COMUNICAÇÃO
Grupo de Estudos Acolher aborda gênero e sexualidade na infância e na adolescência
O debate falou sobre as vulnerabilidades do jovem LGBT e sobre os desafios de ser "fora dos padrões estabelecidos pela sociedade".
Os estudos realizados pelo Projeto Acolher mostram que o jovem homossexual que consegue se assumir sofre discriminação, bullying e muitas vezes a quebra do vínculo familiar e das amizades, o que pode levá-lo a buscar refúgio na rua, no mundo das drogas, do álcool ou da prostituição, por não ser (ou se sentir) aceito em sua casa. Estas considerações foram feitas pela analista em gênero e diversidade, Sílvia dos Santos Teles, que ministrou palestra no 3° Encontro Temático do Grupo de Estudos do Projeto Acolher, da Curadoria Especial. O evento aconteceu na Escola Superior da Defensoria Pública – Esdep, nesta quarta-feira, 26/07.
Sílvia mostrou como é difícil ser homossexual num ambiente conservador e expôs as dificuldades de falar sobre o assunto no cenário político atual, cercado de polêmicas e de tentativas de retirar os temas de educação sexual e diversidade das escolas. De acordo com Sílvia, o preconceito com o jovem LGBT afeta muito a vida escolar e profissional, tornando complexo o ingresso no mercado de trabalho. “Precisamos levar esse assunto para as escolas, para as universidades, para as instituições, para que essas crianças e adolescentes não parem de estudar e para que haja uma mudança e essa discriminação diminua”, declara.
A palestrante Inês Silva Santos – Coordenadora Nacional da Família pela Diversidade – revelou que aceitação e o respeito ao homossexual é uma questão de empatia. “Pais e mães que expulsam seus filhos de casa assinam indiretamente o seu atestado de óbito. O filho não é descartável. Por mais que você não entenda, você tem que amar, tem que cuidar. Se fosse eu, como é que eu agiria? O filho não é um brinquedo que deu defeito, que você vai devolver, cada ser humano tem suas particularidades”.
Inês também narrou a sua história de vida. Com dois filhos (um casal) que se descobriram gays, e mergulhada num ambiente homofóbico, ela precisou se desconstruir para enxergar a diversidade com naturalidade, como algo inerente ao ser humano. Hoje ela toca o projeto “Família Pela Diversidade” de maneira voluntária, num esforço pessoal de levar informação e uma visão de mundo menos preconceituosa para as famílias brasileiras. “É possível ter uma orientação conservadora – não concordar com a diversidade – mas respeitar isso”, afirma.
Estagiário da Trans (Associação de Travestis e Transsexuais de Salvador) e estudante do grupo de gênero e diversidade da Ufba, Marcos de Jesus dos Santos assistiu ao evento e revelou que era a primeira vez que ia à Defensoria. Para ele esse é um tema muito importante para ser debatido nesse ambiente institucional voltado às demandas populares dos mais vulneráveis. “Espero estar de volta”, sorri.
Defensoria na luta contra o preconceito
O defensor público Ricardo Carillo Sá destacou a importância do tema para a sociedade e para o Direito, ressaltando que a Defensoria Pública deve ter uma postura proativa e abrir esse espaço de comunicação para a sociedade, não apenas esperar “ser provocado”, fazendo alusão ao princípio da inércia, que permeia o mundo jurídico.
A defensora pública Ana Virgínia Rocha complementou, informando que a Defensoria Pública tem entre os seus princípios institucionais o fomento às políticas públicas. “No dia a dia do nosso atendimento percebemos a quantidade de pessoas que se declaram LGBT. Por conta disso surge a necessidade de aprender e de produzir conhecimento para as pessoas que trabalham conosco e, principalmente, ouvir o nosso assistido. E aqui é um lugar neutro onde se ouve a fala do outro, a posição, a visão que ele tem do assunto. É um lugar onde a gente aprende”. Ana Virgínia afirmou que pretende levar o assunto para outros espaços (Cases, instituições de acolhimento e para as instituições de cumprimento de medidas socioeducativas).