“Não quero ser mártir, quero estar vivo, lutando. Eu trocaria todas as homenagens, o símbolo global de luta por justiça, liberdade e equidade de gênero que a Marielle [Franco] se transformou por ela estar viva”, declarou o jornalista, escritor, professor e ex-deputado Jean Wyllys durante a roda de conversa promovida pela Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA nesta sexta-feira, 04.

Com o apoio da Fundação Pedro Calmon, o bate-papo aconteceu na Biblioteca Central da Bahia, onde Jean Wyllys contou um pouco da sua experiência nos anos em que precisou ficar longe do Brasil, em um momento que corria risco de morte por causa da perseguição política.

Jean Wyllys falou sobre a importância da Defensoria Pública enquanto vigilante de direitos humanos, para garantir a dignidade de viver para quem luta pelas minorias, e que, por isso, pode virar um alvo.

“A Defensoria enquanto instituição tem um posicionamento: pelos direitos humanos, pelas pessoas”, destacou a defensora e coordenadora de Direitos Humanos da DPE/BA, Lívia Almeida, que mediou o debate.

Lívia ainda lembrou momentos que a Defensoria lutou ativamente a favor da democracia, como quando garantiu transporte funcional e gratuito para as votações do segundo turno nas eleições 2022. Também falou da persistência da instituição em atuar em instituir políticas de igualdade e defender temas como direitos da população LGBTQIA+, aborto legal, cotas raciais, entre outros.

“É importante estimular esse tipo de reflexão, falar sobre a atualização do modelo democrático que vivenciamos no Brasil. Precisamos ser vigilantes”, alertou a defensora pública geral, Firmiane Venâncio.

Lançamento

Durante o evento, Jean Wyllys também lançou o livro intitulado “O que não se pode dizer: Experiências do exílio”, onde relata os detalhes da convivência fora da pátria, em um tipo de exílio diferente dos que sofreram artistas como Caetano Veloso e Gilberto Gil na Ditadura Militar, em que o escritor usou as redes sociais para se manter atuante na militância de direitos humanos, mesmo enfrentando dificuldades.

“O livro é um documento de memória sobre a história recente do Brasil. Precisamos produzir essa memória, porque conhecemos o país, e sabemos como os vencedores reescrevem a história e nos apagam”. Para Jean, a Defensoria é a instituição do Sistema de Justiça mais democrática.

Jean Wyllys

Jean é mestre em Letras e Linguística, pesquisador da Open Society Foundation, professor-visitante na Universidade de Harvard e doutorando em Ciência Política na Universidade de Barcelona. Autor de cinco livros, entre os quais “O que será” (publicado pela Objetiva, em 2019), ativista de direitos humanos, em especial na área dos direitos da comunidade LGBTQIA+, vencedor de prêmios internacionais por sua atuação intelectual e política e membro da lista das cinquenta pessoas que mais defendem a diversidade no mundo, feita pela revista The Economist.