras de uma cidade emprenhada de preconceitos e hipocrisia. Sua obra abrangente e variada é como um jornal do povo, o melhor da tradição jornalística da literatura popular.
Ele apareceu nas obras de Jorge Amado, em especial no livro “Pastores da Noite” e “A morte de Quincas Berro d’Água” e também foi lembrado na peça “O Pagador de Promessas”, de Dias Gomes. Morreu em 23 de janeiro de 1964, aos 54 anos.
O Júri Simulado da Defensoria da Bahia tem por finalidade unir a leitura democrática do processo histórico e das suas repercussões jurídicas, educando o cidadão baiano em direitos, proporcionando maior nível de autoconhecimento e de capacidade de análise dos aspectos sociais e dos atores envolvidos na construção do direito e dos julgamentos. Assim como em um júri popular real, os jurados irão ouvir a argumentação da defesa e da acusação e votar na absolvição ou na condenação. Os resultados do Júri Popular são imprevisíveis, pela característica democrática e de livre convencimento dos jurados.
SERVIÇO
O QUÊ: Júri Simulado – Releitura do Direito na História julga Cuíca de Santo Amaro
QUANDO: 06 de dezembro de 2018, às 8h30 da manhã
ONDE: Teatro Dona Canô – Rua do Imperador – Centro, Santo Amaro – BA
QUEM: Defensoria Pública do Estado da Bahia