A cerimônia de posse popular de defensoras(es) públicas(os) é o momento simbólico em que, pelas mãos da sociedade civil, as(os) novas(os) membras(os) da carreira são empossadas(os). O ato acontece através da entrega do certificado de posse e, pelo protocolo, não há momento de discurso.

Mas em Cachoeira, primeira cidade do interior do estado a receber o evento que marca a conclusão do curso de formação, os representantes da sociedade civil aproveitaram a oportunidade para expressar anseios com relação à atuação das(os) ingressantes e fortalecer o início da caminhada.

Sensibilizado pelo ato criminoso que pôs fogo na estátua de Mãe Stella de Oxóssi, em Salvador, três dias antes da posse popular, o doté Marcelino Gomes de Jesus pediu à Defensoria Pública da Bahia (DPE/BA) cuidado com as comunidades de terreiro. “Nosso povo tem sido muito desrespeitado nesse estado, que é negro e religioso, um retrato de África”, afirmou o também agente de cultura que, na última quarta-feira, 7, fez a entrega do certificado à defensora Paula Caetité.

A ialorixá Mãe Meninazinha de Oxum teve a oportunidade de empossar a sua filha de santo Letícia Peçanha e juntas protagonizaram um dos momentos mais bonitos do evento. Antes de pegar o documento, tentando conter as lágrimas, a defensora pública se ajoelhou para pedir a bênção à sua mais velha, que além de parabenizá-la pela conquista, aproveitou a oportunidade para reforçar o papel da Defensoria como uma instituição do povo e para o povo.

“Nós precisamos desses jovens para a defesa dos nossos direitos. Eu vi muito interesse dessa turma em promover a Justiça e fiquei muito feliz de ter participado desse evento que foi muito importante para Cachoeira”, destacou a ialorixá.

A energia do encontro ancestral também marcou a posse popular do defensor Marcelo José Paiva Júnior, que recebeu o certificado das mãos da membra da Irmandade da Boa Morte, Jordânia Freitas.

“Eu senti no abraço que demos a emoção e a responsabilidade dele com a população e, nesse momento, falei exatamente o que ele precisava ouvir”, conta a integrante da confraria religiosa, que levou o recém empossado às lágrimas.

Segundo ela, as palavras sussurradas no ouvido do defensor público eram de fortalecimento e a ação integra um dos papéis desempenhados pelos membros das religiões de matriz africana. “Eu falei para ele que o céu é o limite, que essa era apenas a primeira conquista de muitas. Nós que somos de religião de matriz africana temos o papel de acolher e fortalecer nos momentos que as pessoas se sentem abaladas”, explicou.

 

Posse popular em Cachoeira

A presidenta da Associação de Mulheres do Quilombo do Tabuleiro da Vitória, Maria das Graças de Brito, recebeu posse popular em Cachoeira como uma mensagem às 16 comunidades quilombolas do município.

“Foi mais que simbolismo. Para mim, significou a humanização da instituição, o colocar em prática aquilo que deve ser a Defensoria Pública. Desejo que nossos ancestrais guiem a atuação dessas pessoas e que elas venham comprometidas com a defesa dos direitos do nosso povo”, completou.

Já o professor Fábio Batista Pereira classificou o momento como “emblemático”. Além de empossar o defensor público Daniel Bernardes, ele contribui com a formação de toda a turma com uma palestra sobre a história da Bahia e destacou que conhecer o processo histórico é fundamental para atuar sobre suas implicações.

“Trazer para Cachoeira a posse popular – um local com diversas referências de luta, comunidades quilombolas ativas e forte presença indígena – é algo histórico para todo o Vale do Paraguassu”, comemorou Fábio.