COMUNICAÇÃO
Curso interno de formação sobre relações raciais da Defensoria busca fortalecer combate ao racismo institucional
Curso abordará cinco eixos temáticos: humanidade e ideia de raça; racismo e poder; relações raciais no Brasil; direito e raça; cotas raciais: desafios e possibilidades
Para fortalecer uma atuação cada dia mais antirracista, a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA está promovendo para os defensores (as) públicos (as), servidores (as) e estagiários (as), o primeiro curso interno exclusivo para formação sobre relações raciais. O curso, realizado por reuniões virtuais, teve início nesta quarta-feira, 4, e será composto de um módulo de cinco apresentações de professores e estudiosos convidados pela Escola Superior da Defensoria para tratar de alguns tópicos do tema.
Em sua fala de apresentação da iniciativa o defensor público geral, Rafson Ximenes, destacou a necessidade das reflexões sobre a questão para a Defensoria e a sociedade como um todo.
“É momento de se discutir a presença do racismo na formação da nossa sociedade. Principalmente em aspectos que não são percebidos como racismo, que as pessoas praticam, reproduzem e não pensam ser práticas racistas. Temos que melhorar nossa instituição, nosso atendimento e relacionamento com o público e seus problemas, além de também a nós mesmos como pessoas”, comentou Rafson Ximenes.
A defensora pública e integrante do Grupo de Trabalho pela Igualdade Racial da Defensoria Vanessa Nunes, que mediou o encontro, explicou que o curso será realizado sempre às 18h das quartas-feiras e deverá abordar cinco eixos temáticos: humanidade e ideia de raça; racismo e poder; relações raciais no Brasil; direito e raça; cotas raciais: desafios e possibilidades.
“Precisamos rediscutir raça no Brasil, porque passamos um período muito longo da história negando este tema. O processo de reconhecimento das desigualdades raciais e todas as durezas do racismo, é um enfrentamento que é necessário para todos, o interesse não é apenas das pessoas negras, o interesse é que a gente possa ouvir um espaço de vida e vida para todos. É com esta motivação que desenvolvemos a iniciativa deste curso”, assinalou Vanessa Nunes.
Aula inicial
Na aula inicial nesta quarta-feira, o tema humanidade e ideia de raça foi abordado pelo professor e doutorando em História da Universidade Federal da Bahia, Valter Zaquel e a professora e doutorando em antropologia pela Universidade de Brasília, Joyce Lopes.
Joyce Lopes abordou o tema da branquitude no discurso “somos todos humanos”, apontando, entre outros aspectos, a dificuldade de grande parte das pessoas brancas em reconhecerem seus privilégios historicamente construídos e disfarçados em torno de uma afirmação abstrata e enviesada na ideia de humanidade.
Já Valter Zaquel discorreu sobre como a sociedade se estrutura historicamente de maneira racista, a partir de uma ideia de civilizações que compõe a história ocidental que tomaram a si mesmas como referência para as definições em torno do que seria a humanidade, desqualificando concepções também legítimas de outras civilizações sobre a humanidade.
“A noção de humanidade constituída pela sociedade ocidental, é uma noção de humanidade que está fundamentada em um modelo a partir dos padrões e traços culturais estabelecidos no Ocidente. A noção de humanidade precisa ser relativizada para compreender outros berços civilizatórios, quando falamos de humanidade estamos falando de processos civilizatórios, e esses processos passam por condições diferentes, mas tem a mesma legitimidade”, comentou Zaquel.
A próxima aula do Curso de Formação Interno de Formação sobre Relações Raciais ocorrerá no 11 de novembro, às 18h, e abordará o tema racismo e poder.