COMUNICAÇÃO

GE Pop Rua da Defensoria apresenta fluxograma para orientar enfermeiras sobre atendimento a gestantes em situação de rua

22/01/2021 17:57 | Por Tunísia Cores - DRT/BA 5496

Orientações visam desde acolhimento à garantia da continuidade dos serviços na rede, não apenas de saúde, mas também ligados aos direitos sociais e à cidadania

Como enfermeiras podem promover o melhor atendimento à mulher gestante em situação de rua, bem como os seus filhos recém-nascidos? Para discutir melhor a questão, a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA realizou virtualmente, nesta quinta-feira, 22, o encontro do Grupo de Estudos e Pesquisa População de Rua e Direitos Humanos – GE Pop Rua. O objetivo foi apresentar o Fluxograma do Cuidado da Enfermeira à Gestante em Situação de Rua em Feira de Santana, município localizado no território de identidade Portal do Sertão.

O trabalho é resultado da dissertação de mestrado desenvolvida pela enfermeira Keila Barros no programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS. Intitulada “Mulheres que gestam nas ruas e suas vivências de cuidado”, a dissertação teve a orientação da docente Rita de Cássia Rocha Moreira e obteve a colaboração de Wesley Anderson Araújo dos Santos e Emanuela Barcelar Freitas de Carvalho.

Mediada pela defensora pública Fabiana Miranda, responsável pelo Núcleo de Atendimento Multidisciplinar para a População em Situação de Rua – Núcleo Pop Rua, e também pela assistente social da Defensoria, Sandra Carvalho, a iniciativa reuniu cerca de 30 pessoas e visou promover direitos sociais das mulheres gestante em situação de rua por meio da capacitação da rede de profissionais de saúde que atuam com o respectivo público, além da sociedade civil e de outros componentes do Sistema de Justiça.

“Como é função da Defensoria baiana promover o acesso aos direitos fundamentais, difundimos o trabalho da Keila visando uma articulação para promover o direito à saúde desta mulher gestante e seus recém-nascidos. Além disso, é também possível, a partir de uma análise dos defensores, que a Instituição faça recomendações para que este fluxo seja adotado em Feira de Santana”, afirmou Fabiana Miranda. A defensora pública Paula Lincon Silva, que atua na 1ª Regional da DPE/BA, também participou do encontro.

Fluxograma de atendimento

Ferramenta utilizada para estabelecer a sequência de ações, o fluxograma viabiliza a visualização de todo o processo de atendimento do público-alvo e, no caso apresentado por Keila Barros, o objetivo principal foi viabilizar o atendimento em aspectos que variam desde o acolhimento até a garantia da continuidade dos serviços na rede, não apenas de saúde, mas também daqueles que irão garantir direitos sociais e de cidadania.

O momento inicial do fluxograma foi construído considerando três aspectos diferentes. O primeiro diz respeito ao perfil da enfermeira, o qual leva em consideração competências, habilidades (sensibilidade, empatia, escuta atentiva), além de conhecimentos técnicos e intersetoriais do município e da rede de serviços e parceiro.

“Na academia, pouca gente discute sobre o cuidar e, a partir dessa minha inquietação, eu me aprofundei para saber como fazer. Quando estamos nesta posição, cuidamos de todos independentemente do local. É importante que tenhamos sensibilidade para conseguirmos compreender como realizar o melhor cuidado possível a essas pessoas e não se trata somente do manejo técnico, mas de escutar, acolher. E com a população em situação de rua, é muito importante termos essas tecnologias leves para que a gente consiga realizar um cuidado mais atentivo”, explicou Keila.

A mestra em Enfermagem enfatizou a importância da existência de uma equipe multidisciplinar e da atuação em rede, o que leva ao segundo aspecto de destaque do fluxograma: a viabilização da saúde da mulher (gestante), em que são considerados pontos como acolhimento, promoção, recuperação e manutenção da saúde.

Há também o terceiro aspecto, que é a existência da rede de parceiros e serviços associados ao cuidado da gestante em situação de rua. “É de grande importância conhecer a rede de serviços e parceiros. O que observamos [no dia a dia] é que alguns serviços não se comunicam e isso interrompe o fluxo necessário para proporcionar o melhor cuidado, interfere no benefício e na assistência a essas mulheres que já vivem em uma situação delicada”, destacou.

O fluxograma também apresenta, em um segundo momento, o fluxo de acolhimento à mulher em situação de rua com suspeita de gravidez, onde especifica orientações para a realização do teste de gravidez ou de exame laboratorial para se certificar da gestação. Há indicações de unidades de saúde, tais como Unidade Básica de Saúde – UBS, Estratégia de Saúde da Família – ESF (modelo assistencial da Atenção Básica), Consultório na Rua – CnaR ou também em Maternidades.

Neste ponto, há orientações também sobre casos em que a mulher se nega a realizar o teste de gravidez, conhecimento sobre tratar-se de uma gravidez desejada ou não, dentre outras questões.

Também é fundamental no fluxograma do atendimento pré-natal com possibilidade de assegurar respeito e cuidado com suas peculiaridades e especificidades. “O pré-natal tem como finalidade acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurar, ao fim da gestação, o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem-estar materno e neonatal. Dessa forma, as enfermeiras e sua equipe deverão realizar busca ativa e realização do pré-natal de risco habitual pelo Consultório na Rua e/ou vinculado com a UBS ou ESF”.

É importante verificar se a gestante deseja realizar a laqueadura tubária e, em caso positivo, averiguar se a mulher enquadra-se nos critérios estabelecidos para a realização do procedimento (capacidade civil plena; maior de 25 anos; ter dois filhos vivos, duas cesarianas prévias, risco à vida ou à saúde da mulher ou concepto).

Além disso, é importante que a enfermeira verifique se há uma necessidade de pré-natal de alto risco. Neste caso, a profissional de saúde deverá encaminhar a gestante para o serviço especializado nas maternidades de acordo com o protocolo estabelecido no fluxograma.

Encaminhamentos

O encontro virtual do GE Pop Rua gerou alguns encaminhamentos importantes para viabilizar o pleno atendimento, por parte das enfermeiras, às mulheres gestantes em situação de rua em Feira de Santana. Serão elencados os principais órgãos e instituições que atuam com este segmento da população a fim de que possam receber recomendações para a adoção do fluxograma no atendimento.

Também foi aprovada a sugestão de criação de um Grupo de Trabalho Materno Infantil municipal, em Feira de Santana. Tal sugestão será encaminhada à Prefeitura local.