COMUNICAÇÃO

Depois de acesso a tratamento por meio da Defensoria, homem abandona uso de drogas

28/08/2024 14:51 | Por Priscilla Dibai / 2.389 DRT/BA

Paulo Silva*, de Alagoinhas, vivia em situação de extrema vulnerabilidade em função do uso abusivo de drogas. Por meio de ação da Defensoria, obteve acesso a tratamento de desintoxicação e recuperação

Tentando buscar tratamento para o filho, pessoa dependente de  drogas, o pai César Silva*, de 72 anos, procurou a Defensoria Pública da Bahia, em Alagoinhas, com um relato impressionante. O filho Paulo Silva*, de 42 anos, se encontrava em condição de extrema vulnerabilidade, não dormia, não se alimentava, vivia perambulando pelas ruas quase em situação de mendicância e já não aceitava mais o tratamento oferecido pelo Caps (Centro de Atenção Psicossocial).

Nessa circunstância, o pai solicitou à Defensoria assistência jurídica para interná-lo em uma clínica de desintoxicação e recuperação, explicando que o filho estava disposto a passar pelo tratamento. O pai apresentou todos os documentos e laudo médico que indicava a internação como a medida adequada ao caso. A documentação fornecida pelo Caps apontava que o paciente era acompanhado pela unidade desde 2019, mas que, pelo uso intensivo e continuado de múltiplas drogas, o tratamento ambulatorial não estava mais tendo o efeito esperado.

Assim, a Defensoria ingressou com ação solicitando a imediata internação em clínica de reabilitação, tanto no sentido de restabelecer a saúde quanto a integridade física do paciente, comprometidas em função da condição de dependência química e risco social em que se encontrava.

A defensora pública Jamara Santana explica que, como os outros tratamentos não estavam mais tendo efetividade, o internamento foi necessário para o paciente se recuperar, inclusive afastá-lo do ambiente que o adoecia. “Quando o genitor nos procurou, seu filho estava em situação de extrema vulnerabilidade e não usava mais nenhuma das medicações prescritas. Como o paciente concordava com a internação, atuamos juridicamente, no sentido de oferecer direitos e dignidade a essa família”, afirma.

Com liminar favorável, o paciente conquistou o direito ao internamento, em clínica de Feira de Santana. Ao todo, foram nove meses de tratamento – inicialmente três com prorrogação de mais seis. Ele recebeu alta no último dia 15 de agosto.

Então, o pai retornou à DPE de Alagoinhas para agradecer ao trabalho da equipe e dar boas notícias. Desde a internação, Paulo Silva não usa mais entorpecentes e voltou a ser acompanhado pelo CAPS. “Eu estava em um estado terrível, vivendo pela droga. Eu achei que nunca ia sair daquela situação. Foi muito sofrimento, para mim, para meus pais, para minha filha. Essa internação trouxe minha vida de volta”, afirmou Paulo Silva, em telefonema à reportagem.

Seu pai, César, explicou que o filho ainda tem episódios de irritabilidade e nervosismo, mas está bem e segue motivado em abandonar o vício. “Ter procurado a Defensoria foi a melhor coisa que aconteceu na vida da minha família. Ter um filho viciado, que está totalmente dominado pelo vício, é uma luta, é um sofrimento diário. Passamos por tantas coisas horríveis, mas finalmente agora eu e a mãe dele poderemos descansar um pouco”, conta.

Para a defensora Jamara Santana, esse caso reforça a confiança que a população deposita no trabalho da Defensoria. “Quando todas as outras alternativas já se mostraram insuficientes, a pessoa nos procura ainda com esperança de que a demanda será resolvida. Somos um instrumento para concretizar o direito do cidadão mais vulnerável. Sem o trabalho que prestamos, esse assistido e sua família continuariam em sofrimento”, afirma.

Ela informou ainda que a solução desse tipo de demanda acaba favorecendo não apenas o ente familiar diretamente exposto e em risco, mas toda a família, que também acaba adoecida em função da situação crítica vivida pelo filho. 

Histórico

Paulo Silva se viciou em drogas aos 14 anos de idade. Depois de um tempo, parou de usar. Casou-se, teve filha e mudou-se para o interior do Rio de Janeiro, para trabalhar. Lá, teve uma recaída e perdeu tudo: trabalho, esposa e patrimônio. Voltou para Alagoinhas para viver com os pais. No auge do vício, chegou ao ponto de dormir na rua, pedir dinheiro a transeuntes e ser agredido.

“Minha esposa não aguentava ver ele se drogar e saía de casa. Vivia indo para a casa de parentes para fugir daquela realidade”, conta o pai, César Silva. O sofrimento psíquico também atingiu outros integrantes da família. Tanto o pai quanto a filha de Paulo, de 14 anos, precisaram de assistência psicológica/psiquiátrica. “Eu tenho sessão com psicólogo toda semana e minha neta toma remédios para ansiedade”, relata.

César Silva agradeceu a toda a equipe da Defensoria – assistente social, psicóloga, servidores e defensores. “A Defensoria me socorreu. Lá, conversaram comigo, me tranquilizaram, me orientaram como agir e agora estamos, enfim, vivendo uma outra fase das nossas vidas”.

 

* Nomes fictícios para preservar as identidades dos assistidos