COMUNICAÇÃO
Defensoria vai recorrer de decisão judicial para retirada da Comunidade Nova Canaã, em Santo Antônio de Jesus
Coelba obteve recurso que pode ocasionar em retirada forçada da população do local em plena pandemia
A Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA vai recorrer da decisão judicial a qual determina que os moradores da Comunidade Nova Canaã, em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo Baiano, sejam obrigados a deixar a região, sob pena de retirada forçada, durante a pandemia.
A permanência no local vem sendo contestada pela Coelba desde 2018, quando a companhia ingressou com ação de reintegração de posse do terreno que vinha sendo habitado por dezenas de famílias. Em julho de 2020, após atuação da DPE/BA, uma liminar que então assegurava à Coelba o direito de desocupação foi suspensa pelo Tribunal de Justiça da Bahia devido à pandemia do coronavírus. A suspensão, foi fixada inicialmente até o dia 31 de outubro e depois prorrogada até o final do ano.
Entretanto, uma decisão do juiz Carlos Roberto Silva Junior (processo nº: 0503058-04.2018.8.05.0229), no último dia 26 de novembro, determinou a desocupação do terreno no prazo de 20 dias, requisitando o apoio da Polícia Militar para acompanhar os oficiais de Justiça no cumprimento de ordem após este período.
Momento de pandemia
Para a defensora pública Natalie Navarro, que acompanhando o caso pela Defensoria, a decisão judicial é completamente desproporcional e temerária, sobretudo levando-se em consideração o atual estágio de pandemia na Bahia e na cidade de Santo Antônio de Jesus.
“Essas famílias não possuem qualquer lugar para ir, correndo grave risco de contaminação e de morte, caso sejam despejadas da área em que vivem, causando não somente um gravíssimo problema social, quanto sanitário. Além disso, há negociações em curso junto com o Estado, Município e Coelba, a fim de buscar uma solução consensual para o conflito, tendo havido recente audiência pública sobre o tema”, explicou Natalie Navarro.
Paralelamente ao recurso, a Defensoria já oficiou o Município e o Estado, a fim de agendar uma reunião para dar continuidade à busca de uma solução consensual ao caso e evitar a desocupação forçada das famílias do local.
Faixa de segurança
Esta determinação da Justiça baseia-se em laudo técnico apresentado pela Coelba, o qual informa que há construção em área de recuo obrigatório (faixa de segurança), sem observar as distâncias mínimas de segurança da linha de transmissão.
Entretanto, a defensora Natalie Navarro afirma que nem a Defensoria nem os moradores da Comunidade Nova Canaã tiveram a oportunidade de nos manifestar sobre o recurso da Coelba antes de o juiz proferir a decisão, o que, para a defensora, é uma “absoluta ofensa ao princípio da ampla defesa e do contraditório”.
Natalie Navarro ainda informa que as construções dos moradores na região respeitaram o distanciamento mínimo de segurança, havendo apenas duas casas construídas na faixa de segurança, tendo os moradores se retirado do local imediatamente após a sua constatação e sido acolhidos provisoriamente por outros moradores da comunidade
Ademais, a comunidade informa que as construções respeitaram o distanciamento mínimo de segurança, havendo apenas duas casas construídas na faixa de segurança, tendo os moradores se retirado do local imediatamente após a sua constatação e sido acolhidos provisoriamente por outros moradores da comunidade.
Reunião com moradores
Devido à gravidade da situação, uma reunião virtual foi convocada pela Defensoria na última sexta-feira, 4, contando com a participação dos moradores da Comunidade Nova Canaã, ativistas e ainda com a ouvidora-geral da DPE/BA, Sirlene Assis.
O encontro teve teve por finalidade esclarecer aos moradores da comunidade dos efeitos da decisão judicial e medidas jurídicas que estão sendo tomadas pela Defensoria, a fim de reverter a decisão. Segundo a defensoria Natalie Navarro, os moradores da comunidade mostraram-se surpresos e extremamente preocupados com a situação, sem qualquer perspectiva em relação ao local para onde ir com suas famílias caso sejam despejados.