COMUNICAÇÃO
Liberdade na Estrada: Defensoria garante liberdade de jardineiro que ficou quase um ano preso apesar de exame de sanidade mental provar que era inimputável
Situação foi identificada pela Instituição durante realização de projeto que percorre as unidades prisionais do Estado com a Unidade Móvel de Atendimento
Se quinta-feira é dia de TBT, que, em inglês, significa throwback thursday e pode ser traduzido como um resgate das lembranças, a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA aproveitou esta quinta-feira, 27, para relembrar a primeira viagem do projeto Liberdade na Estrada, realizada há três semanas e que não vai sair da memória de quem estava lá.
Imagine a situação: um homem responde a um processo de ameaça, é condenado a pena de multa no valor de um salário mínimo, mesmo após a condenação tem sua prisão preventiva decretada, é submetido a um exame de sanidade mental, a prisão preventiva é convertida em internação provisória, o resultado do exame sai e aponta que ele não possuía capacidade de entendimento na época do crime, ou seja, era inimputável e deveria estar isento de qualquer tipo de pena. Nesse vai e vem, ele fica quase um ano privado de liberdade, mesmo que sua pena não tenha sido essa.
A história é longa, mas em uma frase curta e cheia de significado, “eu não sei o que seria de mim sem a Defensoria”, o jardineiro Geovane Silva, 34 anos, jamais vai esquecer que se não tivesse entre os atendidos e atendidas pelo projeto Liberdade na Estrada, de iniciativa da Especializada Criminal e de Execução Penal e que percorre as unidades prisionais da capital e do interior com a Unidade Móvel de Atendimento – UMA, teria completado na última terça-feira, 25, um ano preso no Conjunto Penal de Juazeiro.
Em um caso em que a juntada de informações da Defensoria fez toda a diferença, o direito de liberdade do jardineiro foi garantido após uma atuação conjunta entre a defensora pública Larissa Guanaes, que identificou a situação durante a análise processual, a coordenadora da Especializada Criminal e de Execução Penal, Fabíola Pacheco, e o coordenador da 5ª Regional – sediada em Juazeiro, André Lima Cerqueira.
“Além de oficiar o Juízo da comarca pedindo a extinção da pena e a expedição de Alvará de Soltura, diante da urgência do caso e das evidências de um laudo que comprova a inimputabilidade e que já tinha sido juntado ao processo, fizemos a diligência por telefone mesmo”, explicou o coordenador André Lima Cerqueira, que entrou em contato com a Vara Criminal da comarca onde o processo tramita e diligenciou a situação.
Chave de ouro
Após o dia inteiro de diligências por parte da Defensoria, a resposta que o jardineiro tanto queria ouvir encerrou o projeto Liberdade na Estrada com “chave de ouro”, ou melhor, com a chave que abriu os portões da unidade prisional e garantiu o direito de liberdade de Geovane.
“Ficamos muito felizes e realizados quando determinadas injustiças são desfeitas. Embora ele tenha agido em desacordo com a lei, a forma com que estava sendo punido era injusta. A liberdade é preciosa e a ideia desse projeto é, justamente, essa: garantir o direito de liberdade de pessoas que têm esse direito e que, efetivamente, não deveriam estar aqui. Nossa missão foi cumprida e fechamos com chave de ouro”, contou a coordenadora da Especializada Criminal e de Execução Penal e autora do projeto, Fabíola Pacheco, enquanto lia e explicava para o jardineiro cada uma das sete medidas cautelares que foram impostas e que ele deverá cumprir.
Na dúvida se foi coincidência ou destino, o jardineiro atravessou os portões do Conjunto Penal na mesma hora em que a Unidade Móvel também estava saindo e assim que viu o caminhão não parou de agradecer. “Obrigado a cada um de vocês, muito obrigado mesmo”, repetia a todo o momento com o Alvará de Soltura nas mãos e após ter a certeza de que aquele 7 de outubro era seu dia de sorte: livre, contando toda sua história e já fazendo amizades, Geovane ganhou até carona de uma, até então, desconhecida, para voltar para sua cidade natal.