COMUNICAÇÃO

RETROSPECTIVA 2020 – Do transporte público às comunidades quilombolas, relembre as ações da Defensoria durante a pandemia

23/12/2020 19:45 | Por Rafael Flores - DRT/BA 5159

Defensoria faz centenas de recomendações, requerimentos, ofícios, visitas técnicas em combate ao coronavírus

O ano de 2020 foi marcado pela surpresa da pandemia do novo coronavírus levando a humanidade a se reorganizar e adotar com urgência medidas sanitárias de segurança para conter a transmissão da doença e, assim, a Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA também precisou se reinventar e dedicar esforços, nesse período ainda em curso, a atuação voltada para reduzir os impactos na população mais vulnerável.

Diversas consultas, recomendações e ações foram realizadas para proteger direitos fundamentais e básicos. De 23 de março, quando adotou o trabalho remoto, até 25 de novembro, foram promovidas 338 medidas de cunho coletivo, entre recomendações, requerimentos, ofícios, visitas técnicas, habeas corpus, agravos e outras ações. Relembre abaixo algumas dessas iniciativas da instituição.

Comércio

Foto: TV Recôncavo

A DPE/BA emitiu algumas recomendação para cidades baianas conterem o avanço da contaminação pelo vírus. Foi solicitado que a prefeitura de Santo Antônio de Jesus reforçasse a fiscalização do comércio local, que vinha descumprindo medidas de segurança. Outro exemplo aconteceu em Santo Amaro da Purificação, onde a instituição orientou o lockdown, que foi acatado por sua Prefeitura Municipal.

Transporte Público

A redução da frota dos sistemas municipais de transporte público ou mesmo sua suspensão total foi uma das medidas adotadas em muitas cidades baianas. No entendimento da Defensoria, a decisão favoreceria a aglomeração de pessoas e consequentemente a proliferação do coronavírus, além de dificultar o acesso dos cidadãos aos serviços de saúde.

Desta forma, em cidades como Ilhéus, Itabuna e Salvador, a instituição dialogou com as administrações municipais via recomendações para adequação destas medidas. Já em outras cidades, como Pintadas, Baixa Grande e Jacobina as recomendações focaram na obrigatoriedade do uso máscaras e a disponibilização de álcool em gel para motoristas, cobradores e usuários.

Merenda Escolar

A merenda escolar representa para muitos alunos a oportunidade que eles têm de se alimentar. Muitas famílias contam com a refeição que seus filhos fazem na escola, não tendo como arcar com o aumento de despesa de alimentação do período em que os filhos permaneceriam em casa com a suspensão das aulas.

Com este cenário, a Defensoria emitiu recomendações e acompanhou a elaboração de políticas alternativas para garantia da alimentação dos estudantes, tanto para Secretaria de Educação do Estado da Bahia – SEC quanto para as redes de ensino municipais no interior baiano. Em Feira de Santana, por exemplo, foi possível assegurar o direito aos 52 mil alunos da rede pública através de uma atuação considerada inédita em parceria com a Defensoria Pública da União – DPU.

Abastecimento de água

Uma das principais medida de prevenção à COVID-19 pela Organização Mundial da Saúde – OMS é a lavagem constante das mãos e maiores cuidados de higiene com a própria casa. Assim, a luta pela garantia do serviço essencial de abastecimento de água para toda a população baiana foi intensificada. Uma das primeiras articulações foi o acordo com a Embasa, para que a empresa não cortasse o serviço por falta de pagamento.

Outra iniciativa importante e histórica neste sentido, foi a abertura de um canal para que a população pudesse informar problemas de abastecimento. A partir de um formulário, ainda disponível no nosso site, foi possível mapear a falta de água em diversos pontos da Bahia e observar, por exemplo, que segundo dados do formulário dos 163 bairros de Salvador, 106 tiveram uma incidência maior do problema durante a pandemia. Mais de duas mil pessoas preencheram o formulário relatando falta de acesso à água.

Direito à moradia

Uma das principais orientações para o combate à pandemia é ficar em casa. No entanto, a atuação firme da instituição foi necessária para garantir que comunidades não fossem retiradas de suas moradias durante a crise sanitária. Em Camaçari, por exemplo, a DPE/BA encaminhou recomendação para que a desapropriações, como as das famílias que possuem casas nas margens do Rio Camaçari, fossem suspensas enquanto durar a pandemia.

O ano também ficou marcado pela atuação da Defensoria em defesa da comunidade Nova Canaã, em Santo Antônio de Jesus. Em últimos movimentos, a DPE/BA conseguiu garantir a permanência das famílias no local até o fim de janeiro de 2021.

Comunidades Quilombolas

Uma força-tarefa foi montada para atuar em favor das comunidades quilombolas, que vivem da produção dos seus próprios alimentos para sobreviver. Dos 178 municípios com quilombos na Bahia, a Defensoria possui atuação em 44 deles e, através deste trabalho, também alcançou 134 municípios que ainda não contam com a abrangência da Instituição.

Para intervir em favor dos direitos destas comunidades foram enviadas recomendações para os gestores desses municípios. Entre aquelas sem Defensoria instaladas foram obtidas respostas em 31% dos casos. Já entre as cidades com comunidade quilombolas que contavam com unidades sede da Defensoria (44) foram recebidas respostas de 41% destes. Dentre as solicitações, destacam-se as pela garantia do acesso à saúde e à manutenção da segurança alimentar, bem como o controle do acesso às comunidades a fim de conter a propagação da Covid-19.

Garantia dos direitos de pessoas presas

A preocupação com o direito das pessoas que cumprem medidas restritivas de liberdade no sistema penitenciário baiano não diminuiu com a pandemia. As Defensorias Públicas Estaduais de todo o Brasil e do Distrito Federal, por meio de aval dado ao Grupo de Atuação Estratégica das Defensorias nos Tribunais Superiores – GAETS, ingressaram com pedido de habeas corpus coletivo no Supremo Tribunal Federal – STF em favor das pessoas integrantes de grupos de risco para a Covid-19, que estejam presas em locais acima de sua capacidade e que não tenham praticado crimes com violência ou grave ameaça.

Foto do Conjunto Penal de Feira de Santana, tirada durante visita da Defensoria

Em setembro uma Ação Civil Pública, com pedido de tutela antecipada, foi ajuizada pela DPE/BA com o objetivo de garantir imediatamente o direito de visitas de todas as pessoas presas, de forma provisória ou definitiva, no sistema penitenciário baiano. Antes disso, em Feira de Santana, garantiu o direito à compartilhamento de informações aos familiares sobre o estado de saúde dos presos diagnosticados com coronavírus e também a retomada do banho de sol para os internos em isolamento no Conjunto Penal da cidade.

Entre outras ações, esteve a recomendação de testagem de todas as pessoas presas de Santo Antônio de Jesus, após a confirmação de um caso positivo de um custodiado na delegacia do município. Em Itabuna, a Justiça acatou os argumentos legais de ação da Defensoria que pedia a garantia do direito da remição de pena para presos afastados das atividades de trabalho e estudo.