COMUNICAÇÃO

Selo estimula empresariado a inserir população de rua no mercado de trabalho

04/08/2016 1:35 | Por Jéssica Carvalho (Estagiária)

 

Iniciativa inédita é uma parceria da Defensoria Pública da Bahia, Euzaria e Movimento de População de Rua

O pote de balas vazio foi a forma que Silvano Oliveira, de 37 anos, encontrou para conseguir acesso aos coletivos e poder se deslocar pelas ruas da cidade. A busca constante por um emprego formal é intercalada pelos momentos em que ele consegue comprar os doces e vendê-los nos ônibus. Dessa, forma, consegue ajudar a filha de 11 anos e restaurar as esperanças. “Estou há muito tempo parado e preciso sair dessa vida. Quando eu tenho dinheiro para botar a ‘guia’, eu trabalho. Quando não tenho, fica mais difícil. Meu interesse aqui é esse: arranjar um emprego”, afirmou.

Silvano é um dos possíveis beneficiados no projeto ‘Selo Empresa Amiga da Rua’, criado pela Defensoria Pública da Bahia – DPE/BA e pela marca de roupas e acessórios Euzaria, em parceria com o Movimento de População em Situação de Rua. Apresentado nesta quarta-feira, 3, na 2ª edição do Conversa de Rua, o selo é uma iniciativa pioneira que encoraja as empresas de Salvador e Região Metropolitana a promoverem capacitação, assistência e inserção da população de rua no mercado de trabalho. A ideia é chamar os empresários a se mobilizarem e voltarem sua atenção para as pessoas que estão nesta situação, lhes oferecendo oportunidades de desenvolvimento profissional.

A defensora pública Fabiana Miranda, da Equipe Pop Rua, lembra que a demanda veio de questões pontuadas por pessoas que participaram da 1ª edição do Conversa de Rua. “Em nosso primeiro encontro, essas pessoas identificaram que a principal dificuldade era a do trabalho e da renda. Não só a dificuldade de serem contratados, mas de encontrarem recursos para conseguir algum dinheiro e, com isso, sair das ruas”, explicou.

Para Kiko Kislansky, um dos sócios-fundadores da Euzaria, o objetivo é permitir que as políticas saiam da esfera da capacitação e possam apresentar resultados efetivos para a população de rua. “A gente quer mostrar que essas pessoas podem trabalhar, ou mesmo liderar uma empresa. Elas não devem ser enxergadas como alguém menor. Essas pessoas, além de capazes, estão famintas por experiência”, declarou.

Líder do Movimento de População de Rua, Maria Lúcia pontuou a importância da estratégia diante de um cenário de dificuldades e hostilidade. “Precisamos criar formas de combater a discriminação e o preconceito para que o nosso público tenha oportunidades de crescer. Costumamos dizer que não existem pessoas com maior certificado de capacitação profissional do que a população de rua. Muito fácil culpar quem está em uma situação de extrema pobreza e não ao sistema que não acolhe”, lamentou.

Aos 44 anos, e desempregado há três, Edmilson Gomes reconheceu o impacto que a iniciativa pode oferecer. “Estou sem emprego, mas tenho esperança. Só tenho a agradecer à Defensoria por dar espaço à nossa população que já foi muito rejeitada e marginalizada. A sociedade hoje está disposta a nos ajudar e isso é muito bom, porque as calçadas foram os últimos lugares que sobraram para nós”, afirmou.

REDE

Empresariado, sociedade civil, instituições governamentais e sociais estavam representados nas 115 pessoas que participaram do encontro, todas dispostas a debater e encaminhar soluções para a questão do trabalho e renda para população em situação de rua. Representantes do SIMM – Serviço de Intermediação de Mão de Obra, SESC – Serviço Social do Comércio, SEAC –Sindicato das Empresas de Asseio e Conservação da Bahia e da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, além da Fundação Gregório de Matos e Fundação José Silveira estiveram presentes.

José Hilton, representante do SEAC-BA manifestou interesse na plataforma digital a ser desenvolvida para o projeto que possibilitaria um contato direto entre empresas contratantes e pessoas em situação de rua. “É uma proposta que facilitaria muito a tarefa de empregadores. Minha intenção é que, a partir de hoje, tenhamos uma reunião com representantes de empresas para apresentar o selo”, garantiu.“As instituições públicas devem absorver essa população. Considero a proposta tão simples, mas essencial. É uma ideia que deve ser repercutida nos poderes públicos e viabilizada em todas as esferas”, defendeu também a vereadora Vânia Galvão.

SELO

O Selo “Empresa Amiga da Rua” é um estímulo à promoção do acesso a direitos como trabalho, educação e renda para as pessoas em situação de rua. As empresas convidadas poderão se habilitar à certificação e poderão ser habilitadas a partir de uma análise feita por uma comissão que avaliará o comprometimento da instituição com a inserção de pessoas em situação de rua no mercado de trabalho.

Durante a atividade, peças de roupas foram doadas a pessoas em situação de rua pela Euzaria. Para cada peça comprada na marca, uma é doada ou tem parte da verba destinada a ações sociais para grupos em situação de vulnerabilidade.