COMUNICAÇÃO
Expedição Sertaneja: Defensoria inicia articulação para capacitar conselho tutelar sobre registro civil de nascimento em Chorrochó
Ao longo do dia de atendimento, 87 pessoas tiveram acesso aos serviços da Defensoria da Bahia
Com um bebê de quase um mês de vida no colo, a agricultora Marisa de Santana, 28, foi uma das dez mães que buscou os atendimentos da Defensoria Pública da Bahia (DPE/BA) para fazer exame de DNA para reconhecimento de paternidade. Apesar da idade, o único documento que a criança possuía era a Declaração de Nascido Vivo – DNV fornecida pela unidade de nascimento. “Estou esperando terminar o resguardo para fazer a certidão de nascimento”, justificou a mãe após ser questionada sobre a ausência de documentação do recém-nascido.
A ausência de documento não impediu o acesso ao exame ofertado pela DPE/BA através da Unidade Móvel, que estacionou na cidade de Chorrochó no último dia 02 de junho. Mas, sem a certidão de nascimento, a criança não existe para o Estado e isso pode impossibilitar a efetivação de direitos, como o direito à saúde por meio do acompanhamento médico e vacinação. De acordo com informações recebidas pela Defensoria da Bahia, a subnotificação tem sido um problema frequente em algumas cidades no norte do estado.
“Muitas mães acreditam que se fizerem o registro sem o nome do genitor terão de pagar alguma taxa para incluir o pai no documento após reconhecimento. Isso é um erro. A averbação de paternidade é um procedimento gratuito que pode ser feito a qualquer tempo, seja ele feito por declaração voluntária ou pela existência de um exame de DNA”, explica a coordenadora do Núcleo de Gestão de Projetos e Atuação Estratégica, Cristina Ulm.
De acordo com a legislação sobre registro civil, os pais têm direito a solicitar a emissão da certidão de nascimento no cartório ou no local de nascimento da criança. O prazo para solicitação é de 15 dias após o nascimento da criança, mas os pais que moram a mais de 30 quilômetros de um cartório têm o tempo prorrogado para três meses após o nascimento.
Para enfrentar o problema do sub-registro, ainda durante a itinerância, Cristina Ulm iniciou uma articulação com os conselhos tutelares de Chorrochó e Abaré para capacitá-los sobre a importância do Registro Civil. “A ideia é munir as conselheiras(os) com as informações necessárias para evitar que as crianças deixem de ser registradas. Iniciamos o diálogo com representantes dessas cidades, mas a ideia é incluir o maior número possível de municípios para promover a educação em direitos e conhecer as demandas de cada localidade”, explica a defensora pública, que representa a DPE/BA no Comitê Estadual de Registro Civil.
Durante o dia de atendimento em Chorrochó, 87 pessoas tiveram acesso aos serviços da DPE/BA prestados pelas defensoras Cristina Ulm, Scheilla Nascimento e pelo defensor Sócrates Costa, que coordena a Regional de Paulo Afonso, além de equipe de servidores(as) . Além das demandas de exame de DNA, a população buscou a instituição para realização de divórcio consensual, retificação de registros, regulamentação de guarda, acordo de alimentos e outros.
Um dos casos emblemáticos atendidos na Unidade Móvel foi o de dona Maria Nascimento Silva, 72, que estava há, pelo menos, dois anos sem nenhum documento de identificação. Ela buscou a DPE/BA munida apenas com o cartão do SUS. “Eu acho que foi queimado em um incêndio que teve na minha casa, mas não lembro”, contou a idosa que apresentava problemas de memória e sequer lembrava o dia em que nasceu.
Para garantir a documentação de Maria, diversas instituições foram acionadas. “Buscamos contato com o Posto de Saúde e conseguimos o CPF. Com nome completo e CPF, entramos em contato com o Instituto Pedro Mello, em Salvador, que confirmou que a assistida já teve identidade e informou os dados de origem do RG”, conta o servidor João Mercês.
Através do Pedro Melo, a Defensoria verificou que a carteira de identidade de Maria havia sido feita a partir da certidão de casamento lavrada no Cartório de Chorrochó e expediu ofício para busca e emissão de 2ª via gratuita do documento. Por fim, Maria foi encaminhada ao SAC de Paulo Afonso, mais próximo da região, para tirar a 2ª via do seu RG.
Diálogos institucionais
A passagem da Unidade Móvel em Chorrochó também foi marcada pelo fortalecimento dos diálogos institucionais. Uma das articulações exitosas construídas durante o dia de trabalho foi o compromisso assumido pelo procurador geral do município, Paulo de Menezes, e pela assessora jurídica Claudiane Reis, quanto à alteração no nome do serviço de assistência jurídica prestado na cidade. Antes da conversa, eles utilizavam “Defensoria Pública Municipal”, uma nomenclatura inconstitucional, já que a Constituição só prevê a existência das defensorias estaduais, Distrital e da União.
Já com o juiz da Comarca, Dilermando Ferreira, a equipe da Defensoria dialogou sobre sobre interiorização dos serviços e as formas adotadas pela instituição para garantir a ampliação dos serviços, como a UMA e o Grupo de Atuação do Júri. “Estamos trabalhando com um equipe muito coesa e capilaridade imensa, levando os serviços da Defensoria em toda a Bahia, uma atuação que evita gastos do Estado com a nomeação de dativos”, ressaltou a defensora Scheilla Nascimento, que integra o Grupo do Júri.
Ao longo do dia de trabalho, o caminhão da cidadania também foi prestigiado pela equipe do executivo municipal, que além de agradecer a presença da instituição, tiveram a oportunidade de conhecer as iniciativas de educação em direito que podem ser implementadas na cidade. Como tradicionalmente faz nas cidades por onde passa com o caminhão da cidadania, a defensora Cristina Ulm apresentou a campanha Infância sem Racismo e a publicação “Eu Me Protejo” às autoridades locais. Visitaram a Unidade Móvel o prefeito Humberto Gomes; a secretária de Assistência Social, Ivone Gomes; a secretária de Educação, Silaine Nascimento; e o diretor de cultura, Henrique Carvalho.
Nossa expedição sertaneja pelo sertão baiano envolveu quatro municípios baianos: Pedro Alexandre, Jeremoabo, Rodelas e Chorrochó, com quase 300 atendimentos. Desde a nossa saída de Salvador, a Unidade Móvel de Atendimento percorrerá 1.337 quilômetros levando acesso à justiça aos lugares mais distantes dos grandes centros e que não possuem sede própria da Defensoria.
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