COMUNICAÇÃO
Segunda edição do Cine Debate da DPE/BA dá voz a mães de vítimas de violência do estado
Evento foi realizado nesta sexta-feira, 20, na Sala Walter da Silveira em Salvador
Em 24 de outubro de 2014, Ruth Fiuza viu o filho sair para comprar pão sem saber que aquela seria a sua despedida. David tinha 14 anos e foi abordado durante uma operação da Polícia Militar no bairro de São Cristovão, onde morava com a família em Salvador. Seu corpo nunca foi encontrado.
A história desta mãe não difere das personagens apresentadas no documentário “Auto de Resistência”, exibido nesta sexta-feira, 20, na segunda edição do projeto Cine Debate da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA na Sala Walter da Silveira, também em Salvador.
O filme narra sobre os homicídios praticados pela polícia contra civis, no Rio de Janeiro, em casos conhecidos como “autos de resistência”.
Membro do Movimento Mães de Maio, Ruth Fiúza participou do evento como debatedora, ao lado da socióloga Vilma Reis, do policial civil e membro do coletivo Policiais Antifascismo Kleber Rosa, do defensor público Maurício Saporito e da diretora do documentário Natasha Neri. Ainda foi convidada a compor a mesa Ana Maria Cruz, mãe do ativista Pedro Henrique, morto em janeiro deste ano por policiais da cidade baiana de Tucano.
Foi a primeira oportunidade que a mãe de David teve de debater na cidade em que seu filho foi assassinado. Ela já esteve no Rio de Janeiro, em São Paulo e até em outros países falando sobre o caso.
“Conheço todas as pessoas que estão ali no filme, de conviver e saber suas histórias. Em Salvador não tenho tanto este acesso, mas acredito que a partir de hoje isso vai mudar, pois muitas pessoas já me procuraram e acredito que partiremos para a luta coletiva.“, afirma.
Kleber Rosa concorda que a articulação popular seja um dos caminhos para pressionar o poder público a alterar sua política de segurança pública. “Não há saída que não seja pela organização política, é preciso fazer o que essas mães estão fazendo, se organizar para pressionar”, comenta.
Com a cartilha “O que você precisa saber sobre abordagem policial” da DPE/BA em mãos, Vilma Reis também chamou o público para a ação.
“Eu acredito que em um auditório deste lotado com pessoas comprometidas, ouvindo tanto a diretora do filme, quanto a militância que se organiza dentro da polícia, quanto as mães que se organizam, significa que a gente possa, em cada bairro, levar esse material da Defensoria. Se a gente veio aqui, a gente precisa sair com tarefas”, convoca.
Natasha Neri considerou a iniciativa da DPE/BA muito importante: “Fiquei muito feliz de que daqui tenham saído ideias para organização popular e sensibilização do sistema de justiça e muito orgulhosa de ver essa militância dos grupos da Bahia”.
Relatório das Audiências de Custódia
O defensor público Maurício Saporito foi o responsável por fazer a ponte entre os dados apresentados no recém-lançado Relatório das Audiências de Custódia da Comarca de Salvador/Bahia e a realidade apontada pelo filme.
“São hipóteses que temos no nosso dia-dia, que a comunidade de jovens negros são presos, e a gente comprovou isso com uma pesquisa empírica apresentada no relatório e este filme também constata que eles são mortos! Já sabemos que há um genocídio de uma população, quando o estados os mata e quando o estado os deixa se matar”, explica o defensor.
O relatório foi feito a partir de análise das informações de 17.793 custodiados e revela um padrão alarmante – grande parte dos assistidos são homens (94,2%), negros (98,8%), jovens (68,3%), com ensino fundamental incompleto (54,6%) e renda inferior a dois salários-mínimos (98,7%).