Pelas ruas, calçadas e embaixo das marquises da capital baiana, a equipe do Núcleo Pop Rua em Movimento tem acompanhado a rotina de milhares de pessoas em situação de rua nos últimos meses. Eles fazem parte do time de defensores(as), servidores(as) e estagiários(as) da Defensoria Pública da Bahia, que mesmo com a pandemia em curso retomaram o atendimento das itinerâncias para prestar orientações e dar encaminhamentos às principais necessidades dessa população que viu sua situação de vulnerabilidade se agravar ainda mais com a crise sanitária.

A retomada dos atendimentos itinerantes do Núcleo Pop Rua em julho desde ano tem garantido, por mês, que cerca de 150 pessoas em situação de rua consigam atendimento na Defensoria. “Uma parte que eu acho importante do estágio é esse momento de itinerância – uma atividade prática do Núcleo Pop Rua que te proporciona estar na rua, estar em contato com os assistidos”, destacou o jovem estagiário de gênero e diversidade da Defensoria, Caio Sergio Silva Santos, de 29 anos.

Atencioso no atendimento, Caio faz questão de participar das atividades presenciais. Usando equipamento de segurança para evitar a contaminação da Covid-19, ele também enfatiza o quão importante é esse momento da Defensoria poder retornar às ruas para atender a população. “Sabemos que as dificuldades são inúmeras neste período para essa população em situação de rua conseguir o atendimento efetivamente”, observa Caio.

Logo no início da pandemia, o serviço de atendimento a essa parcela da população precisou se readaptar. Devido a proibição de visitas presenciais nas unidades de acolhimento, por conta das altas taxas de contágio da Covid-19, a Defensoria passou a fazer o monitoramento remoto das 17 unidades, que abrigam em torno de 800 pessoas em situação de rua de Salvador.

“Com o avanço da pandemia e adequação do serviço, é possível observar um crescimento significativo nos nossos atendimentos. Se a gente comparar julho e agosto deste ano com de 2020, quando atendíamos mensalmente uma média de 45 pessoas nas itinerâncias, isso fica evidente. Atualmente, chegamos a média mensal de 150 atendimentos fixos referentes a demandas para o Pop em Movimento”, confirma assistente social do Núcleo Pop Rua, Sandra Carvalho.

Readaptação e atuação em tempos de pandemia

A pandemia provocou uma série de consequências brutais no dia a dia da população. As altas taxas de contaminação e lotação das UTIs para tratamento da doença fez com que o isolamento social fosse uma das principais medidas de segurança. O mundo inteiro se recolheu, mas para quem vive nas ruas ou depende delas para sobreviver, não teve alternativa a não ser conviver com os riscos. Por isso, a Defensoria baiana precisou se reinventar – readaptou sua forma de atuação para não deixar de lado quem já tanto sofre e com a crise teve sua situação ainda mais vulnerabilizada.

Em parceira com o Movimento Nacional da População de Rua – MNPR e Rango da Paz, a Defensoria vem promovendo, desde o início do ano, encontros mensais, de forma virtual, com mulheres com trajetória em situação de rua. No início, as atividades reuniram pouco mais de 30 mulheres. Atualmente, a média mensal dobrou, já são 62 mulheres cadastradas.

De janeiro a agosto de 2021, o Núcleo Pop Rua já realizou 7 atividades itinerantes nas áreas críticas, como Mares, Aquidabã, Piedade, Campo da Pólvora e Itapuã. O atendimento já superou a média de 60 pessoas em cada uma dessas itinerâncias. As visitas de monitoramentos às unidades de acolhimento também permanecem. A Defensoria esteve presente em seis unidades para acompanhar denúncias de violações de direitos nesses espaços.

Vacinação

Além dos atendimentos prestados pelo Pop Rua em Movimento durante a pandemia, a Defensoria também se mobilizou pela vacinação das pessoas em situação de rua. A instituição conseguiu garantir a reserva de um quantitativo de 7.500 doses para esse público, que ocupa a 16ª colocação entre grupos prioritários definidos pelo Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19. Somente a Defensoria da Bahia encaminhou uma lista com cerca de 3 mil nomes de pessoas que já foram assistidas pelo Núcleo Pop Rua.

Na ocasião, a defensora pública Fabiana Miranda, que atua à frente do Núcleo Pop Rua destacou que a aplicação da vacina da Janssen, por ser de apenas uma dose, seria ideal devido à alta mobilidade ou deslocamento desse público. Caso fosse adotado um outro imunizante, que demandasse a aplicação da segunda dose, poderia ser mais difícil encontrar as pessoas para que recebessem o reforço. “Mas, o importante é garantir a vacinação”, complementou a defensora pública. Contudo, de acordo com Fórum Estadual de População de Rua, até o dia 12 de agosto, apenas 2 mil pessoas haviam sido vacinadas.