COMUNICAÇÃO

Nudem participa de mobilização pelo fim da violência contra a mulher

29/11/2013 19:10 | Por

"É preciso tomar as rédeas da própria vida. Mas se não buscar ajuda, não consegue se libertar". Essas são as palavras que Norma Vitória diria para uma mulher que estivesse passando por uma situação de violência doméstica ou familiar. A então costureira participava, na tarde de segunda-feira, (25), do Rede na Praça. O evento promovido pela Rede de Atenção a Mulheres em Situação de Violência em Salvador e RMS aconteceu na Praça 2 de Julho.

Com banners, distribuição de material informativo e peça teatral, os integrantes das entidades que compõem a Rede chamavam a atenção para a violência contra a mulher. "Temos que convocar a vítima de violência para fazer a denúncia e mostrar a ela que existe uma rede que se propõe a acolhê-la. E também, incitar a sociedade como o todo a combater esse tipo de violência", explica a Ludmilla Ramos do Centro de Referência Loreta Valadares.

A atividade faz parte da campanha internacional 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra Mulheres. Período que, no Brasil, se estende do dia 20 de novembro (Dia da Consciência Negra) até o dia 10 de dezembro (Dia Internacional dos Direitos Humanos). "São 16 dias de intensificação das atividades de combate à violência contra a mulher. Dias para mostrar à sociedade o quanto os dados desse tipo de violência são alarmantes", explica a defensora pública, Firmiane Venâncio.

Segundo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), 38% das mulheres vítimas de homicídio no mundo foram mortas por seus parceiros, e 42% das vítimas de violência física ou sexual praticada pelo parceiro sofreram lesões como consequência. Somente em 2012, o Núcleo Especializado na Defesa da Mulher da Defensoria Pública da Bahia - NUDEM, atendeu 4.058 mulheres vítimas de algum tipo de violência.

"Dentro da Rede de Atenção, a Defensoria Pública é responsável por promover a atenção jurídica à vítima. Medidas protetivas, pedidos de divórcios, alimentos, toda a atenção jurídica é dada pela Instituição àquelas que não podem pagar por advogados. É muito importante irmos às ruas para divulgar o serviço e falar da existência desta rede", pontua a defensora.

"Parece que eu gostava mais dele que de mim" - Uma das mulheres, que está nas estatísticas da violência, é costureira Norma Vitória citada no início do texto. Ela conta que viveu durante 13 anos com um homem que a ameaçava constantemente, mas somente um ano após ter-se separado foi que a violência física aconteceu. "Eu era muito dependente dele, financeira e emocionalmente falando. Parece que eu gostava mais dele que de mim", conta.

Após denunciar o agressor, Norma recebeu assistência psicossocial, que considera ter sido importante para que refizesse a sua vida. "Acho que se eu não tivesse tido essa ajuda eu não conseguiria. Sem ajuda, a gente não consegue se libertar". Hoje, com a vida refeita, Norma trabalha como costureira e diz ter um bom relacionamento com o ex-companheiro. Para aquelas que sofrem com algum tipo de violência, ela recomenda que faça a denúncia e "tome as rédeas da própria vida".

A pesquisadora da UFBA, do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM), Cândida Ribeiro, afirma que, apesar da existência e divulgação da Lei Maria da Penha, o problema da violência é muito complexo. "Questões financeiras, emocionais e relacionadas às crenças estão imbricadas nesta problemática. A atuação do machismo e do patriarcalismo ainda é muito forte em nossa sociedade", afirma.

Ela conta que, durante sua pesquisa para o mestrado, acompanhou casos de mulheres que não denunciavam o agressor por amá-lo. "Elas só iam à delegacia quando eles começam a ameaçar a vida dos filhos".

Violência no ambiente doméstico - A representante do Sindicato das Empregadas Domésticas, Creuza Maria Oliveira, chama a atenção para o fato de que, ainda hoje, muitas mulheres são vítimas de violência no ambiente de trabalho. "Quando a agressão ocorre no ambiente privado é mais difícil de provar se não houver lesões. Muitas empregadas também não sabem que são amparadas pela Lei Maria da Penha, mas sempre aconselhamos que seja feita a denúncia", diz.

A defensora explica que a Lei protege tanto a violência que ocorre no espaço doméstico quanto no familiar. "Uma empregada doméstica que é agredida no local de trabalho, uma mulher agredida no ambiente familiar e uma estudante violentada estão igualmente amparadas pela Lei", comenta Firmiane. No entanto, no primeiro caso, a violência pode ser caracterizada como assédio moral, e ser registrada na Delegacia do Trabalho, e também como violência doméstica, com registro da ocorrência na Delegacia da Mulher.