COMUNICAÇÃO
Tucano – Unidade Móvel chega à cidade e movimenta espaço da feira livre
Cidade ultrapassa média dos atendimentos em relação a outras visitas já realizadas e, dos 120 atendimentos realizados no dia, 48 foram coletas de sangue ou saliva para o exame de DNA
Todo dia é dia de feira de roupas e outros produtos na Praça Duque de Caxias, em Tucano, no nordeste baiano, mas, nesta quinta-feira, 26, a feira livre teve um atrativo especial: a Unidade Móvel de Atendimento da Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, que ficou estacionada no meio da praça e atraiu cerca de 120 moradores de Tucano e cidades vizinhas.
O relógio marcava 4 horas da madrugada e os primeiros feirantes começavam a montar suas barracas. Quem também estava ali, ansioso pelo atendimento na Unidade Móvel, foi o lavrador Marcos Meireles, 39 anos. Ele foi em busca de orientação jurídica sobre o que fazer para retirar seu nome do registro de nascimento da menina que ele pensava ser sua filha, pois o exame de DNA, feito em laboratório particular, provou que ela não era sua filha. “Na época, confiei na mãe dela quando ela disse que eu era o pai e registrei sem nem precisar de exame. Depois de um tempo, comecei a desconfiar que ela não tinha nada parecido comigo e resolvi fazer o exame. Deu negativo”, lembrou.
Parecido? A lavradora Ediana Macêdo, 37 anos, ouviu falar que, geralmente, os pés dos filhos são muito parecidos com os dos pais e encontrou uma forma diferente de tentar descobrir quem é seu pai, mas como os dois supostos pais são primos a tentativa de tentar decifrar pelos pés não deu muito certo. “Já olhei para os dedos dos pés deles ali e não consegui descobrir não”, revelou ela, que sonhou a vida toda em saber qual dos dois é seu pai e, para não perder a oportunidade única de realizar o exame de DNA gratuitamente, fez o exame com os dois. “Estou tão feliz. Vou aliviar o vazio que me consome e que dói muito há 37 anos. Um pai faz muita falta e é nas dificuldades que a gente passa na vida que um colo e um conselho fazem mais falta ainda. Já corri muito atrás de tentar realizar este exame com eles e nunca consegui. Agora, a oportunidade está aqui é hoje eu realizo este sonho e tiro esta dúvida”, contou.
Tirar dúvida
Dos 120 atendimentos registrados em Tucano, 48 foram coletas de sangue ou saliva para o exame de reconhecimento de paternidade, o que chamou a atenção da coordenação da Unidade Móvel. “Descobrimos que aqui em Tucano existe uma demanda extremamente reprimida de realização de exames de DNA, que permite que estes pais possam tirar a dúvida, assumir a paternidade e criar o vínculo afetivo com os filhos”, ressaltou o coordenador Márcio Marcílio.
Se era para tirar dúvida, a Unidade Móvel lá estava. E foi, justamente, na dúvida de quem é o suposto pai do seu filho de um mês de vida, que a estudante L.C.J., de 13 anos, chamou os dois rapazes com quem se relacionou para fazerem o exame de DNA. “Nem eu sei qual dos dois é o pai. Na dúvida, vieram logo os dois. Se não é um, é o outro”, determinou a estudante, que ainda não fez o registro de nascimento do bebê.
Que a Unidade Móvel coleciona histórias todo mundo sabe, mas em Tucano cada hora era uma novidade. Já pensou você procurar seus documentos e não encontrá-los porque alguém escondeu para você não conseguir ser atendido? O lavrador José Pimentel de Jesus, 43 anos, é a prova viva disso e não conseguia acreditar no que a atual esposa fez. “Não acredito que vou perder de fazer este exame de DNA com a menina por isso. É uma dúvida que nós temos e não vai tirar pedaço de ninguém saber se ela é minha filha ou não. É o DNA que vai dizer. Aí não tem erro”, constatou ele, que saiu correndo a procura de outros documentos de identificação na casa dos familiares. “Meu pai viu que ela mexeu nas minhas coisas ontem e disse que ia esconder”, lembrou.
Quem também não perdeu a oportunidade de ter a Defensoria em sua cidade foi a também lavradora Maria José Reis, 44 anos, mãe de 13 filhos e que luta pelo estabelecimento do valor da pensão alimentícia de um deles. “São todos do mesmo pai, mas ele dá pensão aos seis menores e não quer dar a mais um. Aí vim aqui saber o que posso fazer para ele também ter este direito”, contou.
“Voltem mais vezes”
Responsável pela ação social de Tucano, a secretaria municipal Auricele Guerreiro esteve presente durante a ação. “Foi uma sorte vocês terem escolhido visitar Tucano e agradecemos muito por isso. A população daqui é muito carente e precisa de defensores públicos. Que vocês voltem mais vezes”, convidou a secretária. Quem também acompanhou os atendimentos e conheceu como a Unidade Móvel funciona por dentro foi o controlador-geral de Tucano, Adriano Macêdo, que representou o prefeito Luiz Sérgio, que cumpria agenda de compromisso em Salvador.
Além dos servidores de Salvador, esta edição da itinerância contou com a participação do subcoordenador da 1ª Regional da Defensoria – Feira de Santana, Marcelo Santana Rocha, dos defensores públicos que também atuam em Feira de Santana, Manuel Portela Júnior e Wesley Sodré, e a defensora pública que trabalha em Salvador, Eliana Reis.
Maratona
A maratona de visitas sequenciadas da Unidade Móvel esta semana termina nesta sexta-feira, 27, quando o atendimento será realizado na Praça Nossa Senhora da Conceição, em Araci, que fica a cerca de 50 quilômetros de Tucano. O horário será das 8 às 12h e das 13h30 às 16h.