COMUNICAÇÃO
Projeto ‘Articulando Redes’ é retomado pela Defensoria e aborda reforma psiquiátrica, pandemia e papel dos trabalhadores da área
De iniciativa da equipe de Saúde Mental da DPE/BA, o projeto reúne, capacita e articula profissionais e gestores que atuam no campo da Saúde Mental
Neste mês em que a saúde mental fica ainda mais em evidência com a campanha ‘Setembro Amarelo’ e que vem sendo motivo de alerta e de cuidado desde o início do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus, a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA retoma o projeto “Articulando Redes”, que segue com seu objetivo de articular e fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial e, por enquanto, devido à pandemia, realizará os encontros de forma virtual.
“Foi pensando, justamente, neste fortalecimento que surgiu a ideia do Articulando Redes com o objetivo de fomentar o diálogo e a articulação entre os movimentos sociais, trabalhadores e gestores que atuam na Rede de Atenção Psicossocial. Estamos retomando o projeto, pela primeira vez, em formato virtual, para seguir as discussões sobre a Reforma Psiquiátrica, este tema tão importante para as pessoas que militam e trabalham no campo da saúde mental”, explicou, na abertura, a mediadora do encontro e uma das coordenadoras da Especializada de Proteção aos Direitos Humanos da DPE/BA, Eva Rodrigues, que também destacou o trabalho realizado pela equipe de Saúde Mental da Defensoria.
Com o tema “A Reforma Psiquiátrica em tempos de pandemia: pontos e contrapontos”, o projeto foi retomado na tarde desta quarta-feira, 16, com transmissão na página e canal da Defensoria Bahia no Facebook e Youtube, e teve como convidado o médico da Prefeitura de Santos, em São Paulo, professor da Universidade de São Paulo – USP e que atuou como coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde entre os anos de 2011 e 2015, Roberto Tykanori Kinoshita.
Medos e incertezas
No início da sua abordagem, o médico e professor destacou que um dos reflexos da pandemia é a diminuição do espaço social e que isso impacta na vida dos usuários e trabalhadores da Rede de Atenção Psicossocial em todo o Brasil. “A circulação das pessoas nas cidades ficou restrita e isso, de fato, reduz as oportunidades de sociabilidade, de encontrar e conversar, e concentra as pessoas nos espaços domésticos, que pode trazer efeitos variados, seja de tranquilidade ou de conflitos por estarem todos juntos em casa”, afirmou o professor.
Ainda de acordo com Tykanori, a pandemia traz, também, medos e incertezas. “Não é só o medo de morrer por causa do vírus, mas também a incerteza sobre como vamos seguir vivendo, em termos de modo de organização da sociedade, e como vai se dá a questão da economia e o desemprego gerado, que desencadeia a fome, o desamparo e a solidão”, acrescentou.
Na opinião do professor, além dos medos e incertezas, a pandemia impôs um ritmo de trabalho aos trabalhadores da Rede, principalmente os que atuam nos Centros de Atenção Psicossocial – CAPS, que abre espaço para que eles possam refletir sobre os seus papeis na interação entre as pessoas e na construção de um consenso.
“Queremos normalizar, normatizar, controlar, fazer um tratamento em liberdade ou emancipar as pessoas? A essência do nosso trabalho não é trazer as pessoas para dentro da realidade, mas construir espaços de interação, entre os usuários e seu entorno, que sejam consensuais. Precisamos criar condições para que as pessoas consigam cooperar e realizar ações juntas. Portanto, o que nos cabe, enquanto trabalhadores de saúde mental, é prestar a ideia de que é necessário coordenar ação e emoção, gerando realidades compartilhadas em que as pessoas seguirão adiante”, explicou.
Novamente destacando o papel da equipe de Saúde Mental da Defensoria, que há um ano passou a atuar neste campo e fazer parte da Rede, a mediadora Eva Rodrigues afirmou que esta questão de conciliar ação e emoção para criação destes espaços consensuais é um desafio e que faz parte dos objetivos da equipe.
“Intuitivamente, nós, da equipe de Saúde Mental da Defensoria, temos buscado isso, pois nossa atuação é muito pautada junto e com reuniões com os movimentos sociais. Estamos fomentando a criação de um Fórum Municipal de Saúde Mental para maior discussão, o próprio tema da Reforma Psiquiátrica vem sendo pautado pela Defensoria e temos buscado nos aproximar dos outros atores do Sistema de Justiça para que possamos, juntos, fazer esta construção coletiva, conjunta e que seja, de fato, efetiva”, garantiu a coordenadora.
Muros e limites
Um dos comentaristas desta edição, o professor Antônio Nery Filho comparou todas as reflexões e linhas de pensamento de Tykanori com verdadeiros jogos e partidas de xadrez, pela lógica e raciocínio, e de golfe, pelas sinalizações e bandeiras levantadas. “A Reforma Psiquiátrica deveria levar em consideração não a derrubada pura e simples dos muros, mas a derrubada dos limites desta construção social proposta e que os muros impedem”, sugeriu o professor.
A outra comentarista, a professora Edna Amado, destacou que estas reflexões apresentadas são importantes para a prática da saúde mental e também falou sobre a realidade. “Quando acolhemos e atendemos o paciente com transtorno mental temos que aprender com ele, escutar e tentar entender a realidade dele e, a partir daí, discutir esta questão da coordenação da ação e da emoção. O profissional precisa ver, diante dele, não apenas diagnóstico ou sintomas, mas o sujeito em si”, aconselhou a professora.
Durante a transmissão, o que não faltou também foram outros comentários sobre o tema e o projeto. “Parabéns à DPE por esse espaço de tanto riqueza e compromisso com a saúde mental construído em Rede”, parabenizou Rosa Meire. “Ouvir esses profissionais fantásticos fortalece minhas convicções. Acredite!”, acrescentou Ana Christina Andrade. “Excelente live!”, resumiu Tânia Nogueira. “Já estava com saudade desses encontros”, revelou Gibson Cavalcante.