COMUNICAÇÃO

Tribunal de Justiça acata recurso da Defensoria, mas imóvel é demolido pela Chesf no bairro do Trobogy em Salvador

07/10/2020 17:43 | Por Júlio Reis - DRT/BA 3352

Tribunal de Justiça acatou argumentos da Defensoria para que imóvel não fosse demolido antes de avaliação das benfeitorias, porém Chesf demoliu antes de ser oficialmente notificada

Mesmo com decisão liminar do Tribunal de Justiça da Bahia – TJ/BA proferida em seu favor na noite desta segunda-feira, 5, a comerciante Araci dos Reis Mota não deixou de ver o imóvel comercial que construiu há mais de dois anos e meio ser demolido no começo da manhã desta terça-feira, 6, no bairro do Trobogy em Salvador.

A demolição foi promovida pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco – Chesf que também demoliu na ocasião outros seis imóveis, não necessariamente vizinhos um dos outros, na mesma área do bairro por onde passam linhas de transmissão elétrica. Assistida pela Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, Araci se mostrava bastante inconformada com a postura da Companhia Elétrica.

“Fui labutando e investi 20 mil reais para que eu e minhas filhas pudéssemos trabalhar aqui. Eles não permitiram nem que eu retirasse minhas coisas. Derrubaram com tudo que tinha dentro. Mostrei a cópia da liminar que me foi encaminhada pela Defensoria para o encarregado da Chesf, eles não quiseram tomar conhecimento. A Polícia Militar também não quis ler a decisão”, disse Araci do Reis

Presente no local das demolições durante esta manhã, o defensor público Adriano Pereira, explicou que a decisão do TJ-BA impedia a demolição especificamente do imóvel de Araci e de Marcos Amaral de Aquino. Ambos acionaram a Defensoria quando souberam do risco que corriam, enquanto os demais não se manifestaram na ação inicial, proposta pelo núcleo Cível da Defensoria, que não era de manutenção de posse, mas de suspensão para avaliação de indenização posterior.

“A Defensoria entrou com uma ação inicial contra a demolição imediata destes imóveis, que em primeira instância não foi acolhida. Recorremos e o Tribunal de Justiça acatou nossos argumentos para que os imóveis de nossos assistidos não fossem demolidos antes de uma avaliação das benfeitorias construídas para medir uma futura indenização. No caso de Araci, como o imóvel foi demolido, por questão de horas, se tornou inviável a avaliação. Agora vamos entrar direto com pedido de indenização”, comentou Adriano Pereira.

De acordo com o defensor público, poderia ter existido mais sensibilidade no trato da questão, uma vez que a decisão só não havia ainda sido oficialmente notificada à Chesf, o que ocorreu no meio da manhã e, ao menos, impediu a demolição da casa usada como residência por Marcos Aquino Ribeiro que também estava protegida pela decisão liminar do TJ-BA.

Para Araci, agora é hora de a Justiça fazer valer o seu poder. “Eles derrubaram se negando a tomar conhecimento e agir com prudência. Com a ajuda da Defensoria, espero que pelo menos a Justiça possa me indenizar por esse desrespeito à sua própria decisão. A Chesf nunca buscou informar nada, nem tentar uma solução amigável”, disse.

Poupado por questão de horas, com a notificação do oficial de Justiça tendo finalmente chegado aos encarregados da Chesf, Marcos Aquino, desempregado, explica que construiu sua casa no terreno para fugir do aluguel. “Não tinha condições de seguir pagando aluguel. Morava já por aqui e comprei este terreno na mão de um sujeito que antes o ocupava”, comentou.

A Defensoria Pública fez assinalar no recurso acatado pelo TJ-BA que a Chesf afirmou que não iria indenizar os moradores pelas benfeitorias, alertando assim que “além de não emitir uma notificação prévia e por escrito para a desocupação da área, com data definida, a empresa não cumprirá com sua obrigação”, já que só agora, passado mais de um ano, estava reclamando pela desocupação da área. Além disso, questionou porque neste instante diversos imóveis no mesmo local não eram objeto do interesse demolitório da Chesf, mas tão somente alguns em específico.

A assessoria de imprensa da Chesf foi procurada para se manifestar sobre o ocorrido, porém não respondeu até o encerramento desta matéria.