COMUNICAÇÃO

Defensoria proporciona “Fora da Ordem” para público em situação de rua

25/11/2015 21:00 | Por Dilson Ventura - estagiário (Texto e fotos)

"Eu nunca vim ao teatro… essa é a primeira vez e gostei de tudo na peça", diz empolgada ex-moradora de rua.

"Fora do eixo, fora de prumo, sem eixo, sem rumo, de ponta a cabeça, de cabeça para baixo, desalinhado, bagunçado, desordenado, embaralhado, caos etc". Essas expressões definem a peça "Fora da Ordem" escrita e dirigida por Lelo Filho, da Cia Baiana de Patifaria, em que a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA proporcionou, nesta quarta-feira, 25, a pessoas em situação de rua de diversos lugares da Capital baiana, a estudantes, representantes de diversos movimentos, servidores e alguns defensores públicos da DPE/BA. O teatro Sesc Pelourinho ficou lotado nas duas sessões realizadas durante à tarde. A atividade fez parte da programação do III Encontro Baiano de Defensores Públicos de Direitos Humanos.

Para o defensor público geral, Clériston Cavalcante de Macêdo, que também compareceu na peça teatral, as artes, mesmo em linguagem lúdica, servem para tratar de assuntos importantes e difíceis de serem abordados. "Trazer as pessoas em situação de rua para dentro do teatro, assim como levar música clássica para rua é também um papel da Defensoria Pública. Pois o nosso papel é levar justiça para essas pessoas e ter acesso à arte também é promover à justiça. É importante esse papel que a Defensoria está desempenhando através da Especializada de Direitos Humanos", disse o defensor público geral, ressaltando que levar pessoas em situação de rua para ver e ouvir sobre esses temas é de suma-importância.

A defensora pública coordenadora da Equipe Pop Rua, Fabiana Miranda, em seu momento de fala antes do monólogo informou que, a princípio, o evento foi feito exclusivamente para as pessoas em situação de rua. "O principal objetivo sempre foi trazer a peça para as pessoas da rua. Para que eles ocupem esse espaço. Porque todos os espaços são para o povo da rua. É importante que o povo da rua traga suas inquietações e fale", disse, defendendo o público em situação de rua presente.

Para a defensora pública do Estado do Piauí e mestre em Direito Constitucional, Verônica Acioly, as pessoas transitam em dois polos: de vítima e agressores. "É preciso ter essa noção para transitarmos menos como agressores e para termos uma compreensão de que precisamos cuidar dos agressores, não para que ele seja vítima, mas para um meio termo", explicou a defensora do Piauí.

O texto da "Fora da Ordem" trata sobre questões sociais transformadoras na vida das pessoas, como ditadura, racismo, homofobia, violência, guerras santas e intolerância de vários tipos. O ator e diretor Lelo Filho fez o público viajar no tempo a partir da década de 1968 até aos tempos de hoje em 2015 com as guerras do Oriente Médio.

BATE-PAPO DEPOIS DA PEÇA

Depois do espetáculo teatral a subcoordenadora de Direitos Humanos, Eva Rodrigues, mediou um bate-papo sobre questões atuais que se assemelham aos temas abordados na peça "Fora da Ordem". Informou sobre D. Lurdinha, uma senhora em situação de rua que não aguentou ficar na sala enquanto no telão do palco algumas cenas de tortura eram ilustradas como referência à época da ditadura militar.

"Não aguentei ficar e ver. Vejo isso nas ruas hoje em dia. Alguns policiais precisam preparar suas equipes e eu já vi alguns de nós serem tratados assim na rua, com essa tortura. Somos humanos e precisamos ser bem tratados", desabafou a senhora Lurdinha.

Karine Eloy, estudante de bacharelado interdisciplinar em Humanidades na UFBA, disse que precisava ter visto a peça antes do seminário sobre "movimento estudantil na época da ditadura militar" que apresentará no dia 02 de dezembro na instituição em que estuda. "Chorei várias vezes aqui com o que foi falado no monólogo. Porque escutei isso também de várias pessoas que foram violentadas e vivenciaram de perto essa dor. Minha avó teve parentes que sumiram na ditadura militar e ela não sabe até hoje sobre eles. Ela me disse que era para eu estudar porque somos o futuro do país. Vejo isso sim sendo mulher, negra e estando como lésbica. Se nós somos o futuro, estamos fazendo ele agora", falou emocionada Eloy.

A ex-moradora de rua e hoje coordenadora nacional do Movimento de População de Rua, Maria Lúcia Santos Pereira da Silva, considerou que a Defensoria Pública foi feliz em proporcionar a peça teatral "Fora da Ordem" para as pessoas em situação de rua. "Quero agradecer a todos da Defensoria e ao diretor da peça por nos proporcionar ocupar novos espaços", diz Maria Lúcia.

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