COMUNICAÇÃO
Documento com 13 medidas para redução da letalidade policial é entregue à Secretaria de Segurança Pública e ao governador
Dentre as propostas da Defensoria, a SSP já se comprometeu em acelerar o processo de instalação de câmaras corporais pela Polícia Militar e a disponibilização de dados do Pacto Pela Vida
A Bahia foi o estado da região Nordeste onde houve mais mortes por ações policiais em 2020, segundo pesquisa da Rede de Observatórios da Segurança. Como parte do empenho da Defensoria Pública do Estado da Bahia em combater este alto número ligado à violência policial, o documento 13 Medidas para a Redução das Intervenções Policiais com Resultado Morte no Estado da Bahia foi entregue em mãos ao secretário de Segurança Pública da Bahia Ricardo Mandarino por uma comitiva da DPE/BA e também encaminhado ao governador Rui Costa (confira todas as medidas no final do texto).
Leia e faça o download do documento neste link
A visita à Secretaria de Segurança Pública da Bahia – SSP contou com o defensor público geral Rafson Saraiva Ximenes, a subdefensora pública geral Firmiane Venâncio, a defensora pública e assessora de gabinete Fernanda Morais, as coordenadoras da Defensoria Especializada de Direitos Humanos Eva Rodrigues e Lívia Almeida e o assessor de assuntos interinstitucionais da Defensoria Álvaro Gomes.
Além de entregar o documento com proposições, o objetivo foi ouvir o secretário sobre elas. “É interesse tanto da Defensoria quanto da SSP reduzir esses índices tão alarmantes. Com isso, já tivemos uma resposta positiva por parte da secretaria em relação a alguns pontos, como a adoção da utilização de câmeras corporais pela Polícia Militar e a disponibilização de dados sobre o programa Pacto Pela Vida, incluindo número de abordagens policiais com perfil de raça, classe e gênero. Acredito que a partir disso poderemos observar uma melhora nesses índices em breve”, explica Fernanda.
Além das medidas citadas por Fernanda, o documento sugere, por exemplo, a realização de curso de formação continuada para integrantes da Polícia Militar da Bahia, com a presença de instituições do Sistema de Justiça, Universidades e representações da sociedade civil integrantes dos movimentos negro, LGBTQIA+, mulheres, população em situação de rua, dentre outros grupos em vulnerabilidade. Eva Rodrigues defende, por exemplo, que “envolver e permitir a participação de representações da sociedade civil e dos grupos vulnerabilizados acena para possibilidade de cursos de formação mais próximos das realidades vividas, tanto pelo policial, quanto pela pessoa que é destinatária do serviço oferecido pela própria polícia”
“Não esgotam as atuações e ações que podem ser tomadas no combate à letalidade policial, que é um problema grave, um problema estrutural, enraizado, portanto não tem soluções simples e nem soluções únicas. Dentro dessas 13 medidas que propomos, algumas envolvem a Secretaria, outras envolvem outros órgãos, outras são compromissos da Defensoria. Elas são fruto de nossa conversa com a sociedade civil, estudiosos do tema e com as vítimas da letalidade policial. São medidas que podem evitar mortes e passam confiança para a comunidade”, completa Lívia Almeida.
O defensor público geral Rafson Ximenes defendeu, durante a reunião, que o trabalho é conjunto e agradece o comprometimento da Secretaria ao receber as proposições. “Quando a gente apresenta o pacote de medidas é justamente porque sabemos que os problemas são complexos e não existe solução mágica”, completou.
Confira todas as medidas:
1. Adoção da utilização de câmeras corporais pela Polícia Militar do Estado da Bahia;
2. Alteração da lei estadual 12.371, de 21 de dezembro de 2011, que institui o sistema de definição e acompanhamento de metas para o indicador estratégico e outros indicadores de controle de criminalidade na Bahia, estabelece regras para a concessão do prêmio por desempenho policial, e dá outras providências, para incluir a redução do número de autos de resistência/intervenções policiais com resultado morte como indicador para fins de concessão do Prêmio por Desempenho Policial – PDP;
3. Transparência dos dados da Secretaria de Segurança Pública, incluindo o retorno do site do Pacto pela Vida, de modo a propiciar a produção de dados para formulação de políticas públicas;
4. Realização de curso de formação continuada para integrantes da Polícia Militar, com a presença de instituições do Sistema de Justiça, em especial a Defensoria Pública do Estado, Ordem dos Advogados do Brasil e Ministério Público do Estado, Universidades e representações da sociedade civil integrantes dos movimentos negro, LGBTQIA+, mulheres, população em situação de rua, dentre outros grupos vulnerabilizados;
5. Celebração de termo de cooperação técnica entre a Defensoria Pública do Estado da Bahia e a Procuradoria Geral do Estado com o objetivo de viabilizar o pagamento de indenização por via administrativa em casos de violência policial acompanhados pela DPE/BA;
6. Criação/implantação de canal de atendimento à população no âmbito da SSP para fornecimento de informações em casos de desaparecimento de pessoas após abordagem policial;
7. Criação/implantação do aplicativo “Mapa da Violência Policial”, pela Defensoria Pública do Estado da Bahia, com o objetivo de prestar atendimento e coletar dados e informações de vítimas de violência policial no estado da Bahia;
8. Abolição/revogação/retirada do ar do “Baralho do crime”, publicação criada no ano de 2008 pela Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia, ferramenta utilizada como atalho na atividade diária dos policiais em todo estado (informação do site);
9. Revogação do 4º parágrafo do artigo 7º, 8º parágrafo do artigo 2º, 4º parágrafo da artigo 17 e o artigo 18º da Instrução Normativa conjunta SSP/PM/CBPM/PC/DPT nº 1, que versam sobre a investigação de crimes dolosos contra a vida cometidos por policiais militares contra civis;
10. Cumprimento do Artigo 23 da Instrução Normativa Conjunta SSP/PM/CBM/PC/DPT nº 1, de 08/07/2019, que determina a comunicação, semanal e via correio eletrônico institucional, à corregedoria geral da Secretaria de Segurança Pública, à Corregedoria Geral da corporação militar e à Coordenação de Documentação e Estatística da Polícia Civil de todas instaurações de inquéritos policial para apurar homicídio doloso consumado ou tentado, inclusive o praticado contra civil, homicídio culposo ou lesão corporal seguida de morte atribuída a militar estadual;
11. Cumprimento da decisão da sexta turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no HC 598.051, que estabelece parâmetros para a atuação de integrantes do Sistema Estadual de Segurança Pública – Sesp em situações urgentes e legítimas que possam ocasionar mitigação de direitos fundamentais, em especial, à inviolabilidade de domicílio, evitando situações de ilicitude que possam implicar responsabilidade administrativa, civil e/ou penal do agente estatal, bem como nulidade de provas;
12. Observância da cartilha de abordagem policial publicada pela DPE/BA;
13. Política de controle de armamento.