COMUNICAÇÃO

DPE/BA comparece à pré-estreia de documentário que retrata a arte do grafite e a cultura negra nos muros de Angola

29/11/2017 22:39 | Por Lucas Fernandes DRT/BA 4922 (texto e foto)

O evento, que faz parte do Novembro Negro, trouxe também uma roda de conversa com líderes do movimento negro e de matrizes religiosas africanas sobre intolerância religiosa e ancestralidade

As Cores da Serpente é um filme que acompanha a trajetória de grafiteiros de Angola no que seria a maior intervenção artística realizada no continente africano, onde artistas negros cobrem com grafite cerca de seis mil metros quadrados de muros. Em sua pré-estreia, o longa-metragem, que foi exibido ontem, 29, no Cinema do Museu, no Corredor da Vitória, contou com a participação da Defensoria Pública da Bahia – DPE/BA, do artista plástico angolano Thó Simões, e de lideranças do movimento negro e do Candomblé.

A defensora pública e subcoordenadora da Especializada de Proteção aos Direitos Humanos, Eva Rodrigues, destacou que através da arte há transformação e educação (inclusive em Direitos), e essa é a ideia da Defensoria em apoiar o evento: “Fico feliz de poder contribuir para que isso acontecesse, também com a roda de conversa, que traz um debate qualificado em tempos de violência contra as religiões de matriz africana. É missão da Defensoria Pública combater isso”.

De acordo com o jornalista e cineasta baiano Juca Badaró, diretor e roteirista do longa-metragem, no filme, o grafite é um pano de fundo para contar uma história que fala de ancestralidade e identidade cultural, temas que se alinham com as lutas da DPE/BA em prol da população negra. “A gente teve a sorte de fazer essa parceria com a Defensoria Pública, que já tem um trabalho realizado na área de Direitos Humanos e fazer esse gancho. Essas questões do racismo e da intolerância religiosa são muito urgentes atualmente”, declarou.

“Eclode uma nova forma de expressão para essa juventude, negra, aguerrida, que se movimenta a partir de Angola: a nossa esperança. Murais revolucionários que nos impedem de uma amnésia cultural, de esquecer da nossa grandeza. Uma juventude que se inscreve nessa memória ancestral para pintar as cores da serpente, as cores de Oxumaré, de Angorô e isso para nós é motivo de orgulho”, exclamou a socióloga e ouvidora-geral da DPE/BA, Vilma Reis.

 

Documentário

Realizado pelo jornalista e cineasta baiano Juca Badaró e pela produtora de cinema Renata Matos, sob um aspecto poético e humano, a película mostra as motivações dos artistas que compõem o Coletivo Murais da Leba (grupo que pretende cercar de arte os paredões que serpenteiam a Serra da Leba, entre as províncias da Huíla e do Namibe). Ambos têm uma estrita relação com Angola, onde já moraram, trabalharam e participaram de diversos projetos.

De acordo com Badaró, o desejo de buscar a própria identidade e as tradições é o que move os jovens artistas de Angola, maioritariamente da periferia de Luanda, que embarcam numa viagem rumo ao sul do país com amor e desejo de transformar. “São povos que ficaram durante 30 anos numa guerra civil e não só a estrutura física, como a própria cultura do país foi destruída”, explica.

O filme busca o objetivo maior de “compreender o que se passa na consciência dos artistas do grafitte quando estes, acostumados a não ter voz e a fazer arte à margem do mainstream, se veem como protagonistas da maior intervenção artística de Angola”.

A deslumbrante formação montanhosa da Serra da Leba, a pintura de seus murais e a arte dialogando com a história e o meio ambiente seriam um bom motivo para o registro. Segundo o jornalista baiano, a Serra da Leba por si só já merecia um filme. “A Leba tem vida e tem alma”, exclama.

 

Roda de Conversa

Após a apresentação do documentário, num papo engajado, lideranças do movimento negro de Salvador e de matrizes religiosas africanas debateram acerca de intolerância religiosa, preconceito e ancestralidade.

De acordo com Vilma Reis, a ouvidoria da Defensoria Pública da Bahia, junto com Conselho Nacional das Ouvidorias, trouxe também ao debate uma nota pública pela liberdade religiosa, frente aos casos emblemáticos de intolerância que têm acontecido no país por conta do avanço da ala fundamentalista conservadora.

O evento, que também tem parceria da Estandarte produções, da produtora Cinepoètika Filmes e do Coletivo Murais da Leba, contou com a participação, entre outros, da educadora e líder comunitária e religiosa, Makota Valdina e do artista plástico angolano Thó Simões.