COMUNICAÇÃO
Defensoria Pública entra no caso Geovane
O comerciante Jurandy Silva de Santana, 40 anos, pai de Geovane Mascarenhas de Santana, 22 anos, esteve, na manhã desta segunda-feira, 18, na subcoordenação da Especializada de Proteção aos Direitos Humanos da Defensoria Pública da Bahia, no Canela. Ele foi buscar ajuda da Instituição para o processo de reconhecimento do corpo de seu filho, desaparecido depois de uma abordagem de policiais militares.
Segundo a subcoordenadora da Especializada, Bethânia Ferreira, a maior preocupação de Jurandy é com a identificação do corpo do jovem, tendo em vista que o resultado do exame de comparação das digitais realizado em uma das mãos, apontou como sendo pertencente a Geovane, mas o corpo não.
"Estamos preocupados porque há outros corpos também não identificados em situação semelhante. Então queremos que seja coletado o DNA dos familiares para que não haja qualquer dúvida sobre a identificação", disse a defensora.
Além disso, segundo Bethânia Ferreira, a Defensoria vai participar do processo de apuração que vem sendo feito pela Corregedoria da Polícia Militar, sobre o envolvimento dos policiais militares no desaparecimento do jovem, assim como acompanhar o inquérito policial a fim de verificar a regularidade do processo.
A subcoordenadora informou a Jurandy que medidas de proteção poderiam ser adotadas. De acordo com Bethânia, ele relatou que não sofreu qualquer tipo de ameaça e nem constrangimentos até agora. No entanto, na imprensa local foi divulgado que ele iria pedir proteção policial para sua família, já que considerava que o clima estava ficando "pesado".
O mesmo já não pode ser dito pelo morador do imóvel onde as câmeras de segurança flagraram a "abordagem fora do padrão" realizada pelos policiais militares da Rondesp. O morador, dizendo-se ameaçado, já que um carro preto e com vidros escuros passou a rondar as imediações, preferiu mudar-se no sábado, 16, para outro local.
Apesar de o caso ter repercutido na mídia na quarta-feira, 13, o desaparecimento do jovem ocorreu no dia 2 de agosto, depois da abordagem de uma viatura da Polícia Militar no bairro da Calçada. A sequência de imagens foi registrada pelas câmeras de segurança de um imóvel situado na esquina da Rua Leão XIII, no bairro da Calçada, onde aconteceram os fatos. Desde o sumiço do filho, Jurandy iniciou sua peregrinação em diversos órgãos públicos, como delegacias, presídios, hospitais e no próprio Instituto Médico Legal (IML), mas sem qualquer êxito.
Com a repercussão do caso, inclusive ganhando destaque na mídia nacional, logo as autoridades da área de segurança da Bahia tiveram de se esforçar para elucidar os fatos. Até mesmo por isso, os três policiais militares envolvidos na abordagem e desaparecimento de Geovane tiveram seus nomes divulgados na sexta-feira, 15, pela manhã. O que até então fora negado à imprensa local.
Trata-se do subtenente Cláudio Bonfim Borges, comandante da guarnição, e dos soldados Jailson Gomes de Oliveira e Jesimiel da Silva Resende, lotados na Companhia de Rondas Especiais da Baía de Todos os Santos. Com a prisão preventiva decretada eles encontram-se detidos no Batalhão de Choque, em Camaçari. Os dois soldados já respondem a processo por auto de resistência, quando policiais matam em confrontos armados, a alegação de tiroteio.
No mesmo dia, embora o corpo, carbonizado e sem a cabeça e as mãos, estivesse no IML desde o dia 3 de agosto, depois de ter sido encontrado numa rua do Parque São Bartolomeu, em Pirajá, técnicos do Instituto divulgaram que o corpo teria sido identificado como o de Geovane. No entanto, mais tarde, a notícia foi desmentida pelo pai do jovem que alegava não haver, na altura da costela esquerda, uma tatuagem com o nome Jurandy.
A partir de então o processo de identificação precisou ser mais sofisticado, com material genético, pois apenas uma das mãos encontrada num terreno baldio no bairro de Campinas de Pirajá, no último dia 4, foi identificada como sendo do jovem. Neste caso, O laudo com o resultado do exame de DNA será divulgado no prazo de 30 dias.
A história lembra o fato ocorrido em julho do ano passado, no dia 14, envolvendo o pedreiro Amarildo Dias de Souza, 47 anos, cujo corpo desapareceu depois de ele ter sido levado à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha, de onde nunca mais foi visto.