COMUNICAÇÃO
Salvador registra pior estrutura de rede de atendimento a adolescentes em situação de rua
Pesquisa apresentada no 7° Encontro do Grupo acolher foi realizada entre 2012 e 2016 com jovens de três capitais
Apesar do empenho e dedicação da grande parte dos educadores e profissionais que atuam nas instituições de atendimento, Salvador apresenta a pior estrutura das redes de atendimento a crianças e adolescentes em situação de rua entre as três capitais onde foi realizada pesquisa entre 2012 e 2016, com 111 jovens, pela professora e pesquisadora Juliana Prates. O resultado da pesquisa, desenvolvida em Salvador, Porto Alegre e Fortaleza com o tema " O impacto da rua na vida dos adolescentes" foi apresentado nesta segunda-feira, 29, durante o 7° encontro temático do Grupo de Estudos Acolher, da Curadoria Especial da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA. Mesmo com a deficiência na infraestrutura, com falta de suporte governamental, a rede continua sendo um ponto de proteção para crianças e jovens em situação de rua, avalia a pesquisadora.
Juliana Prates afirma que a cidade de Salvador, embora costume ser pioneira em tecnologias e redes de cuidado com essas crianças e adolescentes, não consegue sustentar essas instituições. "Salvador inova e suas criações são referências para muitos outros locais do país, mas o atendimento é muito precário. Nós, pesquisadores, por exemplo, funcionamos como fontes de informação para essas instituições em muitos momentos. Vemos uma ausência de capacidade da rede de proteção para manter atualizados os seus dados", afirma. É muito comum conselhos tutelares sem telefone, internet ou carro para que os Conselheiros realizem suas atividades.
Processos de higienização e gentrificação, que envolvem uma mudança de comportamento urbano prejudicial à população de rua, também foram apontados pela pesquisadora como alguns dos problemas a serem encarados no cuidado, principalmente, com crianças e adolescentes. "A cidade é muito hostil à população de rua. Além disso, o vínculo com as instituições é frágil. Uma vez que a instituição deixa de estar presente para atender o indivíduo que precisa é suficiente para que essa pessoa que precisa da instituição não confie mais", lamenta.
PESQUISA
A pesquisa acompanhou 111 jovens de Salvador, Porto Alegre e Fortaleza, com idades entre nove e onze anos. Dentre este jovens, 80,5% eram do sexo masculino o que, segundo a pesquisadora, reflete a realidade das ruas das cidades. "As meninas, quando adentram a rua, vêm de uma situação de extrema violência. É a última opção para elas", acredita. A pesquisadora afirma também que o relativamente longo período de pesquisa possibilitou responder mais questões sobre a situação dos jovens. "A rua não é apenas um fator de risco, mas, muitas vezes, um fator de acolhimento que o adolescente procura quando já vive uma vida de violência e violações dos direitos. A criança só procura a rua quando já teve uma experiência prévia com ela e se sentiu acolhido de alguma forma" ressalta.
A defensora pública Ana Virgínia Rocha, titular da Curadoria Especial da Criança e do Adolescente, ressaltou a importância do conhecimento sobre a realidade para uma atuação mais efetiva. "Se queremos ser, de fato, um agente modificador da realidade social, não podemos apenas resolver os casos pontuais que aparecem. A atuação da Defensoria Pública vai além desta que remedia, a atuação judicial. Temos que agir preventivamente, identificando as principais violações de direito. E é isso que a universidade está nos trazendo", acredita.
Na pesquisa, foi constatado que a rua é um dos principais refúgios de jovens que se encontram em extrema situação de vulnerabilidade, seja em casa, por motivos de morte dos pais e violência, seja para fugir de conflitos ocasionados pelo trafico de drogas.A professora e pesquisadora responsável pela condução da pesquisa, Juliana Prates, lembra que o jovem em situação de rua não é apenas o morador, mas aquele cuja vida é diretamente impactada pelas ruas. "É aquele indivíduo que passa boa parte de sua vida na rua, que trabalha e mantém com ela relações de proximidade. A pesquisa busca entender os fatores de risco e proteção que afetam o desenvolvimento destes jovens e verificar os motivos que o levaram aquela situação", afirma a pesquisadora.