COMUNICAÇÃO

STF: experiência da Defensoria da Bahia com atendimento à população em situação de rua leva Instituição a representar grupo de atuação estratégica em audiência no Supremo

22/11/2022 16:50 | Por Ingrid Carmo DRT/BA 2499
Foto: Supremo Tribunal Federal

Audiência durou dois dias e faz parte da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamento - ADPF 976, que requer que a Corte reconheça o estado de coisas inconstitucional da população em situação de rua

É para ficar marcado na história: a realidade das pessoas em situação de rua de todo o Brasil sendo contada em pleno Supremo Tribunal Federal – STF, em Brasília, por quem vive ou viveu isso na pele e também por instituições, como a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, que teve sua experiência na atuação pela garantia de direitos desta população reconhecida pelo Grupo de Atuação Estratégica das Defensorias Públicas Estaduais e Distrital nos Tribunais Superiores – GAETS e foi escolhida para representar o grupo, nestas segunda e terça-feira, 21 e 22, durante uma audiência pública que atraiu mais de 80 interessados em falar sobre o assunto.

A audiência pública foi convocada pelo ministro Alexandre de Moraes e levantou uma série de medidas que vão ajudar a embasar o que está contido na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamento – ADPF 976, que tramita no STF e requer que a Corte reconheça o estado de coisas inconstitucional da população em situação de rua.

Com 11 anos de experiência no Núcleo Especializado de Atendimento à População em Situação de Rua – Núcleo Pop Rua da DPE/BA e tendo sido recentemente promovida, por merecimento, à Instância Superior da instituição, a defensora pública Fabiana Almeida Miranda, foi quem falou em nome do GAETS e lembrou que, desde 2009, existe uma Política Nacional para a População em Situação de Rua, determinada através do Decreto Federal 7053, e que, até então, só foi aderida por 5 estados e 17 municípios do país.

“A população em situação de rua, no Brasil, enfrenta condições desumanas de vida e sofre, diariamente, com a violação de diversos preceitos fundamentais, mas, principalmente o princípio da dignidade da pessoa humana e os direitos à vida, à saúde, à igualdade e à moradia, o que fere o objetivo fundamental da República Federativa de se construir uma sociedade justa e solidária”, lembrou a defensora pública.

As violações aos direitos de propriedade e ao de ir e vir também foram reforçados por Fabiana Miranda e, segundo ela, costumam ser praticados por agentes públicos. “O que eles chamam de ‘zeladoria urbana’ é, na verdade, uma prática de higienização, na qual as pessoas em situação de rua são tratadas como descartáveis, lixos, assim como seus pertences, únicos pertences, inclusive os documentos pessoais. Além disso, a instalação, pelo poder público, de equipamentos de arquitetura hostil, tais como grades, bancos com geometrias irregulares, jardins com plantas, como cactos, pedras, sem nenhuma conotação estética, em formato geométrico diversos nas calçadas, embaixo de marquises, apenas para impedir que um corpo humano, que não tem para onde ir, possa descansar”, revelou.

Cronograma

Na ADPF 976, promovida pela Rede Sustentabilidade, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), na qual o GAETS participa como amicus curiae (amigo da corte), foram listadas 29 ações concretas para garantir os direitos da população em situação de rua. Agora, com o fim da audiência, o ministro Alexandre de Moraes pretende reunir gestores públicos, como governadores e prefeitos, para conversar sobre todas as sugestões apontadas na audiência pública e construir um cronograma de ações sobre o tema.

“Nossa proposta com esta audiência pública é fazer um diagnóstico da situação para, a partir daí, propor e construir uma solução. Vamos propor aos Estados e Municípios medidas concretas e com execuções possíveis para garantir os direitos das pessoas que não têm um lugar para chamar de seu”, explicou o ministro.