O nome pode até ser ‘posse popular’, mas a sua nomenclatura foi redefinida com sucesso na Ouvidoria Cidadã da Defensoria Pública da Bahia. No dia em que a  DPE/BA apresentou a nova ouvidora-geral, Naira Gomes, o termo ‘posse’ foi muito além e escolheu palavras mais fortes na sua definição, como pertencimento, afirmação, luta e resistência. Ou poderia ser resumido com apenas uma palavra que traduz qualquer sinônimo de luta: mulher. Mais, mulher negra. Foi neste clima de empoderamento que encerramos a semana do evento ‘Mulheres Negras: raízes da luta, liberdade, justiça e direitos’, em parceria com o Núcleo de Equidade Racial da Defensoria, que culminou num emocionante encerramento, com a presença de diversos segmentos sociais.

Após uma semana intensa de reflexões, arte e palestras, a noite da última sexta-feira (21) reservou uma posse popular emocionante para todos, todas e todes que compareceram na Sede da Ouvidoria Cidadã, no Canela. Sob a proteção de Oxum, a nova ouvidora-geral, Naira Gomes, fez questão de entrar no salão principal acompanhada de outras 30 mulheres de diversos segmentos e lutas, incluindo a Defensora Pública Geral, Firmiane Venâncio. O cortejo empoderado entrou ao som do grupo feminino Maracatu Ventos de Ouro, que promoveu um ritmo ijexá dedicado a Oxum. 

A DPG, Firmiane Venâncio, abriu a celebração mostrando a importância e significado daquele momento tão representativo e reafirmou que a Ouvidoria Cidadã sempre preza pelas lideranças femininas. 

“Todas as vezes que nós temos essa renovação dentro da Defensoria Pública, revigora  as nossas energias, principalmente para quem já está há um tempo. A chegada de Naira vem nesse sentido. Precisamos também revigorar esse respeito pelo legado que foi construído e antecederam Naira. Nós andaremos de mãos dadas e, em alguns momentos, devemos conversar bastante. Eu sei que a Ouvidoria Cidadã chega onde muitas vezes defensores e defensoras públicas não conseguem chegar. E é exatamente por isso que Naira tem o meu maior respeito”, disse Firmiane.

Outras mulheres discursaram, como a presidenta da Associação dos Defensores de Defensoras Públicas do Estado da Bahia, Teresa Cristina Almeida, a ex-ouvidora da Defensoria, Sirlene Assis, a defensora membra do Conselho Superior, Flávia Apolônio, a ouvidora adjunta, Rutian Pataxó, entre outras mulheres  que abrilhantaram a noite. Sob saudações para sua orixá Oxum, Naira Gomes agradeceu a presença popular que lotou o auditório e garantiu muito empenho na sua gestão. 

“Aprendi com o Enquadramento Crespo que empoderamento, autoestima, política, afetividade e conhecimento são um processo.  Empoderamento é um desafio diário cotidiano que só tem resolução na coletividade.  Então, se o mundo desafia a gente todos os dias, a gente deve desafiar o mundo de volta. E é por isso que entramos em comitiva. É por isso que entramos num grupo de mulheres tocando para Oxum. Entramos juntas pra dizer que a construção coletiva feminina é revolucionária. E pra dizer que não há futuro sem as mulheres, sem os indígenas, quilombolas, ciganos… Nós não somos minorias. Somos maioria, sim”, assegurou Naira. 

A posse popular foi o encerramento de uma semana de muita cultura e arte. Entre os cinco dias do evento ‘Mulheres Negras: raízes da luta, liberdade, justiça e direitos’, promovido pela Ouvidoria da Defensoria, em parceria com o núcleo de Equidade Racial da Defensoria, trouxemos diversos debates, como o tema  ‘as mulheres e a terra, compartilhamento de saber, lutas e esperanças’. A mesa foi mediada pela subdefensora-geral, Soraia Ramos, e contou como convidadas a representante do Conselho Pastoral dos Pescadores, Maria da Conceição Pereira; a Coordenadora de espaço Cultural de Alagados na Secult/Ba, Jamira Alves; a pedagoga e membro do Coletivo Agentes Agroflorestais Quilombolas (AAQ), do Quilombo Santa Rosa dos Pretos no Maranhão, Zica Pires; a Yalorixá Mãe Jaciara Ribeiro; e a ouvidora-adjunta Rutian Pataxó. 

Na ocasião, foram discutidos questões como os conflitos diários vividos pelas comunidades pesqueiras quilombolas, que sofrem com degradação e o racismo ambiental, a intolerância religiosa, a importância da luta feminina, do seu autocuidado e da rede de apoio e solidariedade dessas mulheres, a conscientização dessa luta para os mais jovens, sua ancestralidade e empoderamento, a visibilização das mulheres negras e indígenas que necessitam demarcar seus espaços e lutar em meio a imposição e corrupção por séculos dos estereótipos machistas e racistas. Os debates foram gravados e estão disponíveis no canal oficial da DPE/BA do Youtube.

A celebração também foi uma alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra Afro-Latino-Americana e Caribenha, como também o Dia Nacional de Teresa de Benguela e da Mulher Negra, em homenagem à líder que comandou a luta do Quilombo de Quariterê, no século 18 – ambos comemorados em 25 de julho.