COMUNICAÇÃO

Semana da Defensoria 2013 – Campanha Crack? Só de Esporte! é lançada em Salvador

16/05/2013 20:49 | Por
Os mais de 1.000 estudantes da Escola Estadual Humberto Castelo Branco, no bairro de Periperi, contaram com uma atividade especial na manhã desta segunda-feira (13). No lugar de livros didático, cartilhas educativas. Em vez de um professor na sala, a aula foi de esporte.

A Escola foi a primeira instituição a sediar o lançamento da campanha da Defensoria Pública da Bahia, em parceria com o Instituto Popó Freitas, Crack? Só de Esporte! A parceria entre as duas instituições visa levar, preferencialmente, ao público jovem, informações e relatos de experiências profissionais que possam estabelecer uma nova perspectiva de compreensão sobre o consumo abusivo de substâncias psicoativas.

A atividade começou no início da manhã, na Escola de Periperi, e reuniu a defensora pública geral da Defensoria Pública da Bahia, Vitória Beltrão Bandeira, a coordenadora executiva das Defensorias Especializadas, Mônica Chritianne de Oliveira e os subcoordenadores das especializadas do Crime e Execução Penal, Alan Roque, da Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, Laíssa Souza, e de Proteção aos Direitos Humanos, Bethânia Ferreira - defensores públicos coordenadores da referida campanha. O time comandado pelo ex-lutador de boxe, Acelino Popó Freitas também compareceu à atividade e aproveitou para dar o seu depoimento sobre a importância da prática do esporte entre jovens e adolescentes.

"A Defensoria Pública e o Instituto Popó Freitas sempre estarão abertos ao diálogo sobre as drogas. Estamos aqui para começar um trabalho permanente de conscientização a respeito do tema e destacar que educação e esporte caminham juntos", afirmou Vitória Bandeira.

Ao dar o seu depoimento sobre por que escolheu o boxe como esporte a ser praticado, Popó lembrou os períodos difíceis da infância e adolescência, quando viveu em uma pequena casa no bairro da Baixa de Quintas. "Decidi que os exemplos a serem seguidos seriam os de grandes esportistas, como Holyfield, e não deixaria as pessoas me dizerem que não iria conseguir", afirmou o esportista. Como pugilista, Acelino Freitas ganhou quatro títulos mundiais, venceu 83 lutas como pugilista amador, foi campeão sulamericano e recorde de nocautes em lutas consecutivas.

A Escola Castelo Branco foi escolhida para sediar o lançamento da campanha por ser conhecida, no passado, por um vídeo divulgado na internet onde alguns dos seus alunos consumiam pó. A realidade, segundo, a diretora da unidade, Olívia Costa, no entanto, começou a mudar. "É com prazer que estou aqui hoje para mostrar o trabalho que estamos realizando junto com nossa equipe de professores, coordenadores e auxiliares. O objetivo é o de mudar o perfil da nossa escola - agora, ela será conhecida como o sucesso da periferia", afirmou a diretora.

Para o estudante Laércio Moura, da 7ª série, conversar com os adolescentes sobre o uso das drogas e incentivar a prática de esporte é uma boa ideia. "Falaria para uma pessoa que usa drogas para ela sair desta vida e não usar mais. Meu sonho hoje é ser jogador de futebol", disse.

ATUAÇÃO EM REDE

Depois da Escola Castelo Branco, foi a vez de a Defensoria Pública, Popó e sua equipe levarem a iniciativa para a Comunidade de Atendimento Socioeducativa - CASE CIA. Recepcionados pela diretora geral da Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC, Ariselma Pereira, defensores públicos, o ex-lutador e a Secretária de Desenvolvimento Social do Estado, Moema Gramacho, assistiram uma apresentação feita pelos próprios educandos sobre os efeitos das drogas, além de uma esquete desenvolvida pelo grupo Ágape.

"A campanha da Defensoria Pública vem em uma boa hora e é de extrema importância esta parceria entre a Instituição e a FUNDAC", pontuou Ariselma. De acordo com a diretora, 94% dos adolescentes internados ali praticaram atos infracionais em decorrência do uso de drogas. 95 jovens cumprem medidas socioeducativas na unidade atualmente. Na Bahia, são em média 550. A FUNDAC acolhe adolescentes entre 12 e 21 anos incompletos e é o órgão responsável pela execução da política de atendimento aos adolescentes envolvidos em ato infracional e em cumprimento das medidas socioeducativas de semiliberdade e internação.

É o caso de um dos jovens internados. Há um ano e nove meses, na CASE CIA por porte de arma e tentativa de homicídio, ele diz que o crime não valeu a pena e espera recomeçar um nova vida ao sair da Unidade.

Os representantes da Defensoria Pública aproveitaram a oportunidade para colocarem-se à disposição dos internos. Já Popó ofereceu aparelhos de boxe a fim de montar uma espécie de academia para os adolescentes.

PRESÍDIO FEMININO

A terceira etapa da programação de lançamento da campanha ocorreu no presídio feminino da Penitenciária Lemos de Brito. Cerca de 60 internas participaram da atividade. Num pequeno auditório improvisado, foram exibidos os vídeos da campanha e anunciadas algumas ações da Defensoria, como, por exemplo, a designação de um novo defensor para atuar naquele estabelecimento prisional.

No centro das atenções, o ex-lutador Popó fez um depoimento sobre sua trajetória, na tentativa de sensibilizá-las para a construção de uma nova vida, depois de cumprirem as suas penas. Em meio aos calorosos aplausos, que pontuaram a sua fala, Popó acabou se emocionando quando se referiu à relação entre mãe e filho. "Não deixem de perder a esperança, pois seus filhos não têm culpa de sues atos. Eu tenho uma dívida muito grande com a minha mãe, pois ela foi a minha principal referência", disse, com os olhos marejados.

O lançamento da campanha foi um dia depois do Dia das Mães, o que gerou um clima ainda mais simbólico ao ato. Um dos pontos altos da ação foi a apresentação do coral, composto por dez internas, ao cantar a música "É preciso saber viver", dos Titãs. No contexto de privação de liberdade, a letra da canção, com a interpretação autêntica do grupo, emocionou a todos os presentes.
Algumas internas reclamaram das péssimas condições de carceragem na unidade prisional. "Estamos aqui abandonadas, sem médico, sem atenção, com muriçoca e até barbeiro em algumas celas. Algumas presas estão aqui sem sequer citação, outras com penas cumpridas e ainda aqui", relatou uma interna que preferiu não se identificar.

Segundo o subcoordenador da Especializada Criminal e Execução Penal, Alan Roque de Araújo, "com a designação do novo defensor, a situação das internas será avaliada e acompanhada naquilo que for necessário e emergencial. Apesar de hoje estarmos aqui com outra função, não vamos deixar de assumir nossos compromissos institucionais com relação à população carcerária da Bahia".