COMUNICAÇÃO
Defensoria demanda atuação do Conselho Nacional de Direitos Humanos no caso de assassinato de ativista em Tucano
Apesar de contar com testemunha ocular do evento, inquérito do crime segue em aberto há mais de três anos; ativista atuava denunciando abusos policiais e promovia evento pela cultura da paz na cidade do interior baiano
Passados mais de três anos e o inquérito policial que investiga o assassinato do ativista pela cultura da paz e respeito aos direitos humanos Pedro Henrique dos Santos, no município de Tucano, não foi finalizado. Morto com oito tiros na cabeça e pescoço em sua própria casa numa madrugada em dezembro de 2018, o crime brutal chocou a cidade do interior da Bahia.
Até hoje, no entanto, o homicídio não é objeto de ação penal, apesar de ter sido testemunhado pela então companheira do ativista que apontou a participação de três policiais no episódio. Prestando assistência a família da vítima, a Defensoria Pública do Estado Bahia (DPE/BA), por meio de sua Especializa de Direitos Humanos, solicitou em meados de abril que o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) passe a atuar no caso.
“A coordenação de Direitos Humanos atua em vários casos de violência institucional, pois consideramos uma pauta cara à Defensoria. Nos colocamos à disposição para apoiar defensoras e defensores do interior nessas situações”, observou a coordenadora Lívia Almeida que assina o ofício de solicitação juntamente com a também coordenadora Eva Rodrigues.
Com atribuições de fiscalizar e monitorar violações de direitos humanos no país, o CNDH poderá cobrar da Polícia Civil e do Ministério Público – encarregados da apuração do caso – esclarecimentos e informações, assim como expedir recomendações para encaminhamento e conclusão do inquérito.
“Pela própria finalidade do Conselho, a Defensoria compreende que é importante que o caso seja acompanhado pelo órgão. A vítima era atuante na denúncia de abusos e violência policial e as investigações, até aqui, apontam para participação de alguns deles no homicídio. Além disso, a mãe da vítima está sendo processada por policiais por seu empenho na denúncia do crime. Tudo isso demonstra a importância de que CNDH tome conhecimento da situação e atue”, explicou a defensora pública Valéria Teixeira que está à frente das questões concernentes ao caso.
O ativismo e o homicídio
Morto aos 31 anos, o ativismo de Pedro Henrique em favor dos direitos humanos começou após uma abordagem policial em que foi agredido em outubro de 2012. A partir de sua própria experiência passou a denunciar outros casos de agressão e desmandos policiais. Além disso, promoveu e organizou anualmente em Tucano uma Caminhada pela Paz que se tornou uma das principais manifestações populares da cidade.
O jovem se tornou então alvo da perseguição de alguns policiais da região e em outubro de 2018, dois meses antes de sua trágica morte, denunciou supostas abordagens policiais abusivas no bairro de Nova Esperança, onde vivia. “Torço para não ser narrativa sobre o assassinato de minha pessoa. Qual e quando será o próximo atentado que me vitimará?”, escreveu em uma rede social no mesmo período.
Além disso, a mãe de Pedro Henrique, Ana Maria Cruz, tem sido processada por policiais por seguir os passos do filho e denunciar a violência policial contra a população da periferia. Com o lema Justiça Para Pedro Henrique, Ana Cruz segue lutando para que a morte do filho não fique impune. Acompanhando de perto o caso do homicídio, a DPE/BA tem oferecido ainda assistência a Ana Cruz que, atualmente, é constrangida com pelo menos cinco processos movidos por quatro policiais militares.