COMUNICAÇÃO

Diversidade Sexual e de Gênero é tema do último encontro de direitos humanos no colégio de Salvador

29/11/2019 9:21 | Por Leilane Teixeira - estagiária, sob supervisão de Arthur Franco

Esse foi o quarto e último encontro no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva, na Ribeira

“Homem é baleado quatro vezes após beijar rapaz em bar de Camaçari”. Essa é uma manchete estampada no site do Correio* no mês passado, que retrata um dos inúmeros casos de homofobia que ocorre na Bahia e em toda parte do País. De acordo com dados divulgados pelo UOL, só no Brasil a cada 16 horas é registrada uma morte ocasionada por homofobia.

Pensando em agregar conhecimento para mudar quadros como esses, a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, por meio do projeto Direitos Humanos nas Escolas: Discutindo de todos os jeitos, abordou o tema Diversidade Sexual e de Gênero, encerrando, com chave de ouro, sua última passagem pelo Colégio Estadual Presidente Costa e Silva. “Eu, como gay assumido, me senti representado aqui e aprendi sobre muitos direitos que nem sabia que eu tinha. É muito bom se enxergar em alguém e ver que posso ter apoio nessa luta constante contra a homofobia”, revelou o estudante Guilherme Souza.

Ao longo do encontro, que ocorreu na manhã de hoje, 28, a palestrante Ariane Senna, servidora da DPE/BA e primeira mulher transexual psicóloga de Salvador, em conjunto com o estagiário de Diversidade e Gênero da instituição, Cáio Sérgio, explicaram o significado da sigla LGBTQI+ e todo histórico do movimento, falaram sobre os direitos da população e comentaram sobre a cura gay e a diferença entre homossexualidade e homossexualismo.

Para Ariane Sena, o preconceito faz parte da falta de informação. “Todos jovens deveriam ter a oportunidade que eles tiveram nessa manhã. Muitas das vezes, o preconceito vai se formando na base e precisamos passar para eles que o caminho não é esse. Para quem faz parte do grupo LGBTQI+ é essencial se munir de conhecimento, saber dos direitos que têm, porque muitas das vezes a gente não recorre e aceita a violência por não conhecer nossos direitos”, explicou.

A psicóloga e servidora enfatiza ainda sobre importância de existir uma representatividade. “O que falta são as pessoas terem uma visibilidade positiva do LGBT. Então quando eu chego e me coloco enquanto mulher trans, psicóloga e digo que a gente tem condição de denunciar, fazer controle social para vivermos em paz independente da nossa orientação ou identidades de gênero, eu estou dizendo a essas pessoas LGBts que elas têm o direito de existir dentro das escolas sem a necessidade de evadir daqui. Ao mesmo tempo que estamos denunciando a solidão que adolescentes LGBTS vivem dentro das escolas estamos educando e reeducando pessoas que não são a nos respeitar como somos”, finalizou.

Parceria que deu certo

Cerca de 100 jovens e adolescentes compareceram ao auditório da escola para participar da palestra. No total das quatro palestras realizadas no local, foram mais de 300 participantes. Para a professora Denise Silva, debater assuntos que dialogam com eles é fundamental para formação pessoal de cada um.

“Desde a primeira vez que fizemos a reunião com os professores, eu vi o quanto era fundamental essa discussão com os alunos. Aqui na escola a gente tem mais de 90% dos alunos que são negros e sofrem algum tipo de violência, seja o preconceito racial, a homofobia ou agressão física. Depois da primeira, eles ficavam me perguntando a todo momento quando seria a próxima. Foi muito bom em termos educacionais, mas mais que isso, eu sinto que eles mesmos percebem a importância e sentem a necessidade desse debate, porque, infelizmente, nem sempre todos professores levam esses assuntos para sala de aula”, pontuou a professora.

Sobre o projeto

O Projeto “Direitos Humanos nas Escolas: Discutindo de todos os jeitos” é promovido pela especializada de Direitos Humanos da Defensoria, destinado a jovens e adolescentes da Rede Estadual de Educação de Salvador e tem como objetivo trabalhar a compreensão das relações de poder na sociedade contemporânea e os seus desdobramentos.

A palestras são organizadas pelos estagiários de gênero e diversidade da coordenação de Direitos Humanos da Defensoria, com foco em abordar violações sofridas por indivíduos imersos nas engrenagens de opressão (gênero, raça, classe e sexualidade), bem como a construção dos estereótipos de gênero, de violência contra à mulher, de preconceito racial, de LGBTfobia, de transfobia e de intolerância religiosa.

A coordenadora da especializada de Direitos Humanos, Lívia Andrade, informou que o projeto retornará em janeiro do próximo ano em um outro colégio público a ser definido.