COMUNICAÇÃO
“Jovens na Medida” recepciona turma de socioeducandos que prestarão serviços comunitários na Defensoria
Retomado em 2022, projeto faz parte da atuação institucional para acolher adolescentes que respondem por alguma ato infracional e tiveram estabelecido pela Justiça o cumprimento dos serviços
“Um ato que foi praticado não define uma pessoa. Não nos limitamos a ser apenas um episódio ou momento que vivemos. Todos erramos, mas podemos também ressignificar estes erros e nossas vidas. Aqui todos vão ser tratados da mesma forma, com o mesmo respeito”, disse a defensora pública Mariana Salgado para o grupo de jovens que cumprirá medida socioeducativa de prestação de serviços à comunidade na Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE/BA), em Salvador.
A preleção ocorreu na manhã da segunda-feira, 7, no auditório da Escola Superior da Defensoria (ESDEP) como parte do projeto “Jovens na Medida”, que tem 12 anos e esta sendo retomado em 2022, já que foi interrompido por causa da pandemia. Desenvolvido pela Especializada da Criança e do Adolescente, o projeto acolhe adolescentes que tiveram estabelecido pela Justiça o cumprimento dos serviços como primeira medida ou progressão de regime.
Um dos socioeducandos que prestará serviços à comunidade na Defensoria este ano é Marcos*, 18. Com dificuldades econômicas, ele cometeu um ato infracional dois anos atrás. “Foi a precisão para ajudar minha mãe em casa, com minha irmã pequena com fome. Nessas horas bate um aperto no coração que a pessoa é capaz de fazer loucuras”, conta Marcos, que obteve uma progressão de regime.
Além de Marcos, este ano o projeto inicia suas atividades recepcionando outros 16 jovens. Nesta terça e quarta-feira, 8 e 9, eles irão se juntar aos novos estagiários de nível médio da Defensoria durante um minicurso de formação. “Desde o começo a ideia é justamente incluir sem preconceitos, por isso a formação conjunta”, explica a servidora Cacilda Queiroz da DPE/BA.
Depois do minicurso, os socioeducandos passarão a prestar oito horas semanais de serviços de caráter público gratuito por até seis meses, período em que também não podem deixar de frequentar a escola. Na Defensoria, as atividades passam pelo estímulo ao desenvolvimento cognitivo, educacional, profissional e cidadão. Além disso, haverá rodas de conversa sobre assuntos que abordam temas como violência doméstica/familiar, masculinidade tóxica, entre outros.
Para o socioeducando Juarez*, 20, que cometeu ato infracional também porque precisava de dinheiro, a prestação de serviços comunitários é um caminho mais promissor com seu futuro. “Cumprir esta medida ao invés de estar internado é muito melhor. Vir aqui, além de ficar em paz para refletir sobre o que fiz, é até uma oportunidade de mudar minha vida”, assinalou.
A defensora pública Mariana Salgado explica que o preconceito segue sendo um dos principais obstáculos à política pública socioeducativa em meio aberto. “A nossa luta também é essa: que outros órgãos, instituições públicas e mesmo entidades privadas que prestam serviços à comunidade se sensibilizem. Isto para que os jovens prestem esse serviço em favor da própria comunidade. Se há a previsão desta prestação, ela deve ocorrer. É a efetivação de um direito que ao mesmo tempo é dever”, comenta.
*nomes fictícios para preservar a identidade