COMUNICAÇÃO

Enem é realizado por adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas com apoio da Defensoria

02/12/2015 0:24 | Por CAMILA MOREIRA DRT 3776/BA (Texto e fotos)
Provas acontecem nesta terça e quarta-feira em cinco unidades de abrigamento em Salvador e interior

I.J.M.B. chegou cedo à Comunidade de Atendimento Socioeducativa – Case Salvador. Ele tinha uma promessa a cumprir, uma aposta feita aos colegas há cerca de um mês, quando saiu da unidade por ter cumprido pouco mais de dois anos estabelecidos pelo juiz para internação na Case. I. voltou porque foi um dos nove inscritos para realizarem o Exame Nacional do Ensino Médio – Enem dentro da unidade. Voltou porque queria reescrever uma nova história. "Se você quer uma vida diferente tem de fazer a diferença", revelou o adolescente antes de fazer a prova.

Nove adolescentes da Case Salvador fizeram nesta terça-feira, 1º, o Exame Nacional do Ensino Médio para pessoas privadas de liberdade, as chamadas PPLs. A prova está sendo aplicada para 58 socioeducandos das Cases Salvador, Feminina, CIA, Camaçari e Feira de Santana, além de unidades prisionais, e conta com o apoio da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA.

"A realização da prova do Enem nas Cases é um grande projeto de inclusão social / educacional, uma vez que a natureza jurídica da medida socioeducativa de internação tem seu viés eminentemente pedagógico", pontuou o defensor público da Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente, Antônio Cavalcanti. Ele visitou os alojamentos e conversou com alguns adolescentes antes do início da prova, marcado para acontecer às 12h.

Assim como no exame regular, as provas serão aplicadas durante dois dias – hoje e amanhã. O tempo de duração das provas também é o mesmo: 4h30 no primeiro dia e 5h30 na quarta-feira. O caderno de provas, no entanto, não possui as mesmas questões aplicadas durante a realização do exame desse ano, em outubro, para garantir a idoneidade de processo.

Sistema Socioeducativo

Para o gestor da Case Salvador, João Ferreira, a iniciativa consolida o que determinam as práticas de operacionalização do sistema socioeducativo e cria possibilidades para o amplo desenvolvimento dos adolescentes privados de liberdade. "O Enem para esse público representa não só a garantia de direitos, mas a possibilidade de construção de habilidades e competências para as exigências da sociedade", destacou. Além da Case Salvador, quatro adolescentes da Case Feminina também se inscreveram para realizarem o exame.

A realização da prova é importante por dois motivos. Ela garante a certificação no Ensino Médio aos adolescentes que obtiverem nota equivalente a 100 nas diferentes disciplinas e redação, além de significar a possibilidade de ingresso no ensino superior a partir do cadastramento no Sistema de Seleção Unificada do Ministério da Educação, o SISU. Assim como qualquer adolescente, os socioeducandos podem ganhar bolsas de estudos em faculdades particulares. E assim como qualquer jovem, dependendo do seu resultado, ele também pode disputar vagas em universidades públicas que utilizam o Enem como porta de ingresso.

"Basta que eles queiram, que tenham vontade. Vi e vivi a expectativa deles para a prova, e acredito que possuam capacidade de serem aprovados", pontuou Adriana Gomes, coordenadora pedagógica da unidade.

Aulões do Enem

A preparação dos jovens para o exame virou um dos pontos sensíveis para a DPE, que encontrou no projeto da estudante do 2º semestre de Psicologia, Ana Tereza Novaes, uma iniciativa para contribuir. A partir de um convite feito a professores de colégios particulares com experiência em aulões de revisão para o Enem, 19 socioeducandos participaram de uma aula promovida especialmente para o grupo em 2014. Este ano, o número de participantes chegou a 31. "A ideia é levar a iniciativa para todas as comarcas onde há unidades de internação. Além dos aulões, teremos também a aplicação de teste vocacional e dinâmica sobre inserção no mercado de trabalho e planejamento de vida, a partir de uma parceria com a Unifacs", explicou a estudante.

Para I. o ingresso na faculdade ainda parece ser um sonho distante, quase inatingível, difícil. Mas no fundo, ele acredita que o impossível pode sim virar realidade. O primeiro passo, aliás, foi dado. E a caminhada não termina aqui.

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