“A seguir, você terá os telefones úteis de Irará, sertão da Bahia”. Quando a música ‘Metro Guide’, do cantor e compositor Tom Zé, foi lançada há quase quatro meses, a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA ainda não tinha chegado à cidade de Irará, mas uma paródia que alcançou mais de 10.800 visualizações na página da Defensoria no Instagram incluiu mais um telefone útil na canção e anunciou: “o sertão da Bahia já tem Defensoria […] Até ontem lá não tinha, mas agora já tem. É para a defesa do pobre: telefone 129”.

A ideia da paródia partiu do defensor público geral, Rafson Saraiva Ximenes, e deu o tom de que a música, a arte, cultura e a cidadania seriam as marcas do primeiro Núcleo Ecológico (Econúcleo) da Instituição, inaugurado na última quinta-feira, 13, e que leva o nome de uma das músicas de Tom Zé, Menina Jesus, na fachada.

“Não existe como fazer defesa da população mais necessitada se não tiver a sensibilidade que só a arte traz. Esta é a primeira vez que inauguramos uma sede com o nome de uma música e não é uma música qualquer, não é uma história qualquer: é a história de alguém que saiu da cidade e tinha um sonho de ter RG, título de eleitor, televisão e um rádio de pilha. Estamos sincronizando, aqui, tudo que representa o trabalho da Defensoria e fazendo uma homenagem a um grande cantor e compositor que é filho da terra e que levou o nome de Irará para o mundo”, lembrou o defensor-geral.

Uma lógica de existir poética

Representante da arte, o poeta da cor, João Martins, não escondeu a felicidade em ver a Defensoria chegar à sua cidade natal. “Eu, enquanto filho desta terra, só tenho a agradecer à Defensoria por este momento histórico que é chegar a Irará”, comemorou o poeta, que ajudou na articulação para a implantação da unidade.

Já a defensora Lavínie Eloah Cerqueira Pinho, que também é natural de Irará e vai atuar com o defensor público Eduardo Herbert Lordão Souza na cidade, lembrou de mais filhos ilustres da terra.

“O iraraense tem uma lógica de existir poética. Não é à toa que, além de Tom Zé, aqui temos João Martins, a Filarmônica [da qual ela foi aluna], Mãe Melânia, Doutor Deraldo e Lôro. A ancestralidade, aqui, tem um peso muito importante: eu sou filha de Gal e de Luiz e neta de Socrinha da Laranja. Que eu, alfabetizada nesta terra, possa retornar para cá, prestar os meus serviços e fazer valer essa benção e esse presente que recebi”, contou, emocionada e lembrando dos tempos de infância e adolescência quando brincava naquela mesma praça em frente à sede da Defensoria.

Ainda em seu discurso, Lavínie Eloah lembrou uma música famosa sobre a cidade e que é uma das mais tocadas na maior manifestação cultural do município, a lavagem de Irará. “Maré já encheu, maré já vazou, de longe, bem longe eu avistei Irará”, citou. “A maré pode encher, a maré pode vazar, mas a Defensoria Pública não sai mais de Irará”, garantiu e rimou o defensor-geral Rafson Ximenes.

Se a cidade estava em festa pela chegada da Defensoria, as boas-vindas à Instituição foram dadas em grande estilo pela Filarmônica 25 de Dezembro, regida pelo maestro Levi Maia e que, a cada música, arrancava aplausos de quem lotou a Rua das Palmeiras para ver a inauguração do Econúcleo de perto.

Arte em caricatura

Além da fachada, a homenagem da Defensoria a Tom Zé, aos artistas de Irará e a toda população que sonha e quer ter seus direitos garantidos está estampada na caricatura que foi emoldurada na sede e é de autoria do designer gráfico e artista plástico Antonio Carlos Felix de Almeida, servidor que atua na Assessoria de Comunicação – Ascom da Instituição. Além do desenho em referência ao cantor, a moldura traz elementos do sertão, como o sol forte, os cactos e as aves. “Que essa casa represente a união entre cidadania, arte e força popular que garantirá um melhor futuro para o nosso povo”, destaca a arte.