COMUNICAÇÃO
Defensoria promove reflexão sobre relações do racismo com violações de direitos para estudantes da rede estadual
O debate faz parte do projeto “Direitos Humanos nas Escolas: discutindo de todos os jeitos!”
Com o objetivo de estimular reflexões entre os adolescentes sobre como as violações de direitos e as injustiças sociais se encontram atravessadas por relações de poder e opressão que marcam a sociedade brasileira, a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA promoveu nesta quarta-feira, 18, encontro com cerca de 150 alunos do Centro Estadual de Educação Profissional Anísio Teixeira, no bairro da Caixa D’Água em Salvador.
A iniciativa inaugura as atividades do projeto “Direitos Humanos nas Escolas: discutindo de todos os jeitos!” concebido e desenvolvido pela Especializada de Direitos Humanos da Defensoria e que conta com o apoio da Secretaria Estadual de Educação. No debate desta manhã, questões vinculadas ao tema do racismo e da intolerância religiosa foram tratadas pela equipe da Especializada impulsionando o debate entre os jovens.
Entre os aspectos tratados estiveram dados do Atlas da Violência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada que revelam que os negros são as maiores vítimas dos crimes de violência; dados do relatório das audiências de custódia da DPE/BA que também indicaram que os negros respondem por mais de 98% dos casos de presos em flagrante; aspectos históricos ligados à escravidão; exemplos da representação desfavorável dos negros nos meios de comunicação, entre outros.
“O Brasil é um país racista. Fomos historicamente excluídos do acesso à terra, à saúde, educação, renda, emprego. É preciso pontuar um racismo que não foi afetado pelo tempo. Há continuidade do racismo, da violência colonial, que segue nos atingindo. Basta ver que a grande maioria do auditório aqui, das escolas públicas, é de estudantes negros. É só olhar a composição do sistema carcerário brasileiro e dos mortos por violência”, comentou a analista técnica da coordenação de Direitos Humanos, Zuldiane Coelho, uma das debatedoras do encontro.
Para o estudante Denilson Cerqueira, 19, o momento foi importante para promover também a autoafirmação. “Não devemos aceitar o lugar que nos é reservado nesta história, um lugar de servidão, inferior. Temos que aceitar nossas raízes e nos orgulhar delas e temos que almejar estar onde quisermos”, destacou.
Sentimento semelhante teve a jovem Stéphanie Emily, 17. “Sendo negra, você passa pelas discriminações e preconceitos todos os dias. Quando, no entanto, escutamos em eventos como este o tema ser conversado e debatido, parece que nos sentimos melhor representados e acolhidos. Foi uma oportunidade inspiradora abordar estes temas hoje. Fico contente em saber que muita gente está se libertando destes paradigmas sociais que atuam para desvalorizar os negros”, disse.
Participaram também da atividade, a defensora pública e coordenadora da Especializada de Direitos Humanos, Lívia Almeida, a analista técnica Ariane Senna, e as estagiárias Jade Andrade, Sara Raísa e Dávine Ramos, todas da coordenação de Direitos Humanos da DPE/BA.
Direitos Humanos nas Escolas
Concebido e planejado pela DPE/BA, o projeto “Direitos Humanos nas Escolas: discutindo de todos os jeitos!” pretende levar, preliminarmente para escolas de rede estadual da capital, o debate em torno de quatro temas dos direitos humanos: i) violência doméstica contra as mulheres; ii) masculinidade tóxica; iii) LGBTfobia e iv) racismo e intolerância religiosa. As temáticas devem ser abordadas num período de dois meses, em encontros quinzenais, promovendo diálogos e debates sobre violências e violações de direitos básicos nas escolas participantes.
Professora de História e Filosofia do Centro Anísio Teixeira, Lilian Oliveira considera que os temas são pertinentes. “Essas temáticas calham com as mudanças da sociedade. Eu lido com adolescentes que têm apresentado comportamentos homofóbicos, misóginos, e a gente sabe que toda transformação social demanda discussão, tempo, se ver no outro. É uma mudança lenta que encontra ainda as resistências de discursos retrógrados e violentos. Então quando um grupo tão diverso como esse da Defensoria vem aqui falando sobre problemas tão importantes, é uma semente”, assinalou.