COMUNICAÇÃO

IPIAÚ – Chegada da Defensoria transforma realidade de acesso à Justiça da população

08/04/2022 13:22 | Por

Unidade que atende também população de Barra do Rocha completou seis meses de inauguração em março de 2022, com mais de 1,2 mil atendimentos realizados

Aos 59 anos, Valdelice dos Santos passa por uma situação que jamais imaginou viver: após construir uma casa por dez anos em Barra do Rocha, no Médio Rio de Contas, e morar no local por mais três anos com o antigo companheiro, sente que a sua morada está ameaçada por conta da separação. Por isso, recorreu à Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA em Ipiaú para buscar seus direitos.

“Nós temos uma casa em Barra do Rocha. Nos separamos e fizemos um acordo para, depois, ele passar a casa para o meu nome porque eu não tenho condições de sobreviver assim. Eu sou doente, tenho problema de coluna e não aguento mais trabalhar. Mas agora os filhos não deixaram que ele passasse a casa para mim, então eu vim aqui para ver se eu tenho direito à casa ou não”, explicou Valdelice.

A assistida conta que vivia com o ex-companheiro em outro município quando decidiram construir a casa em Barra do Rocha. Quando os filhos se opuseram à transferência do imóvel, Valdelice conta que o sentimento negativo de rejeição tomou conta de si, mas precisou avaliar quais atitudes deveria tomar.

“Eu me senti rejeitada com isso. Mas algumas pessoas me informaram que aqui [na Defensoria] era o lugar certo e eu vim porque tinha defensor público. Vim conhecer meus direitos. E o sentimento que tenho ao sair daqui, hoje, é de esperança”, compartilhou.

O caso da Valdelice dos Santos está entre os 1,2 mil atendimentos realizados na comarca de Ipiaú pela Defensoria Pública da Bahia nos seis primeiros meses desde a inauguração, ocorrida em setembro de 2021. Para o defensor público Raphael Varga Scorpião, que atua na unidade, a procura pelos atendimentos da Instituição mostra o impacto gerado na sociedade local.

“Parece que, antes da chegada da Defensoria, era muito comum a ideia de que se a pessoa sofreu alguma injustiça realmente não tinha muito o que fazer. Hoje, parece que até em casos de lesões muito simples, há um conhecimento de que existe realmente um órgão que está ali para atendê-las”, explicou.

Na comarca de Ipiaú, as principais demandas estão distribuídas nas áreas de Família, Saúde e Consumidor. Neste último caso, um dos assistidos foi Jonas Souza, que buscou a Defensoria após o seu notebook – utilizado para estudos e trabalho – apresentar defeitos. Ao encaminhá-lo para a assistência técnica, novos problemas se apresentaram.

“Eu estava tendo muitos transtornos com o equipamento. Tentei dialogar com a empresa, mas ela não quis resolver a questão. Então, eu vim para a Defensoria Pública ver como poderiam me ajudar aqui”, contou Jonas.

Jonas Souza foi um dos primeiros a buscar atendimento em Ipiaú e recorreu à Instituição logo após tomar conhecimento nas redes sociais de que a nova sede seria inaugurada em breve, bem como acompanhar entrevistas nas rádios locais sobre a atuação da DPE/BA.

“Mesmo ciente de que poderia entrar no Juizado Especial independentemente de advogado, preferiu recorrer à Defensoria. Em outubro foi ajuizada uma ação indenizatória e, na primeira quinzena de dezembro, o processo foi sentenciado com ganho de causa para o consumidor”, explicou Raphael Varga.

Para a defensora pública Rebeca Lima e Silva, um dos casos mais emblemáticos e de rápida resolução que passaram pela Defensoria de Ipiaú foi relacionado a um tênis comprado por uma mãe, em uma loja de calçados, para o início das aulas presenciais do seu filho. No primeiro dia de aula, o solado descolou e, ao tentar reaver o dinheiro gasto, recebeu uma negativa da loja: foi informada de que o produto precisaria ser retido para avaliação e, após 10 ou 15 dias, receberia de volta o produto com o solado colado.

Rebeca Lima e Silva relata que a assistida, com razão, ficou muito brava com a resposta do estabelecimento. Diante da situação, a defensora pública seguiu um protocolo de atendimento a fim de buscar resolver a demanda extrajudicialmente. Ao consultar a assistida e verificar que a devolução do dinheiro atenderia à sua necessidade, a DPE/BA entrou em contato com a loja e o dinheiro foi devolvido horas depois.

“Ela recebeu o dinheiro e nos mandou uma mensagem pelo whatsapp elogiando o atendimento, dizendo que contaria para todo mundo que o serviço da Defensoria Pública era maravilhoso e que o problema foi resolvido. Acho que ela nunca imaginou que seria tão rápido resolver, até porque ela já tinha tentado [esse caminho]”, relembrou a defensora pública.

Rebeca Lima e Silva destaca que nem todos os casos são simples e rápidos de resolver. No entanto, a busca pela ágil resolução das demandas em benefício dos assistidos de Ipiaú e Barra do Rocha provocaram transformações profundas rumo à busca pela garantia dos direitos.

“Houve uma mudança no entendimento das pessoas sobre seus direitos e sobre quem elas devem procurar quando estes são violados. Ao terem seus direitos garantidos, as pessoas entenderam que havia uma Instituição que poderia auxiliá-las, mesmo que não pudessem pagar advogados e isso alterou toda a estrutura”, finalizou.