O tempo também passa para você. Com este slogan, a Defensoria Púbica do Estado da Bahia lançou a Ação Cidadã-Velhos Amigos, com o objetivo de conscientizar a sociedade, principalmente a família, sobre os direitos que as pessoas com mais de 60 anos têm, de acordo com o Estatuto do Idoso. O lançamento aconteceu no Centro Comunitário Nossa Senhora da Paz, no Bairro da Paz, com a participação de cerca de 200 pessoas da comunidade, a maioria idosos.

“É preciso que todos vocês, principalmente os mais jovens, nunca esqueçam, quando viverem uma situação de conflito em sua casa, que o tempo também passa para você”, alertou a defensora pública-geral Tereza Cristina Almeida Ferreira. A campanha lançada pela Defensoria Pública tem caráter permanente. O vídeo da Ação Cidadã mostra os direitos dos idosos e a punição para quem os desrespeita. Toda a campanha será levada às escolas, para falar diretamente com os mais jovens.

A estratégia de sensibilizar os familiares foi fundamentada em estatísticas. De janeiro a outubro de 2008 a Defensoria Especializada do Idoso, atendeu 2.090 casos de violência contra as pessoas com mais de 60 anos. Destes, cerca de 70% tem a família como principal responsável pela agressão. Entre os tipos de violência registrados estão a retenção da pensão ou aposentadoria, coação de parentes para que façam empréstimo consignado, ameaça, abandono, cárcere privado e maus tratos. A defensora geral acredita que não há outra forma de conscientizar senão chegar junto às comunidades.

O lançamento no Bairro da Paz contou com a parceria do Fórum das Entidades do Bairro da Paz e do Conselho dos Moradores, representados por Antonio Carlos Silva Santos e Marinalva Souza Santos, respectivamente. A Ação Cidadã – Velhos Amigos levará a mensagem “ O tempo também passa para você” para os moradores de Salvador e do Interior, através de cartazes, busdor e comerciais de rádio. As pessoas idosas recebem bottons (broches) com o slogan para usarem no dia-a-dia e uma cartilha que os orienta, e aos seus familiares, sobre os direitos assegurados pelo estatuto do idoso.

Desrespeito – Durante o evento, um caso chamou a atenção de todos. Prestes a completar 70 anos, dona Maria Dolores Nunes da Conceição, foi vítima de flagrante desrespeito à pessoa idosa. Com o sonho de construir sua casa, que era de madeirite, continua trabalhando como empregada doméstica. Tendo comprado material de construção aos poucos e já levantado as paredes em alvenaria, comprou desde o final de agosto material para a laje, que ficou de ser entregue no último dia 19 por um comerciante do bairro. Para adiantar o trabalho, o marido da sua neta, responsável pela construção, destelhou a casa. O material comprado e já pago, entretanto, não foi entregue. Com o telhado da casa aberto, ladrões se aproveitaram, entraram na casa e roubaram, entre outras coisas, o 13º que dona Dolores e sua neta tinham recebido.

A defensora geral Tereza Cristina assegurou que a instituição tomará providências para que a vítima seja indenizada pela mercadoria não recebida e ressarcida do prejuízo moral e material gerado por isto. Com medo da represália dos bandidos, dona Dolores, que mora com uma filha e uma neta, não prestou queixa na delegacia. “ Isso acontece porque a gente é preto e pobre. Aí as pessoas pisam”, queixou-se, chorando Sônia Ramos, filha de dona Dolores.

O desrespeito comum às pessoas no seio da família foi muito bem representado por 18 adolescentes do grupo de teatro do Projeto Juventude Cidadã do Bairro da Paz. No evento, duas pessoas idosas com 80 anos de idade – um homem e uma mulher – receberam o botton e a cartilha das mãos das defensoras públicas Gianna Gerbasi, coordenadora das Defensorias Especializadas da Capital, e Janaína Canária, coordenadora das Defensorias Regionais. Estiveram presentes ao evento de lançamento as defensoras do Núcleo de Idosos, Gisele Aguiar Ribeiro Pereira e Paula Emanuella de Freitas Nunes.

Foto: Vanda Amorim