COMUNICAÇÃO
Defensoria faz escuta de ambulantes e expede recomendação para a Prefeitura em cadastramento do Carnaval 2024 de Salvador
DPE/BA atua como ponte mediadora no diálogo entre os ambulantes e a Prefeitura em novo procedimento para trabalhadores dos festejos populares do verão soteropolitano. As inscrições para trabalhar nas festas de verão começam nesta segunda-feira (11)
O caminho do Carnaval é povoado por figuras típicas das ruas de Salvador. Ao lado do folião pipoca, dos mascarados e dos turistas entusiasmados, um dos papéis mais importantes nas engrenagens da festa é o ambulante, que fornece comidas e bebidas para abastecer ou serenar os corpos em festa. Para isso, o trabalho dos vendedores de rua começa muito antes da entrega da Chave da Cidade ao Rei Momo.
A partir desta segunda-feira (11), o município inicia o processo de cadastramento de ambulantes para os festejos de verão. A Defensoria Pública da Bahia (DPE/BA) está auxiliando os comerciantes no credenciamento, servindo de ponte mediadora no diálogo entre os trabalhadores e a Prefeitura de Salvador, além de construir soluções que ajudem a diminuir os efeitos da vulnerabilidade digital nesse processo. Desde a última quarta-feira (6), a DPE/BA expediu uma Recomendação para o município de Salvador aperfeiçoar o processo de cadastramento.
O documento, direcionado à Secretaria Municipal da Ordem Pública (SEMOP) e à Secretaria Geral de Articulação Comunitária e Prefeitura Bairro (SACPB), pontua que, em face do cadastramento ser virtual, é necessário o cumprimento da instalação de pontos de apoio, auxiliados pelas Prefeituras-Bairro, com estrutura de computadores e servidores capacitados, para auxiliar trabalhadores que não possuem acesso à internet ou tenham dificuldade de finalizar o processo. Para colaborar no cenário, a Defensoria requisitou também uma reunião com os órgãos municipais.
A necessidade de adequar o processo de inscrição foi constatada pela Defensoria Pública após a realização da vistoria de algumas unidades na última semana. Em que pese o Decreto nº 37.001, de 1º de junho 2023, as Prefeituras-Bairro devem disponibilizar pontos de apoio com pessoal e computadores com acesso à internet para auxiliar os interessados. Contudo, vistorias realizadas pela Defensoria constataram a ausência da dita estrutura nesses locais.
“A Defensoria vem acompanhado a construção do novo modelo de cadastramento, enfatizando a necessidade da Prefeitura disponibilizar todo o auxílio necessário para aqueles ambulantes que possuem dificuldade de acesso à tecnologia, tendo em vista que o cadastro será realizado através da Internet, garantindo, assim, que todos possam estar em igualdade de condições no processo de cadastramento, diferente do que ocorreu no último carnaval”, esclarece Ariana de Sousa Silva, defensora pública e coordenadora da Especializada Cível e de Fazenda Pública, que conduziu o processo de escuta e assina a Recomendação.
A Recomendação também pontuou que seja divulgada com ampla publicidade, através dos canais oficiais do município, os critérios do processo de inscrição do cadastramento dos trabalhadores ambulantes e vendedores, bem como a possibilidade de auxílio das Prefeituras-Bairro.
Novo modelo de credenciamento
Em 2024, um novo modelo de credenciamento de ambulantes será implementado após reivindicações dos trabalhadores da folia. A mudança, que inclui melhorias na estrutura, maior prazo de inscrição e critérios inclusivos e prévios para a seleção, é fruto de mediações entre ambulantes e a Prefeitura promovidas pela DPE/BA, a Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Para esclarecer como se darão as inscrições no novo formato, a DPE/BA convocou todas as categorias que atuam nas festas populares para uma apresentação das regras implementadas, que ocorreu na Escola Superior da Defensoria Pública da Bahia (ESDEP). Ambulantes, barraqueiros, baianas do acarajé, food trucks, veículos destinados à comercialização de gelo e à compra de materiais recicláveis puderam conhecer de perto as novas regras e tirar dúvidas sobre o procedimento.
“Graças a Deus a Defensoria está entrando com a população, abraçando a gente nessa luta para melhorar”, comemorou André Bispo, 46 anos, que se definiu em suas próprias palavras como “criado em festas populares, há 39 anos”. O vendedor relata que assistiu a transformação da folia ao longo dos anos, das cervejas de garrafa para as cervejas em lata, do banco de madeira ao banco de plástico, e que a existência desses momentos de escuta e compreensão das necessidades dos ambulantes, como o organizado pela Defensoria, contribui para a realização de festas mais organizadas. “É necessário ter essas palestras para que todo mundo que venha para as festas volte bem satisfeito”.
Valdemar Anunciação, barraqueiro há 46 anos, “legalizado e contribuinte com minhas obrigações”, como fez questão de reafirmar, reforça a necessidade de uma comunicação eficiente entre a Prefeitura e os trabalhadores. “Acompanhei todos os Carnavais, acho louvável as transformações da festa. Quem conhece as festas populares da Bahia, de fato, são os barraqueiros. Conhecemos até as festas que já foram extintas, como da Pituba. A Defensoria tem meu agradecimento por estar nos apoiando, abraçar nossas causas, e dar um esclarecimento para a gente”, afirma.
A chamada pública de cadastro não abarca somente o Carnaval 2024, mas também inclui os destaques do calendário de verão na cidade, como o Ano Novo e as festas de largo que movimentam a capital, como a Festa de Iemanjá, Fuzuê, Furdunço e Pipoco. As inscrições dos interessados em trabalhar nos festejos de verão ficam abertas entre os dias 11 de setembro e 10 de outubro de 2023.