COMUNICAÇÃO

DPE/BA promove encontro “Situação de Rua Entre a Urgência e Emergência” na Esdep

25/07/2018 15:40 | Por Tiago Lima dos Reis Júnior (texto e foto)

Assistência à saúde e preconceito foram temas debatidos no encontro

“Se você sente fome, nós também sentimos, se vocês choram, nós também choramos; você sabia que nós também sorrimos? Por mais que muitas pessoas achem que não, nós também temos um coração, somos iguais. Olhe o morador de rua como um semelhante seu, porque é isso que nós somos… semelhantes”, declarou André Val, há 18 anos em situação de rua, que participou do encontro “Situação de Rua Entre a Urgência e a Emergência” e é integrante do Movimento População de Rua, núcleo de Feira de Santana.

O encontro foi promovido pela Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, por meio do Grupo de Estudo População em Situação de Rua – GE Pop Rua, realizado na manhã desta quarta, 25, na Escola Superior da Defensoria Pública – ESDEP.

Voltado para a área de saúde das pessoas em situação de rua do município de Feira de Santana, o encontro contou com a presença de sociólogos, psicólogos, assistentes sociais, integrantes do Movimento Nacional de População de Rua do Núcleo Feira de Santana e principalmente, pessoas que já passaram ou estão atualmente vivendo em situação de rua.

“Cuidar das pessoas em situação de rua é diferente de cuidar de pacientes comuns que recebemos nas nossas unidades de saúde. Estratégias específicas precisam ser elaboradas para cada caso, ou seja, uma aproximação acolhedora e criteriosa é necessária, para que saibamos precisamente o que aquela pessoa necessita, qual a sua patologia; É preciso ouvi-las!”, pondera Keila Barros, a enfermeira e coordenadora do projeto “Cuidando da Maloca”, promovido pela Faculdade de Tecnologia e Ciências – FTC, que atua desenvolvendo atividades voluntárias de enfermagem para as pessoas em situação de rua para a população feirense, 2 vezes por semana no turno matutino.

Saindo um pouco da esfera da saúde, o sociólogo Matheus Barros desenvolveu uma pesquisa que mostra que a pessoa em situação de rua não é tão sozinha quanto se imagina e nem tão incapacitada como muitos pensam. Esse estudo aponta que 71% dessas pessoas possuem filhos, 70% possuem vínculo familiar e 86% das pessoas em situação de rua, no município de Feira de Santana, exercem ou já exerceram alguma profissão. Matheus informou que muitas dessas pessoas são invisibilizadas no mercado de trabalho exclusivamente por conta do preconceito.

“O preconceito e a indiferença são constantes! A pessoa em situação de rua é quem nos diz isso. Não tem como falar delas sem a presença e a convivência com elas. Precisamos cobrar e aplicar as políticas públicas de acordo com as diferentes populações de rua. Apesar de todos estarem, nesse momento, moradores de rua, tanto em Salvador quanto em Feira de Santana, as pessoas nessa situação possuem necessidades diferentes, pois habitam municípios distintos. Precisamos lutar para reverter esses quadros”, explica Matheus Barros.

Reni Santos, integrante do Movimento População de Rua de Feira de Santana, falou sobre a necessidade das políticas públicas efetivas. “O morador de rua precisa se informar e conhecer as políticas que são desenvolvidas para elas. Eu estive em situação de rua e não sabia como eu poderia ser beneficiado, como eu poderia sair das ruas. Procurei o movimento de população de rua, fui bem orientado, tive vontade de sair da rua, e hoje consegui! Então a gente sabe que não é fácil, mas também não é impossível… se você quiser, você consegue”, pontua Reni.

GE Pop Rua

Uma luta contínua é realizada pela DPE/BA em prol dos cidadãos em situação de rua, que passam fome, frio, sede e principalmente preconceito. E o maior objetivo da Equipe Pop Rua e do Movimento de População de Rua é compartilhar do dia de amanhã com estas pessoas, oferecendo toda a promoção básica de direitos e toda a garantia de dignidade e cidadania.

A Equipe Multidisciplinar de Atendimento à População em Situação de Rua – Equipe Pop Rua, que integra a Especializada de Proteção aos Direitos Humanos, além de oferecer serviços jurídicos, dispõe também de atendimentos nas áreas de psicologia, assistência social e gênero aos assistidos em situação de rua.