COMUNICAÇÃO
De volta: Unidade Móvel da Defensoria completa cinco anos e já planeja retorno das itinerâncias para janeiro de 2022
A UMA, como é mais conhecida, ficou parada durante a pandemia causada pelo novo coronavírus e a novidade sobre a retomada foi anunciada no dia do seu aniversário
Nas redes sociais, toda quinta-feira é dia de TBT, que vem do inglês throwback thursday e em livre tradução significa um dia de recordar e postar boas lembranças. E a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA aderiu à ideia e amanheceu nesta quinta-feira já postando uma boa lembrança: há exatos cinco anos, no dia 18 de novembro de 2016, era inaugurada a Unidade Móvel de Atendimento – UMA – e nascia, ali, um grande projeto de levar todos os serviços oferecidos em uma sede fixa para mais perto dos moradores das cidades do interior que ainda não contam com a atuação de defensores públicos. Para marcar a data, além da saudade, de revirar a galeria de fotos e de lembrar cada lugar por onde passou, a Instituição anunciou que, após ficar parada devido à pandemia causada pelo novo coronavírus, a Unidade Móvel está de volta e retoma as itinerâncias pela capital e interior a partir de janeiro de 2022.
Quem lembra bem de como tudo começou é o defensor público geral, Rafson Saraiva Ximenes, que, na época, era subdefensor-geral e viu o sonho do então defensor-geral, Clériston Cavalcante de Macêdo, sair do papel e se tornar realidade. “Como não conseguíamos implantar sede em todas as comarcas da Bahia porque não tínhamos número de defensores suficiente, e até hoje não temos, começamos a pensar: será que não poderíamos fazer uma Defensoria que se movimentasse, que chegasse até às pessoas? Começamos a pesquisar várias formas de atuar e a ideia inicial foi de um ônibus, mas descobrimos um modelo mais vantajoso: um caminhão adaptável, com acessibilidade e dignidade para a população”, lembrou o defensor-geral Rafson Ximenes.
Por falar em lembrança, a viagem mais distante da UMA durou cerca de 15 horas, foi para Formosa do Rio Preto, no extremo-oeste do Estado, e quem “pegou carona” foi o então defensor-geral Clériston Macêdo que aproveitou para falar sobre este sonho em palestra sobre o papel da Defensoria no acesso à justiça, que ministrou na cidade. “Já fui defensor público no interior e sei que a realidade é diferente da capital. O projeto da Unidade Móvel nasceu desta vontade de levar a Defensoria para os rincões mais distantes de Salvador”, contou, na época.
A ideia deu tão certo, que os próprios números comprovam: nestes cinco anos, a UMA já alcançou 44.864 pessoas atendidas, percorreu 48.300 quilômetros, realizou 30 itinerâncias pelos bairros da capital e 99 itinerâncias em cidades do interior. “Só uma pandemia foi capaz de nos parar. Os números [que é ele quem atualiza a cada itinerância] mostram que a UMA está, de verdade, percorrendo o caminho certo e deixando um rastro de esperança de que, um dia, a Defensoria vai chegar”, ressaltou o servidor Marcos Silva, que se identificou com a proposta da Unidade Móvel desde o começo e atua na parte administrativa e operacional do projeto e, inclusive, tem os detalhes de todos os lugares por onde a UMA passou.
Já contando os dias para colocar a UMA em atividade novamente, a coordenadora da área Não-Penal do Núcleo de Integração da DPE/BA, Cristina Ulm, que divide a gerência da Unidade Móvel com os coordenadores Gil Braga (área Não-Penal) e Maurício Saporito (área Penal), foi quem anunciou a novidade. “É a Defensoria que transforma vidas aonde chega. É o caminhão da esperança. Esperança de que tudo isso vai passar e que em janeiro de 2022 vamos voltar”, anunciou a coordenadora.
Uma bagagem cheia de história e de reconhecimentos para contar
O carro de som circula pela cidade e anuncia com uma semana de antecedência: “para garantir seu direito, a Defensoria chega até você”. A notícia se espalha nas cidades feito rastilho de pólvora: é no cartaz, no panfleto, no rádio e no boca a boca. A chegada dela, por si só, sempre é uma atração à parte. Já teve quem utilizou ela como inspiração para uma maquete escolar, já teve quem torceu para que o dia tivesse mais de 24 horas só para aproveitar a oportunidade por mais tempo, já teve quem o ônibus ou carro quebrou e, mesmo assim, não desistiu, já teve quem ouviu o anúncio no rádio e correu para a praça, já teve a presença de um juiz resolvendo tudo de lá de dentro, já teve atendimento na capital, no interior, na tragédia de Mar Grande, no Carnaval de Salvador, na Micareta de Feira de Santana, na Romaria de Bom Jesus da Lapa e nas Unidades Prisionais, já teve gente de todas as idades: dos nove dias de vida aos 104 anos.
“Ela é esperança, cidadania, realiza sonhos, encurta distâncias, soluciona conflitos, garante direitos que muitos moradores sequer imaginavam que tinham e traz, em sua bagagem, muita história para contar”, resume o servidor Marcos Silva, lembrando do dia em que, sem esperar, recebeu um abraço do pequeno João*, 6 anos, que foi fazer o exame de DNA com o suposto pai e, para distrair e não chorar durante a coleta, ganhou de presente do “tio” Marcos – um livro ilustrado sobre a história do Pequeno Príncipe.
“Nunca vi um caminhão tão legal como esse”, revelou um menino de Alagoinhas que ficou encantado com o que, até então, só tinha visto de brinquedo. “Só vocês para virem de tão longe para olhar por nós”, agradeceu uma empregada doméstica de Formosa do Rio Preto. “É a primeira vez que vem um órgão nos atender aqui”, lembrou uma lavradora em Senhor do Bonfim. “Aí não faz só exame de DNA não. Resolve tudo que você precisa sobre a justiça”, resumiu um dos moradores de Uibaí. “Esta é uma oportunidade única para nós. Pegue um ônibus aí e venha”, apressou um soldador de Catu. “Vocês são angeles [anjos, em português] que apareceram em nosso caminho”, agradeceu um imigrante venezuelano que foi morar em Capim Grosso.
“Em um país em que tudo se paga, encontrar um órgão como a Defensoria Pública, que dá toda a orientação, facilita a nossa vida e não cobra nada por isso é inacreditável”, reconheceu um autônomo em Valente. “Vocês são uns heróis por saírem de sua cidade e circularem por esta Bahia toda fazendo um trabalho deste de resolver os problemas do povo”, parabenizou uma lavradora também de Valente. É com estas boas lembranças de cada lugar por onde passou, com muitas histórias para contar e com a certeza de que fez a diferença na vida de pessoas como Vitor, Maria, Ana, José e Johan que a UMA está de volta.
“É uma experiência que todo mundo deveria viver e viver com atenção: de trabalhar e viajar com a Unidade Móvel. Já ouvi de vários defensores e defensoras que, quando atuaram pela primeira vez na Unidade Móvel, entenderam o que é, realmente, ser defensor. É um atendimento completamente diferente do normal. É a evidência do quanto é necessário interiorizar a Defensoria, pois é no interior do Estado, nas cidades menores e nas zonas rurais que estão as pessoas que têm mais dificuldades de conhecer os seus direitos e lutar por eles. Em todos os extremos, de norte a sul e de leste a oeste, a UMA chega para mostrar que é possível, para mostrar que quando a Defensoria chega a vida do povo se transforma”, garantiu o defensor-geral Rafson Ximenes.
*nome fictício para preservar a identidade