COMUNICAÇÃO
Plano de governo do novo presidente eleito dos EUA reforça a importância de investir na Defensoria Pública
Em sua carreira profissional, Joe Biden deixou um escritório de advocacia para ser defensor público
Um dos compromissos elencados no plano de governo do norte-americano Joe Biden, eleito presidente dos Estados Unidos no último sábado (07), é o investimento na Defensoria Pública daquele país. Na seção destinada às prioridades que a nova gestão deve dar para a Justiça estadunidense, o documento sugere o aumento de recursos para a Defensoria como uma possível resolução para eliminar as desigualdades raciais e para garantir sentenças justas para a população.
O plano considera ainda que, para criar um sistema criminal mais justo, é necessário que os indivíduos que não podem pagar um advogado tenham representação de qualidade. Mas avalia que os recursos e o apoio dos defensores são muito descentralizados e de difícil acesso no momento.
Problemas semelhantes também acontecem no Brasil, que carece de defensores públicos principalmente nas comarcas de cidades no interior dos estados. Na Bahia, por exemplo, a Defensoria Pública só atua em cerca de 25% das 203 comarcas ativas.
Advogado, Joe Biden já deixou um grande escritório de advocacia – onde representava pessoas ricas – para ser defensor público e dar assistência jurídica às classes mais populares. Como representante de uma nação tão influente internacionalmente, a expectativa para as Defensorias no Brasil é que isso fortaleça a ideia de “Justiça para todos”.
Para o defensor público geral do Estado da Bahia, Rafson Saraiva Ximenes, o apoio explícito à Defensoria Pública no plano de governo do novo presidente dos EUA é um indicativo de que as pessoas e as lideranças políticas no mundo estão reconhecendo mais a importância da instituição. E compreendendo que não existe democracia efetiva se as pessoas não puderem procurar uma forma de defender os seus direitos e resolver os seus problemas jurídicos.
“Se alguém não tiver o direito de reclamar uma violação por não poder contratar um advogado, não podemos chamar isso de democracia jamais. Por isso, cada vez mais está se fortalecendo o modelo de assistência jurídica gratuita, fornecida pelo Estado, e com regime de dedicação exclusivo”, considerou o defensor-geral.
Sinal para o mundo
De acordo com Rafson, a proposta de Joe Biden de investimento maciço na Defensoria Pública nos EUA chama a atenção. “Sabendo da relevância que os Estados Unidos desempenham no cenário das relações internacionais, é uma proposta importante do ponto de vista da defesa dos direitos humanos, como forma de melhorar o Sistema de Justiça e diminuir a criminalidade”, comentou.
Segundo o defensor-geral, há um caminho de democratização do acesso à Justiça sendo traçado de uma forma muito marcante na América Latina e no Brasil, que começa a ser discutido também nos países considerados mais desenvolvidos e com o nível de pobreza menos acentuado. Para ele, o planejamento de justiça de Biden reforça isso nos EUA de maneira muito importante.
“É uma sinalização positiva, de avanço, de que esse é o caminho correto, do qual todas as lideranças democráticas estão cada vez mais convencidas – como prova o programa de governo do presidente eleito. Interessante pensar nisso porque a própria Defensoria brasileira tem sido modelo”, avaliou Rafson. Para ele, embora o modelo defensorial norte-americano seja diferente do Brasil, o plano indica uma vontade de mudança para que se assemelhe mais ao tupiniquim.
Ele acrescenta que a Defensoria da Bahia tem sido, com frequência, visitada por pesquisadores estrangeiros para estudar a assistência jurídica prestado no estado. Recentemente, a DPE/BA foi procurada para que o seu modelo de atuação institucional fosse tese de doutorado em universidade da Califórnia. Também foi visitada pela Defensoria Pública do Chile, que buscou conhecer o trabalho, visando aplicar a atuação institucional e administrativa ao modelo chileno.
No Brasil, é a Emenda Constitucional (EC) nº 80 que determina que os serviços da Defensoria Pública sejam prestados em todas as unidades jurisdicionais brasileiras até 2022. O marco legal completou 6 anos em junho passado. Rafson Ximenes considera a democratização do acesso à justiça um caminho sem retorno.