COMUNICAÇÃO
Idoso abandonado é atendido graças a intervenção da Defensoria
Graças a uma denúncia feita por telefone, a Defensoria Pública da Bahia (DPE) pôde intervir em mais um caso de violência contra a pessoa idosa em Salvador. O aposentado Benedito Gregório de Souza, de 70 anos, estava abandonado e doente em sua casa, no bairro de Tancredo Neves, na tarde de ontem, 4, quando a dona-de-casa Dilma Vieira da Silva, sua vizinha, telefonou para a DPE queixando-se de dificuldades para encontrar uma vaga para internamento do aposentado.
Ela disse que ele estava com uma enorme ferida na perna e precisava de atendimento médico urgente. Conforme relatou, o caso era grave porque uma das pernas de Benedito estava "cheia de bicho". "A ferida está toda aberta e cheia de moscas. Da minha casa dá até para sentir o mau cheiro", argumentou. Segundo ela, o médico que o examinou da última vez disse que a lesão trata-se de uma "miíase" - doença parasitária provocada pela larva de um mosquito. Ainda de acordo com a dona-de-casa, o aposentado encontrava-se nessa situação há bastante tempo.
Benedito, por sua vez, se diz viúvo e que tem dois filhos que moram longe. "Ele fala que é viúvo e tem dois filhos, mas ninguém nunca os viu por aqui", declara Dilma. "A única pessoa que eu vejo entrar na casa dele é uma mulher que se diz faxineira dele", acrescenta.
A dona-de-casa contou que, primeiro, procurou ajuda na 11ª Delegacia de Polícia do bairro, no início da tarde da última quarta-feira (3), mas os agentes que estavam de plantão aconselharam-na a procurar o Serviço de Atendimnto Móvel de Urgência - SAMU. Ao ligar para o 192, foi informada pela Central de Regulação da Secretaria de Saúde do Estado (SESAB) de que o serviço só atende casos de acidentes e que não poderia autorizar o deslocamento de uma ambulância.
A defensora pública Walmary Pimentel, subcoordenadora do núcleo de atendimento ao idoso, entendeu que o caso era de extrema urgência. "Vamos transportar o aposentado. É preciso conseguir vaga em algum hospital", disse.
A Defensoria contatou as Obras Assistenciais Irmã Dulce, que, através da coordenadora Terezinha Pacheco, afirmou dispor de uma vaga, mas que precisava da autorização da Central de Regulação. A Secretaria da Saúde, então, foi acionada, atendendo ao pleito.
APOSENTADORIA - Segundo uma vizinha que não quis se identificar, a jovem Emiliana Ribeiro, 25, que se apresentava como companheira de Benedito, era a única pessoa que freqüenta a casa dele.
Antonio de Jesus, que também mora próximo da casa do idoso, conta que só vê a jovem no começo do mês, sempre na época em ele recebe a aposentadoria. "Ela só aparece aqui todo dia 5, para tirar o benefício dele", afirma.
Emiliana, no entanto, diz que conheceu Benedito há cerca de oito meses, quando ele morava em uma outra casa; na mesma rua. "Eu comecei a fazer faxina para ele. Lavava, passava e cozinhava. Depois, ele foi ficando com a perna inchada. Aí eu comecei a cuidar dele." argumenta. Ela afirma que é injustiçada ao ser acusada pelos vizinhos de "sacar" a aposentadoria do idoso. "Eu nem posso tirar o dinheiro dele. Eu só o acompanho até a ‘boca do caixa". Além disso, argumentou que permaneceu ausente "há algum tempo" porque cuidava do filho recém-nascido.
O que piorou ainda mais a situação de Benedito, segundo Emiliana, foi sua teimosia. "Mesmo nessa situação, ele gosta muito de tomar cerveja", revelou. A dona da casa alugada pelo aposentado, Maria Ambrosina, de 78 anos, falou que ele chegou ao local há pouco mais de três meses, mas seu filho é quem tem mais contato com o aposentado. "Meu filho recebe o dinheiro do aluguel todo mês", ressalta.
A defensora Walmary esteve no local na tarde de ontem, 4, e acompanhou, de perto, o atendimento realizado pela equipe do SAMU. O aposentado foi levado para uma unidade das Obras Sociais Irmã Dulce - OSID, no Largo de Roma, na Cidade Baixa, onde encontra-se neste momento.