COMUNICAÇÃO

Lugar de Fala revela talentos artísticos de jovens após encontro que abordou cultura

12/11/2019 18:17 | Por Leilane Teixeira - Estagiária com supervisão de Vanda Amorim DRT/PE 1339
Atividade na Case Salvador

“Escola é chata, professores são chatos, alunos são chatos, até eu sou chato. Troquei a chatice da vida por coisas que eu achava que eram boas. Achava, não são boas. Fiz uma atitude impensada, acabei me arrasando pelas minhas paradas. Que paradas? Paradas que parou a vida da minha mãe, a vida do meu pai e até a dos meus irmãos. A vida parou mas continuou. E hoje estou aqui cumprindo a minha medida, na Case Salvador.”

O poema acima foi recitado por Jonathan* ao final de mais um encontro do Projeto Lugar de Fala, realizado ontem, 11, na Case Salvador. O quinto encontro abordou o tema Arte e Cultura Negra, com objetivo de levar conhecimento sobre toda história cultural de origem negra e fazer com que os jovens descobrissem em si uma arte talvez antes despercebida.

O projeto, que é promovido pela Defensoria Pública do Estado da Bahia, por meio da Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente,  levou como convidada para abordar o tema a doutoranda em Difusão de Conhecimento pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Mabel Freitas, a qual acredita que falar sobre cultura com esse público, sobretudo cultura negra, gera uma relação de identificação nos jovens e faz com que repensem sobre seus sonhos.

De acordo com Mabel Freitas, a palestra foi trabalhada de uma forma interativa para falar sobre a cultura negra, especificamente no que tange a arte em si. Em sua avaliação, ainda é uma arte que sofre preconceito, não é aceita como arte bonita, bela e nobre. “Esses jovens aqui são majoritariamente negros. E fundamental trazer à tona a realidade cultural deles, trazer nomes negros que fizeram a diferença e servem de espelho. Mostrar que nós, negros, também podemos chegar a muitos lugares com a nossa própria cultura”, relatou.

Mabel, que também é pesquisadora de relações raciais e tem uma larga experiência com socioeducação, completa ainda que pode ter agora na Case Salvador futuros artistas que ainda não se descobriram. ” Então eu trouxe exatamente um momento para gente pensar em descobertas de talentos e resgatar a história do nosso país. Se a gente não se auto conhece, a gente não se entende e nem consegue construir a nossa caminhada”, finalizou.

Lugar de fala

Ao longo da manhã foi exposto a definição de cultura, esmiuçando suas categorias como: raça, geração, classe, crença, orientação sexual e deficiência. Foi mostrado alguns exemplos de arte; belezas naturais dos países africanos; moda e estilo africano; artistas baianos negros como representatividade; além de passar dois vídeos que dialogaram sobre o assunto.

Os jovens se depararam com quadro composto por diversos tipos de artes e expuseram com quais identificavam-se. Para Jonathan* – já citado no início – foi nos versos da poesia que ele encontrou uma forma de expressar seus sentimentos e de continuar sonhando enquanto cumpre medida socioeducativa na Case Salvador. “Meu sonho é sair daqui, cursar direito e ser um bom advogado. Mas aqui eu descobri que gosto de escrever e quero continuar escrevendo sempre, podendo expressar meus sentimentos em forma de poesia”, disse o jovem.

Dança, cinema, poesia e música foram as artes que mais geraram identificação nos jovens. João*, aproveitou o momento para escrever a música que compôs (conforme imagem abaixo). Ele diz não saber ainda qual seu sonho, mas assume: “Gosto muito de música e me sinto feliz quando escrevo uma”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Case feminina

Na sexta feira, 08, o Projeto esteve na Case Feminina. Também com foco cultural, as jovens e adolescentes receberam representantes do grupo de capoeira Nzinga e, ao final, aproveitaram o momento para fazerem uma roda de capoeira.

Para o defensor público Bruno Moura, idealizador do projeto, em todos os encontros a ideia é levar um assunto que faça parte da realidade deles. “Os temas escolhidos dialogam com a realidade deles e é fundamental no fortalecimento pós medida. A informação como instrumento de poder é algo que todos esses jovens devem levar, porque é o conhecimento que fará a diferença na vida deles no momento em que estiveram fora da Case”, explicou o defensor.

*Nomes fictícios